Carta para Cristina

Você é minha heroína do momento. Não, nada muito extremo, mas a mudança que você resolveu dar aos seus dias, me deixou animado, enquanto amigo que sempre torceu por sua felicidade. Cris, quanta coragem terminar tudo assim, de forma rápida, semi-indolor. As pessoas acham que namoros, noivados e casamentos são eternos, e que por isso só, já cabe traição e afins. Você me ensinou que na vida nada pode ser assim tão definitivo e que quando a situação não agrada o melhor é cair fora, sem tréguas e algumas lágrimas.

Cristina, você não sabe, mas sempre a achei muito independente, sentimentalmente falando. Até mesmo quando você era insegura, apresentava uma coragem digna da safra das melhores mulheres do nosso planeta. Parabéns. Você não ter aceitado a traição do otário do seu noivo e assim acabar com tudo – da melhor forma possível. Se é que existe uma fórmula para isso.

Saiba que estranhei muito quando me telefonou dizendo que viria me visitar. Não que eu não tenha gostado, mas o motivo que lhe trouxe outra vez ao meu convívio, deixou um ar confuso, porém fiquei satisfeito. Achei você mais leve após a separação. Como teve a audácia de não aceitar o destino de ser uma Amélia para lutar contra todas as opiniões e assim sair vitoriosa? Isso é mágico. E o cara que lhe perdeu, um tolo.

Cristina, de noiva à separada é um passo muito grande e você está sabendo como andar neste caminho. De forma digna e honesta. Percebi que você não é do tipo que aguenta a traição, como forma de manter uma aparência para os seus. Muito menos acata a cara de pau alheia e se cala diante dos acontecimentos. Nunca fui noivo, mas acho que sua forma de pontuar o final foi exemplar, saiba disso.

Minha amiga, acho que envelhecer com sabedoria é isso mesmo. É você se manter firme diante de suas convicções, ainda que as mesmas estejam adormecidas. Cris, quando você me contou que seu noivo estava tendo um caso com outra mulher, cheguei a pensar que você não iria suportar aquela coisa toda e voltaria correndo pros braços do traidor. É que nós, homens, temos a ligeira impressão-boba de que as mulheres não conseguem ficar sozinhas, por isso são passivas diante de grandes comoções. Mas repito, você vem de uma safra boa de uvas.

Em minha família mesmo, tenho exemplo de algumas mulheres que beiraram a separação de seus casamentos, e por algum motivo superior, talvez a criação, desistiram do processo. Escrevendo isto pra você, lembro de minha mãe que de tão porra-louca esquentou um litro de óleo e jogou no peito do ex-marido dela, isto porque o cara tinha traído-a. herdei a passionalidade dela e a facilidade pra dizer verdades absurdas. Coisa de mãe para filho. Claro que não admito muito a violência, mas existem casos onde quebrar uma raiz de inhame no joelho da pessoa cai bem. É favorável ao acontecimento. Só alguns tapinhas não doem, né?

Querida, espero que você jamais venha fazer qualquer coisa dessas que escrevi acima. Acho que você não é muito de violência mesmo, mas mulher traída é janela aberta pro Satanás  e vocês são capazes de loucuras inimagináveis.  É claro que prefiro às maquiavélicas ao invés das maníacas e você se enquadra na primeira categoria quando o assunto é a escala das mulheres traídas.

A sua capacidade para ter depositado os três cheques, assinados pelo ex, foi digna de um filme de Woody Allen. Sabe aquela coisa de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa? Queria ter visto a cara do cidadão ao perceber sua conta bancária diminuindo. Tudo muito justificado, tudo muito simples e livre de qualquer suspeita. Eu sei que os três cheques eram pra ser gastos com a igreja do casamento próximo, com a festa e com a decoração. O que seu ex não imaginava é que você saberia muito bem usar cada página, incluindo um belo carnaval em Olinda. Pagaria um dos cheques pra ver a cara dele. Que castigo hein, traiu e como forma de pagamento, teve que pagar a festa para ex curtir com quem bem entendesse. Coisa de gente pós-moderna (risos). Sua família ficou sabendo desse ocorrido? Como seus pais ficaram com a sua separação? Deve ter sido no mínimo algo dolorido porque sei que seus eles são do tipo que acolhe o cara, e o aceita na família antes mesmo do papel passado e lavrado em juízo.

Olha só, quem perdeu foi ele, com certeza! E quem ganhou foram seus amigos que lhe tiveram de novo. Saiba que sentíamos tanto a sua falta, mas com seu sumiço – primeiro de cidade, depois de convívio – a coisa ficou meio parda, a amizade perdeu alguns tons. E isso é tão triste Cris, porque sei que amizade mesmo que não seja colorida deve ser nutrida de satisfações (em todos os sentidos).

Em nosso primeiro reencontro, pós sua separação, te achei mais mulher, porém a Cristina guria ainda está lá embutida em seus comentários ácidos e em seu jeito rápido de pegar as coisas. Adoro nossas piadas, porque parecemos uma dupla de comediantes sem graça. Apenas nós mesmos sabemos rir de nossas desgraças. E tenho notado você mais alegre apesar da amargura normal nesse tipo de caso.

Cris, acho que você tirou um peso de cima de suas pequenas costas. Ah, namorar um cara em plena sala de aula, estudando junto no mesmo curso, passando todos os dias olhando pro cidadão, noivando, marcando data de casamento…, Sinceramente, como seu amigo, digo que a melhor coisa que ele fez foi arranjar essa outra menina, que provavelmente não deve ter nem o segundo grau completo e ainda possui uma doença venérea arrepiante. É que nós, homens, gostamos de mulheres burrinhas e promiscuas mesmo. Cris você é mais inteligente que ele, tenho absoluta certeza e é pra casar e constituir família, com direito a tudo, num típico pacote suburbano de seriado americano.

Seja bem-vinda aos braços dos seus amigos, porque amizade verdadeira é mais cintilante que amores corrosivos. Venha me visitar o mais breve possível, porque quero lhe contar alguns segredos e mostrar as paredes coloridas do meu apartamento pra você.

Te amamos ( e falo em nome de todos do nosso antigo grupo, mas que permanecem com rostinhos jovens, ainda).

Beijos,

Jaime Neto. 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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