Ensaios sobre uma decisão

Comecei este ensaio como uma forma de confissão. Algo que não ouso aqui constantemente e nem tenho intenção de usar. Mas quis desenvolvê-lo dentro de um protótipo de algo onde eu pudesse desenvolver uma ideia, me colocando como exemplo apenas para compor o produto final. Espero que você, constante leitor, possa também decidir suas direções.

 

 

 

 

Essa decisão não se trata apenas de um tempo. É mais um momento particular necessário para mim, como pessoa que raciocina a partir das observações que faço. Esquecendo um momento ruim que passei e me dando a oportunidade de me respeitar mais uma vez, seguindo o curso natural das coisas – crescer, desenvolver e morrer. Talvez julguem como isolamento; outros podem supor se tratar de uma nova paixão, mas não é nada disso, o que decidi é que não preciso mais de tantas coisas que antes eu julgava essenciais.

 

 

 

Meu último dia, como pessoa banal, aconteceu numa casa de shows da cidade e por vários momentos fiquei vendo tudo do alto. E não me refiro hipoteticamente (pois o lugar tem um andar superior). Enquanto meus amigos estavam curtindo suas conquistas. Eu me festejava como uma espécie de despedida. Totalmente consciente. Completamente feliz e apesar de querer me isolar para que me minha mente se abrisse com relação a minha despedida daquilo e de outros lugares e desejos. Sozinho preferi ficar quase a noite inteira.

 

 

De onde eu estava vi paqueras mal sucedidas. Acompanhei brigas onde todos os envolvidos estavam errados, mas não sabiam disso. O contato entre estranhos que se conhecem de baladas e grupinhos segregados é cansativo. Não se investe em progressão humana, apenas na amostragem do momento. Quem sabe a melhor música, quem comprou o melhor carro. Meu Deus, já presenciei tanta coisa que poderia escrever um livro. Tantos experimentos que se eu contasse receberia um diploma honorário de observador-do-outro-perante-as-bobagens-da-noite.

 

 

 

A noite para quem decide vivê-la pode ser “desgastante”, porém é preciso saber curti-la. Sem caretices, é claro, mas com percepções (mesmo oscilantes por seus consumos indevidos). A noite é maquiavélica. Quantas vezes fiquei bêbado sem ao menos tomar uma única dose de Montilla com Coca. Existe um estado de embriagues inconsciente, onde a euforia alheia acaba influenciando nossa cabeça. Fazendo também participar do ilusório. Algo semelhante a um show muito esperado, onde a energia do todo mudasse a sua.

 

Todo mundo, um dia, deveria experimentar sentir a dopamina liberada pelo cérebro, fazendo com que entremos num estado de graça inconscientemente. A “loucura” é tanta que se assemelha a uma injeção de heroína, alegam alguns estudos. A sincronia entre as pessoas leva-as ao êxtase. Já passei por essa sensação algumas vezes. Mas fica um cansaço depois, algo louco do ponto de vista mental e físico. Assim, nossas decisões mais duras são as que trazem melhor resultado, porque elas doem muito, mas sobrevivemos.

 

 

 

 

As pessoas não são mais as mesmas. Os grupos são heterogêneos, mas formado por pessoas que querem a qualquer custo parecerem iguais umas as outras. Não faço mais parte disso e sozinho, em minhas renuncias, desminto as estatísticas. Compro uma briga interna diariamente, porque decidi abandonar o vazio que também me acompanhava em algumas festas. Levamos nossas parceiras e parceiros para um barzinho só para mostrá-los aos demais. Na verdade não é nada daquilo que os perfumes importados apresentam. Estamos também sozinhos. Cabe a nós decidirmos o impacto disso na relação.

 

 

 

 

O tempo para me redimir foi chegando aos poucos. Veio do comportamento repetitivo. Os mesmos lugares e principalmente as mesmas pessoas. As desavenças são as mesmas também e isso cansa! Todo final de semana dá de cara com quem gostamos muito, pouco ou para quem estamos “cagando e andando” (desculpa a palavra feia, mas perderia o fluxo do pensamento).

 

 

 

 

As decisões estão sempre em guerra com o comportamento repetitivo. Sair na hora certa é coisa de mestre, porque assim não se machuca ninguém, não nos auto-sabotamos e principalmente deixaremos o legado da falta. Tipo: ‘Olha eu estava aqui, fiz parte disso, dei minha contribuição ao vazio de suas vidas, mas basta! Se quiser pode sentir a minha falta. Eu deixo’. Aos desacreditados, não declaro nada. Sabemos o valor do silêncio bem colocado. Apenas observem que a decisão de me resguardar não representa nada supremo, quiçá divino. Percebi que as recompensas chegam mais rápido para quem sabe dosar a vida. “O saldo final de tudo foi mais positivo que mil divãs. Por isso não adianta querer (me) julgar””.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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