Há 41 anos, um dos principais grupos de teatro de Sergipe surgia. No dia 28 de agosto de 1977, a equipe que mais tarde viria a se chamar ‘Imbuaça’ surgia em Aracaju, inspirando e entretendo as pessoas em espetáculos adaptados da literatura de cordel. Nos dias de hoje, o grupo compreende sua situação como resistência e luta, mediante dificuldades de todos os níveis para manter viva a cultura popular.
Mesmo depois do início, o que marcou os jovens atores foi uma apresentação do Teatro Livre da Bahia, durante o Festival de Artes de São Cristóvão. A partir dali foi que houve uma determinação das características que marcariam diversas gerações da cultura popular sergipana. “Na época, o pessoal pensou: ‘é isso que a gente quer ser’. Foi essa a inspiração. Queriam fazer um teatro na rua, trabalhando cultura popular, pegando e devolvendo ao povo em forma de teatro. A gente transitou por diversos gêneros, mas procuramos nunca perder a questão popular. Se não estiver no texto, estará na indumentária, no figurino. O que delineia melhor a nossa identidade é isso”, contou Manoel Cerqueira, secretário e membro há 15 anos.
O Imbuaça começou a ser conhecido como ‘Aspektro’, mas houve a percepção de que o nome não ‘casava’ com a proposta. Baseados na morte de um espectador assíduo conhecido como Mané Imbuaça, tocador de pandeiro, os membros decidiram homenageá-lo e rebatizaram o grupo. “A gente sabia que tinha que mudar. O nome não tinha nada a ver”.
O grupo já realizou espetáculos em todos os estados do Brasil e também em outros países nos anos 80, como México, Portugal, Cuba e Equador. O passado glorioso para os artistas, porém, já não existe mais, e hoje o trabalho esbarra em inúmeras dificuldades. “Nosso trabalho é mantido graças às vendas dos nossos espetáculos. O que tem salvado nossa situação são os editais públicos, que são lançados pela Fundação Nacional da Arte (Funarte), vinculado ao Ministério da Cultura e beneficiam grupos. Fora isso, a gente se inscreve em festivais fora do Sergipe e fica tentando. É o que garante nossa sobrevivência. Aqui no Estado tentamos vender o espetáculo para empresas que promovem esses eventos e prefeituras municipais que fazem eventos de caráter cultural. Isso, porém, não nos dá estabilidade. A crise reduziu os editais. Por incrível que pareça, nos apresentamos mais em outros estados do que em Sergipe”, lamentou Cerqueira.
Recentemente, o Imbuaça foi contemplado, por meio de um edital da Funarte, com um novo sistema de iluminação cênica. O material anterior era amador e fruto de doações. Hoje, o grupo é composto por cerca de dez colaboradores, entre atores e técnicos. O único remanescente da formação original é Lindolfo Amaral, que hoje, além de atuar, ministra oficinais anuais de teatro junto com Manoel.
Antes de ocupar a atual sede, onde ficam depositados os materiais, acontecem as oficinas e ocorrem boa parte dos ensaios e apresentações. Até a ocupação do local, funcionou no prédio da rua Muribeca, nº4, no bairro Santo Antônio, uma escola da rede municipal até que foi desativada. A apropriação do então espaço abandonado aconteceu no ano de 1991. “Ainda foi sede da Associação das Margaridas, e aí ficou fechado. Depois, o então prefeito de Aracaju, Wellington Paixão, nos cedeu em regime de comodato. Estamos aqui até hoje. Antigamente, quem nos abrigava era o DCE da Universidade Federal de Sergipe (UFS), que ficava na rua Campus”, explicou Manoel.
O que endossa o firme trabalho é o último trabalho realizado, a ‘Peleja de Leandro na Trilha de Cordel’, que canta a história de Leandro Gomes de Barros, considerado por estudiosos o precursor da literatura de cordel. Ainda que precisando lidar com todas as dificuldades para se manter, Manoel não acredita que o Imbuaça perdeu o brilho, mas também espera por dias melhores. “É só entender que é tudo o tempo, o contexto. Todo fato, se você contextualiza, se entende melhor. O Imbuaça teve altos e baixos. Na década de 70, foi um grupo, e depois mudando. Sempre buscamos dialogar com as novidades. No início era todo mundo muito jovem, estudante universitário, não tinham grandes compromissos… era todo mundo abnegado. Éramos novidade, agora estamos só nos renovando. A questão é que nós desejamos que em Sergipe os órgãos que respondem pela cultura criem editais para que os artistas, de forma geral, de todos os segmentos e linguagens possam concorrer de forma limpa e democrática, que criem uma lei de incentivo para nos ajudar e que exista uma política mais séria. Não é que o Estado tenha que ser paternalista com os artistas, mas precisa de editais e que haja políticas culturais sérias”.
Comemoração
Mesmo diante dos problemas, há muito que comemorar. A celebração desta terça-feira, 28, começa com a inauguração da luz cenográfica doada pela Funarte, na sede do Imbuaça, às 20h, com o espetáculo ‘Mar de Fitas, Nau de Ilusões’, de concepção e direção de Iradilson Bispo. Na oportunidade, serão recebidas crianças de uma escolas da rede pública da Barra dos Coqueiros. A entrada é franca.
No dia 31, haverá uma nova apresentação às 17h na Aldeia Sesc, na praça Fausto Cardoso. De 3 a 5 de setembro, às 20h, acontecerão apresentações de exercício cênico dos alunos das oficinas de teatro.
Formações
A formação inicial do grupo, no primeiro espetáculo ‘Teatro Chamado Cordel’ era composta por Antônio Amaral, Cícero Alberto, Francisco Carlos, José Amaral, Lindolfo Amaral, Maria das Dores e Maurelina Santos. Com o passar do tempo, teve também outros grandes nomes como Valdice Teles, Pierre Feitosa, Isabel Santos, Fernando Fernandes, Izete Souza, Rivaldino Santos e Tetê Nahas.
Atualmente, fazem parte Carlos Wilker, Humberto Barreto, Iradilson Bispo, Lidhiane Lima, Lindolfo Amaral, Manoel Cerqueira, Priscila Capricce, Rosi Moura, Rogers Nascimento, Sandy Soares e Talita Calixto.
Por Victor Siqueira
Portal Infonet no WhatsApp
Receba no celular notícias de Sergipe
Acesse o link abaixo, ou escanei o QRCODE, para ter acesso a variados conteúdos.
https://whatsapp.com/channel/
0029Va6S7EtDJ6H43
FcFzQ0B