Chega de revolta juvenil. Já sei o que quero ser quando crescer e assim me permito a tal da alegria. Porque esta não se trata de uma satisfação garantida. Ninguém nasce rindo, a dor da separação no parto já por demais frustrante. A alegria tem de valer por si só. Não impõe nada, se aloja e proporciona um alívio. Um sorriso move muitos músculos da face e a alegria é mãe desse movimento todo, que comove cartilagem, pele e osso. Sentir alegria é bom e já tinha me esquecido disso há algum tempo.
Sei que a maioria dos ensaios aqui são densos, porém na crueldade das palavras está embutida a alegria. Rir da desgraça (coisa de brasileiro) é nosso triunfo maior. Não curto muito o modismo do verão, que propõe satisfação em tomar banho de mar e jogar bola no campinho da esquina. A alegria que sinto vem de coisas pequenas, muitas vezes internas e não comentáveis.
Sabe uma coisa que me deixa alegre? Meus amigos. Reuniões semanais com eles, ouvir seus problemas e fazer parte da vida e escolha dos mesmos, me deixa a ponto de chorar de exultação. A alegria é um pico momentâneo que gera abraços e beijos. “Só?”. “Só!”. A música também proporciona alegria. Ouço uma canção do Cartola e lembro-me do meu avô (Jaime Neto – o verdadeiro). Sinto o seu cheiro, vejo seus olhos azuis me olhando e quero cantar alto, para que ele saiba que o samba que ele curte também criou raiz em mim.
Talvez, o leitor não compreenda isso, porque cito algo pessoal, mas o que sei da alegria vem da satisfação do estar alegre. E quando não pensamos no que nos proporciona isso, acabamos curtindo a coisa toda de fora do ovo. O interessante é se melar na gosma e não saber o que é gema, nem clara. Porque alegria faz gemer de verdade. Conheço amigos que urram de alegria quando estão plenos. Aproveito esses momentos também e participo do coro, pois alegria é fazer parte “da bagaça”, pertencer ao mesmo lugar de todos e mesmo sendo diferente contribuir em emoção. Depois, ficam as ressacas morais e o resto que forma o fim.
Minha proposta aqui é amenizar as angustias de antes, porque existem épocas de alegria. Sabe todo aquele lance de sofrimento que gera sofrimento? Com a alegria acontece a mesma coisa. Um momento bom se transforma em meia dúzia, que vira um dia e por pouco, semanas, meses, anos… Ter alegria é ouvir Nando Reis, cantar que “aeronaves seguem pousando, sem você desembarcar. Pra eu te dar a mão nessa hora…” e mesmo na tristeza da música, sacar que alguém em sã consciência teve a sabedoria de escrever uma canção de amor triste, porém alegre. Entende?
O trabalho do compositor, do jornalista, do escritor, é feito disso: de alegres momentos que se tornam inspiração para a vida. A alegria que cito aqui é iluminação. Ultrapassa o visível. Isso é alegria pura, minha gente!
Sabe, sou alegre, algumas vezes, mas tenho um pé atrás com a felicidade, pois exigi mais força, dedicação uma constante procura que muitas vezes não nos leva a lugar algum. Não progride. Procurar a felicidade não deveria ser o norte das pessoas, mas o caminho (composto alegremente de situação corriqueiras). Por isso aproveito quando estou assim “em graça”, para rir mais, desejar bom dia a todos, saber que o pior por este momento cessou em minha vida.