Caroline de Alencar Barbosa
Graduanda em História na Universidade Federal de Sergipe
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS)
Bolsista PICVOL do projeto “Aracaju em tempos de conflito: Estudos dos espaços de lazer na Segunda Guerra” apoiado pelo Cnpq e pela /POSGRAP/COPES/UFS
Apoio dos projetos Memórias da Segunda Guerra em Sergipe (Pronem, FAPITEC/CNPq) e Quando a Guerra chegou ao Brasil: a submarinos e memórias mares de Sergipe e Bahia (1942-1945), (Edital Universal 2014/CNPq).
e-mail: caroline@getempo.org
Orientador: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard
Trabalho apoiado pelo projeto "Quando a Guerra chegou ao Brasil: Ataques submarinos e memórias nos mares de Sergipe e Bahia (1942-1945)", Edital Universal CNPq 2014.
Em agosto de 1942 diversos navios mercantes foram torpedeados entre os mares de Bahia e Sergipe. Seguido a esse fato, corpos mutilados, restos de cargas dos navios chegaram às praias de Aracaju causando medo e insegurança entre os moradores da pacata cidade que até então só recebia notícias da guerra através das notícias dos jornais e dos filmes exibidos nos cinemas. Os efeitos da guerra chegavam à cidade, que passou por diversas mudanças em seus hábitos cotidianos e no seu direito e ir e vir na cidade.
Estrangeiros e ex-integralistas foram presos, acusados de inimigos políticos, corpos das vítimas foram saqueados, estudantes saíram às ruas em protesto. A liberdade tornou-se algo limitado, os produtos de primeira ordem passaram a quantias irreais para a realidade da população como reflexo da dificuldade de abastecimento, que ocorria através da via marítima. A ação do governo de forma autoritária, os treinamentos de defesa antiaérea e o toque de recolher passaram a fazer parte do dia-a-dia. Porém, esses fatos não foram aceitos pelos citadinos que passaram a buscar maneiras de conviver com o conflito.
Driblando as ordens do toque de recolher as pessoas passaram a utilizar os espaços de sociabilidade da cidade como forma de escapar das amarras das limitações impostas pelo conflito. Trabalhadores, empregadas domésticas, mulheres da noite e até mesmo membros das classes mais abastadas tentaram a todo custo seguir com suas atividades normais.
Nesse sentido, percebe-se que Aracaju tonou-se um foco de resistências. Existem vestígios nos jornais locais, por exemplo, de que as festividades como o carnaval e o natal ocorreram mesmo após o episódio dos torpedeamentos. Os grandes clubes de Sergipe noticiavam seus bailes, as praças serviam de espaço para o namoro, os cafés eram os locais onde as notícias circulavam, as zonas do meretrício eram os lugares de encontros dos bêbados, das mulheres da vida e dos trabalhadores que buscavam nesses locais uma maneira de escapar da realidade.
Além desses, outro espaço comum de sociabilidade era o cinema onde a exibição das películas era uma oportunidade para manter as pessoas informadas sobre a guerra como podemos perceber em um anúncio feito sobre o filme “Uma noite na Ópera” (1935) exibido no cinema Rex onde consta a seguinte notícia ao fim da sinopse “No mesmo programa entrará também um novíssimo jornal da guerra atual com os últimos acontecimentos mundiais.” (Correio de Aracaju, 13 de Janeiro de 1943).
Portanto ao analisar os efeitos da Segunda Guerra Mundial em uma cidade como Aracaju, compreendemos como as pessoas foram atingidas ao terem suas vidas vigiadas e de que maneira elas ocuparam os espaços de lazer. Portanto, não podemos descartar esse episódio tão significativo para a história sergipana.
Este ano é marcado pelos setenta anos do fim da Segunda Guerra Mundial, portanto entendemos que esses fatos não devem ser esquecidos. É preciso relembrar as vítimas, as atitudes da população local frente ao conflito, os pracinhas que participaram do conflito, os que protestaram e até mesmo os acusados, pois todos consistem em agentes que contribuíram para construir uma memória local sobre os efeitos da guerra em Sergipe.