Hora de Caçar

Desde os primórdios, homens e mulheres precisam liberar a tensão sexual fazendo o que todo mundo já sabe. Na modernidade, para tanto, existem os aplicativos de smartphone que facilitam a vida de todos, transformando aventuras em situações prazerosas ou apenas em desastres do cotidiano. Algo bem normal para os dias de hoje.

Ele tinha acabado de sair de um casamento mediano. Entre namoro, noivado e igreja foram apenas dez anos. Com o fim, meio arranhado da relação, passou a se esquivar do amor, também ficou bloqueado para as conquistas sexuais. Mas como toda pessoa adulta, uma hora o tesão cobrou seu preço e o simples moço, separado, pai de dois filhos, entrou no cio, sem saber que no mundo atual dos solteiros (que se modifica a cada segundo), a coisa tinha mudado um pouco de dimensão.

Primeiro ligou para um amigo pedindo sugestões de aplicativos de relacionamento. Baixou uma cartela de opções: Tinder, Pof, Badoo, Happn, ParPerfeito. Passando ainda pelos aplicativos ditos gay: Grindr, Manhunt e Scruff. Queria explorar tudo literalmente! É aquela coisa: quando a sede é demais, se bebe de qualquer água. Estudando cada app e fazendo uma lista de como proceder, ele fez um perfil sério e um perfil para paqueras furtivas. Queria sair com mulheres, mas também não se privaria de conhecer outros homens na mesma situação que ele (encubados).

Dia após dia, as revelações foram mágicas. Descobriu que um era perfeito pra ser usado para algo mais duradouro enquanto outro para conversar e sondar boas pretendentes. Decodificou alguns amigos em comum, ditos héteros, fazendo pescaria em aplicativos gays, mas ficou na dele (pois estava sondando também). Encontrou amigas do trabalho casadas-super-oferecidas em aplicativos de encontros sexuais, bloqueou-as. Ao mesmo tempo em que ia sondando ia também conversando e desenrolando a vida.

Semanas depois se sentiu mais livre pra marcar um encontro no shopping com uma nova colega. Ao chegar ao local e esperar uns dez minutos além do combinado, a moça o encontrou. Bonita, educada, trabalhava numa empresa de prestígio na cidade, e solteira por opção. Ele se interessou, ela o convidou para uma pousada logo de cara. Como ele cuida do corpo, tem todos os dentes e nenhuma predominância de perda de cabelo, ela estava no lucro. Ele também, e transaram como dois estranhos transam: sem muitas palavras e zero afinidade. Gozaram quase que juntos. Ele achou o máximo, pensou que isso contaria pontos para um novo encontro. O que não aconteceu. Depois do casual-sex, a jovem sumiu e bloqueou-o sem nem dizer nada.

Primeira lição que aprendeu: nem sempre transar gostoso significa um segundo encontro. Ele foi uma presa fácil para ela (foi caçado)!

Prosseguindo os dias, e quase curado da estranheza sentimental do abandono moderno, ele resolveu marcar um jantar com duas primas que usavam juntas o mesmo perfil no app. Resolveu escolher um restaurante mediano, pois cavalheiro, pagaria a conta, porém, não queria investir num restaurante conceituado para impressionar desconhecidas. Conversa vai, bebida vem, ele descobriu que as meninas eram na verdade um casal que adorava ter uma terceira pessoa brincando entre ela. Surpreso, se propôs a aceitar a brincadeira e provar que macho que é macho come duas mulheres tranquilamente. Ficou esgotado. As garotas eram mestras em sexo triplo e deram um show de modernidade e exploração.

Segunda lição: não existe ninguém tão inocente assim usando apps. Às vezes “duas primas” na realidade não são “duas primas”. Podem ser duas ninfomaníacas portando vibradores cintilantes. Cuidado ao deixar-se explorar. O corpo tem orifícios muitas vezes inexplorados.

Passado o susto da experiência moderna, ele quis saber o que acontecia do outro lado de lá e efetivou seu perfil nos aplicativos gays. Estranhando a rapidez do negócio, foi convidado para uma orgia com quatro rapazes fortes, mas depois das “primas taradas” preferiu não arriscar. Conheceu um homem mais velho, tranquilo, estabilizado, e num piscar de olhos estavam velejando pelas águas calmas do Rio Sergipe. Como o novo colega era um político emergente do Estado, não seria uma experiência mortal visto que ninguém desejaria uma exposição da coisa em si. Foram para uma praia mais afastada e ele recebeu “o melhor sexo oral de sua vida”. Ao retornarem, ficaram de se encontrar um dia, mas depois de uns dias sem notícias percebeu que o tal político já tinha amigos demais para administrar.

Terceira lição: a curiosidade faz o aventureiro, mas navegar por rios desconhecido não significa virar um marinheiro.

Mais safo do que nunca, negociando paqueras com mulheres (quase nunca mais entrou em app gays), ele mantinha uma agenda de conversas no WhatsApp extensíssima. Mudou de celular, comprou um com mais memória. Tudo para administrar suas paqueras. Mas foi então que num sábado de tarde, sem nada pra fazer, com vontade de transar e sem ninguém disponível naquele momento, que ele resolveu ligar para a ex-mulher do nada, perguntando se as crianças estavam bem e se ele poderia passar lá pra matar a saudade que sentia delas. Foi mal intencionado e foi ficando para uma pizza, um jogo na tv e acabou, depois de algumas cervejas, preferindo aceitar o convite da ex para dormir no sofá.

Claro que acabou transando com ela, fazendo o melhor sexo que eles tiveram desde a primeira vez (quando tudo era novo para ambos). Transaram três vezes naquela noite. Ele deu o prazer que ela nem sabia existir, ensinou coisas que ela poderia fazer com ele, sem maltratar a moral masculina, depois fizeram joguinhos com sadismo e um pouquinho de dor. Não reclamaram de nada. Não falaram das contas, nem das notas dos filhos. Apenas transaram como velhos e bons conhecidos, só que modificados pelas experiências-pós-separação que ele adquiriu semanas atrás.

Na manhã seguinte (num domingo de chuva), ele foi até o apartamento de solteiro que morava arrumou as malas e voltou para a antiga casa, para a mulher e para os filhos. Enfim, virou um homem exemplar.

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