O falecimento de Marcelo Déda

Andreza Maynard

Doutoranda em História/Unesp
Membro do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

No dia 2 de dezembro de 2013 faleceu o governador licenciado de Sergipe, Marcelo Déda Chagas. A notícia não chegou a surpreender. Em tratamento desde maio deste ano, seu quadro de saúde se agravou no fim de novembro. Considerado um político moderno e atento ao uso das redes sociais, a ausência de notícias oficiais a respeito do quadro clínico do então governador decepcionou muitos sergipanos. De qualquer forma sua morte gerou grande repercussão no estado. Isso pôde ser visto tanto na presença das pessoas nas ruas, quanto nas manifestações de pesar registrada nas redes sociais.

Marcelo Déda nasceu em 1960, em Simão Dias, um município sergipano que fica a 100km de Aracaju, mas iniciou a carreira política na capital do estado. Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) em Sergipe. No decorrer da sua trajetória política, ele foi eleito para os cargos de deputado estadual, deputado federal, prefeito (2001-2006) e governador (2007-2013). Notável pelo domínio da oratória, pelo carisma e pela realização de obras que deram a Aracaju o título de “capital da qualidade de vida” (durante sua gestão como prefeito), Marcelo Déda representava uma mudança no quadro político sergipano.

Em 2009 e já como governador de Sergipe, Marcelo Déda foi diagnosticado com um nódulo benigno no pâncreas, que foi retirado em outubro de 2009 no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Em 2012 um novo diagnóstico revelou a existência de um câncer no sistema gastrointestinal. Marcelo Déda foi obrigado a se submeter a um tratamento quimioterápico e se licenciouo cargo de governador em maio de 2013. Nesse período ele esteve no mesmo Hospital Sírio-Libanês, onde recebeu visitas de familiares, amigos e companheiros políticos a exemplo de Luís Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma Rousseff.

Distante dos sergipanos geograficamente, a internet se tornava um canal de comunicação rápido e eficiente que poderia ter sido explorado pelo governador licenciado. No entanto o que se notou foi a ausência de notícias sobre o estado de saúde de Marcelo Déda. Ainda que estivesse licenciado para tratamento, esperava-se que fossem lançadas notas oficiais a respeito do seu quadro clínico, considerando que se tratava de uma figura pública. Ao invés disso, pairou o silêncio. E em decorrência disso, especulava-se o que iria acontecer mais adiante. Considerando que o câncer, e o tratamento para combatê-lo, afeta a pessoa em níveis tão diversos, Marcelo Déda optou por assumir sua condição de doente e tentou se preservar ao máximo.

Com a notícia da sua morte sendo veiculada por vários canais de comunicação, foi possível notar a repercussão dessa informação nas redes sociais. Sites, blogs, perfis de Facebook e  contas do Twitter manifestam notas de pesar a respeito do que ocorreu com o político sergipano. As investigações realizadas no campo da História Política não podem deixar passar esses registros. Tais dados se convertem em “fonte”, material a ser analisado pelos historiadores interessados em compreender os processos que envolvem as disputas de poder.

Essas mensagens disponibilizadas pelas pessoas na internet oferecem dados valiosos. Numa época em que os partidos políticos e o modelo de governabilidade brasileiro é tão criticado, as pessoas têm se apresentado como eleitores de Marcelo Déda. Entre o público mais jovem é comum encontrar comentários como “Foi para Déda o meu primeiro voto e a minha primeira experiência política…”. Outros declaram solidariedade à família, sem mencionar preferências partidárias. Mas a internet também se converteu num espaço para manifestações de ódio. Ao lado dos comentários que registram tristeza, existem mensagens comemorando o ocorrido e escarnecendo da morte de Marcelo Déda.

Enquanto historiadora e educadora, acredito que tais manifestações de ódio também devem ser consideradas pelos pesquisadores. É preciso diagnosticar o comportamento dos grupamentos humanos (sejam eles exemplares ou lamentáveis) para que possamos construir uma sociedade mais justa e igualitária. Independente de opções políticas, a convivência entre as pessoas só pode ser profícua quando existe o respeito à condição humana. E se até mesmo os animais irracionais demonstram respeito aos mortos, nós, na condição de seres pensantes, não deveríamos ter uma postura menos digna.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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