A moda nos anos 1950 e o corpo feminino

Andreza Maynard

Doutora em História pela UNESP

Membro do GET/UFS/CNPq

Os anos que sucederam a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foram marcados pela recuperação de muitos países e por uma crença de que os tão sonhados “dias melhores” haviam finalmente chegado. Os homens haviam retornado e as mulheres puderam reassumir suas funções domésticas, pois o esforço de guerra que as havia levado às fábricas e mesmo ao front, havia cessado. Nesse sentido a moda acompanhava a necessidade de restabelecer o lugar social das mulheres.

Os cortes retos, com ombros armados e a cor verde oliva, cuja inspiração vinha dos uniformes militares, davam espaço para uma nova concepção de perfil feminino. As criações dos anos 1950 foram extremamente influenciadas pelo estilo de Christian Dior, com a cintura marcada e saia plissada rodada.

Ainda em 1947 o estilista francês Christian Dior apresentou sua primeira coleção, que foi chamada pela editora da revista Harper’s Bazaar norte-americana, Carmel Snow, de “New Look”. O modelo símbolo da época, que seguiu pelos anos 1950, transformou-se no glamour padrão da época. O traje icônico consistia num casaquinho bege acinturado confeccionado em seda, com ombros naturais, uma ampla saia preta que ia quase até os tornozelos, luvas, sapatos altos e chapéu. A alta costura vivia seu apogeu e os modelos eram copiados por lojas de departamentos e por donas de casas habilidosas na arte do corte e costura. A mulher retomava seus afazeres domésticos e a responsabilidade de ser bela.

A vitória dos Aliados na Segunda Guerra proporcionou o bem estar econômico no mundo ocidental. A indústria norte-americana do setor do vestuário se tornava cada vez mais forte. E o consumismo invade o cotidiano, junto com as propagandas do “american way of life” (estilo de vida norte-americano). As criações européias, sobretudo francesas, eram divulgadas entre as brasileiras pelas revistas européias e filmes norte-americanos.

Os Anos Kubistchek foram marcados pela internacionalização da economia, com o desenvolvimento da indústria automobilística e têxtil. Além da construção da nova capital federal, Brasília (inaugurada apenas em 1960), nesse período também surgiu revistas como Jóia (1957-1969), Manequim (1959) e Desfile (1969), que apresentavam a moda dentro do estilo fabricado no Brasil, mas baseados em modelos europeus. Pela primeira vez as pessoas comuns podiam ter acesso às últimas tendências da moda criada por grandes estilistas.

A multiplicação dos meios de comunicação e a introdução da TV no cotidiano dos brasileiros, também iriam influenciar o comportamento da mulher. Mesmo com o surgimento de novos periódicos, a revista O Cruzeiro continuava ditando moda nos anos 1950. Entre as décadas de 1940 e 1950 O Cruzeiro passou a esboçar uma linguagem própria, mas o estilo feminino era o padrão internacional: cintura fina, quadris e seios bem marcados (com os sutiãs em forma de cone).

Não eram apenas as roupas, a maquiagem também restituir a feminilidade à mulher. Com o fim da escassez dos cosméticos no pós-guerra, a beleza se torna uma prioridade. Olhos bem marcados num rosto pálido contrastavam bem com os lábios em destaque e os cabelos tingidos. Muito embora a moda das revistas da época estivesse baseada na realidade climática e no tipo físico distinto do que se encontrava no Brasil.

E ainda que nem todas as brasileiras tivessem acesso a tais revistas, o que deixava a parcela mais humilde da população distante das últimas criações dos grandes costureiros e estilistas europeus, as classes mais abastadas se empenharam no esforço de acompanhar as tendências francesas. Dessa maneira, o “New Look” de Dior endireitava a postura da mulher, enquanto a saia lápis impedia a expansão do movimento das pernas. O universo e os interesses da mulher passavam a girar em torno dos assuntos mais femininos e domésticos. Tendências, looks, maquiagem e penteados passavam à ordem do dia, enquanto temas como escassez, guerra e política eram deixados de lado.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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