“The World of Tomorrow” X “O mundo de agora”

Andreza Maynard

Doutora em História pela UNESP. Pós-Doutoranda em História pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ). Integrante do GET/UFS/CNPq.

Credito da imagem: Disponível em <http://macx64.com/>. Acesso em 08/01/2014.

Entre 7 e 10 de janeiro de 2014 ocorre a Consumer Electronics Show (CES). Trata-se de um evento internacional, sediado em Las Vegas (Nevada-Estados Unidos), que apresenta as novidades tecnológicas que serão disponibilizadas no mercado. Das empresas de todo o mundo e dos mais de 3.200 expositores, espera-se telefones inteligentes e ainda mais rápidos, tecnologia para usar no corpo humano, TVs gigantes e com altíssima resolução e muito mais. Essa não é a primeira vez que um evento nos Estados Unidos tem a pretensão de mostrar o que há de novo ao mundo.

A fascinação dos norte-americanos por tecnologia tem uma relação forte com a história do país a partir do século XX. Guardadas as devidas proporções, as expectativas em torno do CES (2014) lembram a realização da Feira Internacional de Nova York em 1939, que prometia aos visitantes que eles poderiam ver “O Mundo de Amanhã”. Esse, aliás, era o slogan da Feira: “The World of Tomorrow”. O tom futurista da Feira Internacional de 1939 se devia a muitas de suas exibições, sendo uma das mais curiosas, a cápsula do tempo foi enterrada com escritos de Albert Einstein, Thomas Mann, milhões de páginas em microfilme, sementes de alimentos e outros objetos que só devem ser reavidos no ano 6.939. Na Feira de 1939 também foram apresentadas os primeiros aparelhos de televisão, um carro futurista desenhado pela GM. No meio do pátio que abrigava os expositores da Feira havia um planetário enorme em forma de globo.

Além dos próprios artigos, a Feira de 1939 propunha a exposição de itens de vários países. O Brasil foi um dos convidados. Segundo o historiador Antonio Pedro Tota, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer planejaram o pavilhão no qual foram exibidos pássaros raros da Amazônia, músicas, obras de arte, produtos de origem vegetal, minerais e alimentos. Dessa forma os Estados Unidos apregoavam uma política de reciprocidade baseada em firmar parcerias comerciais dentro do continente. As matérias-primas seriam fornecidas pelos países latino-americanos, que em contrapartida iriam adquirir produtos industrializados.

Ao contrário da Feira de 1939, que tinha um perfil político e admitia a presença de stands com artigos agropecuários, animais e minerais (o que, aliás, foi exibido por vários países, não apenas pelo Brasil), a CES que ocorre agora em Los Angeles tem um caráter tecnológico e mercadológico. Os expositores não são classificados de acordo com o país de origem, mas muito mais em função das 15 categorias em que o evento organizou os produtos. Estão incluídas invenções de grandes empresas de tecnologia, como a Microsoft, Sony, LG e Samsung, mas também inovações de jovens empresários, que terão a oportunidade de exibir suas invenções no Eureka Parque TechZone.

Dentre as sensações do CES estão as mega TVs, com tecnologia ultra HD, apresentadas pela LG e Samsumg. São aparelhos que apresentam uma curva, tem 105 polegadas e 11 milhões de pixels. Outra sessão esperada é a da que promete que o uso de tecnologia no corpo humano, a chamada “Tecnologia Wareable”. Além disso, há as novidades da impressão mais precisa e acessível em 3-D, tecnologia fitness, áudio e os celulares, que não poderiam ficar de fora. Foram apresentados smartphones com tela curvada e flexível, aparelhos que prometem aguentar quedas de 6 metros sem o risco de danos. Também há câmeras dedicadas exclusivamente às fotografias que alguém pode fazer de si próprio, os “selfies”.

Diferente da Feira Internacional de Nova York (1939), o CES (2014) não tem países e sim empresas expondo seus produtos. Não há a necessidade estratégica dos Estados Unidos se aproximarem de outros países, como ocorreu no fim dos anos 1930, quando a “política da boa vizinhança” permitiu o estabelecimento de relações mais cordiais com os demais países do continente. Nesse momento basta conquistar os visitantes do CES. A eles é prometido o mundo de agora, não o de amanhã.

Para saber mais:
TOTA, Antonio Pedro. O Imperialismo Sedutor: A americanização do Brasil na época da Segunda Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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