O integralismo no conto “A prisão de J. Carmo Gomes”

Caroline de Alencar Barbosa
Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe.
Integrante do GET (Grupo de Estudos do Tempo Presente)
Orientador: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard
Bolsista voluntária PIBIC.
e-mail: caroline@getempo.org

A ordem autoritária construída no Brasil na década de 1930 se estruturou com base no desenvolvimento de um imaginário anticomunista e de revolução. O integralismo foi por vezes representado como “Salvador da Pátria” e seus adeptos ficaram conhecidos como “camisas verdes”. Em seus discursos exaltavam o papel da família e o objetivo de reprimir qualquer atividade comunista.

Graciliano Ramos (1892-1953), escritor brasileiro do século XX em seu livro Insônia (1947) apresenta um conto intitulado “A Prisão de J. Carmo Gomes”. Nele Ramos reproduz os conflitos emocionais de D. Aurora, mulher integralista, em relação ao seu irmão J. Carmo Gomes, comunista.
No decorrer do conto podemos perceber nuances características do movimento integralista como: “os frequentadores dele viviam por aí à toa, escondidos, como ratos em tocas” (p.88), uma clara referência ao tempo em que a atividade integralista começava a ruir e seus integrantes passaram a ser perseguidos.

Em seguida percebemos a relação conflituosa do movimento integralista com o comunismo na passagem “eram os comunistas disfarçados em membros do partido, agentes de Moscou pagos para criar dissidência lá dentro” (p. 93). O movimento integralista que desprezava a ideologia comunista, vivenciava um sentimento de ameaça, já que dentro de seu próprio partido o “inimigo” agia.

O conto também explora a ideologia racial encontrada em alguns movimentos fascistas e incorporada forçosamente pelo integralismo, assim como a confusão entre as imagens do comunista e a do indígena: “As estampas representavam índios monstruosos, nus, de beições furados. Os revolucionários não se distinguiam bem deles: saqueavam, queimavam, destruíam” (p.96).

“O futuro do Brasil é verde. Verde, a cor das nossas esperanças, a cor das nossas florestas.”. O conto nos apresenta de que forma D. Aurora aderiu ao movimento dos “camisas verdes”, em um momento em que inimigos eram vistos de todos os lados e a vontade  dos adeptos do “Sigma”, a letra grega que simbolizava o movimento, de eliminá-los seduzira aquela personagem ao integralismo.

Sua frustração reside na tentativa fracassada do movimento de por fim ao comunismo, e se amplia pela constatação de que tal ideologia está presente em sua própria casa, pois seu irmão J. Carmo Gomes fora “corrompido” participando ativamente na disseminação de ideias socialistas.

Receosa das acusações de oportunismo por sua parte e de esconder o inimigo dentro de sua própria casa, D. Aurora acaba por denunciar seu irmão à Polícia.

Assim, em seu curto escrito, Graciliano Ramos consegue demonstra algumas das inquietações políticas pelas quais o Brasil passou nos anos 1930 oferecendo aos estudiosos do período uma proveitosa leitura das tensões daqueles dias.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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