Maria Luiza Pérola Dantas Barros
Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe, vinculada aos projetos “Memórias da Segunda Guerra em Sergipe” (Pronem, FAPITEC/CNPq)
E-mail: malupedanbar@gmail.com
Trabalho apoiado pelo projeto "Quando a Guerra chegou ao Brasil: Ataques submarinos e memórias nos mares de Sergipe e Bahia (1942-1945)", Edital Universal CNPq 2014.
Toda vez que pensamos em “guerras”, imagens assustadoras sempre veem às nossas mentes: mortes em massa, cidades destruídas, economias arrasadas, inúmeros desabrigados, por exemplo. São atrocidades cometidas por seres “humanos”, e contra seres humanos, que, por mais que busquemos, nos custa encontrarmos algum real motivo que sirva para explicar tamanha violência.
Neste ano, o mundo relembrou dos 70 anos do término oficial da Segunda Guerra Mundial (08 de maio de 1945), um conflito que, sem sombra de dúvidas, serviu para mostrar ao século XX que a paz não teria espaço entre as nações envolvidas. Com o término deste conflito, além de todos os saldos negativos que uma guerra acarreta aos envolvidos, o mundo gradativamente foi conhecendo as atrocidades cometidas, antes mesmo do conflito ter início, em nome da união da Alemanha em torno de Hitler, o Terceiro Reich, e do ideal da “raça ariana”.
Durante a ascensão do Terceiro Reich, na Alemanha, todos os argumentos ideológicos e antissemitas já haviam sido internalizados entre os adeptos do nazismo, e qualquer oposição seria objeto de violenta repressão. Assim, grupos considerados indesejáveis pelos seguidores de Hitler foram executados em massa. Eram judeus, em sua maioria (cerca de seis milhões), além de militantes não alinhados, homossexuais, ciganos, eslavos, prisioneiros de guerra soviéticos, membros da elite intelectual, ativistas políticos, Testemunhas de Jeová, sacerdotes católicos e pacientes psiquiátricos, por exemplo. As atrocidades cometidas contra esses grupos, como os extermínios em massa dos judeus, cruzavam as barreiras dos campos de concentração, sendo motivo de comentários entre os moradores de regiões próximas, e até mais afastadas. Haveria, porém, algum “real” motivo para tamanho massacre?
Para os nazistas, marcados por uma profunda desumanidade dentro de uma estrutura administrativa militar de funcionamento perfeito, tais “assassinatos em massa” serviriam para manter a “ordem”, estando, pois, mais que justificados. Para os demais, regidos pelo regime, foi a indiferença em relação ao destino dos judeus, e das demais pessoas endereçadas aos campos de concentração, que prevaleceu.
Havia uma constante propaganda que contribuía para o baixo interesse pelo destino dado aos judeus. Pretendia-se criar uma unidade da nação alemã, em torno de um líder. Para tanto era preciso buscar um inimigo em comum, e os judeus preenchiam, para uma parcela da população, os requisitos de inimigo: eram estrangeiros, identificavam-se com o capitalismo e com o comunismo (pois grandes teóricos eram de origem judaica, a exemplo de Marx, Trotsky), possuíam uma religião específica, que não aceitaria interferências externas, além do que, ao serem deportados para os campos de concentração, eles deixavam para trás objetos de valor, que seriam destinados aos alemães, sendo por vezes até vendidos a baixos preços, gerando assim benefícios materiais para os que silenciavam em relação a tais assassinatos.
Muitas outras razões poderiam ser apontadas na tentativa de explicar a morte de tantos milhões de pessoas, porém nenhuma delas seria bastante para justificar tamanho crime, que está ligado à “concepção de mundo que nega qualquer possibilidade de contratipo ao seu tipo-padrão, e não à história específica de um povo”. Dessa forma, todos os crimes contra a humanidade cometidos pelo nazismo foram, em grande parte, possibilitados pela inconformidade homicida com a condição de diferença em relação aos ditos “padrões” adotados pela maioria.
Muitos de nós ainda imaginamos que tantos crimes cometidos contra seres humanos, apenas por pensarem, agirem ou serem diferentes do “padrão imposto” é algo restrito ao horror nazista, e que, portanto, nunca chegará até nós. Mas será realmente que toda esta negação à individualidade do outro já não está em nosso meio?
Saiba Mais:
RESNAIS, Alain. Noite e Neblina. França, legendado, preto e branco com partes em colorido, DVD, 32 min.
SPIELBERG, Steven. A lista de Schindler. EUA, legendado, preto e branco com partes em colorido, DVD, 3h 15 min.
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. O século XX: entre luzes e sombras. In: O século sombrio: uma história geral do século XX. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.