DOIS LARANJEIRENSES EM PARIS

Paris, capital das luzes, centro artístico e cultural do século XIX, acolheu em seus bairros boêmios a dois sergipanos de Laranjeiras: Horácio Hora, nascido há exatos 150 anos (1853-1890) e Cândido Faria, ambos artistas geniais, transbordantes, com seus traços além das telas. O Governo do Estado, atendendo sugestão do Conselho Estadual de Cultura, pela voz autorizada do seu presidente, o documentarista e historiador Luiz Fernando Ribeiro Soutelo, declarou 2003 Ano Horácio Hora, o que indicou uma atenção especial à vida e à obra do autor de Ceci e Pery, genial pintura romântica brasileira, e a preparação de um Álbum especial, dedicado ao artista, pela Secretaria de Estado da Cultura. Horácio Hora viveu muitos anos em Sergipe e visitou a terra algumas vezes, sempre produzindo obras que ficaram nas salas de visita das casas grandes das fazendas e dos engenhos de açúcar sergipanos. Ainda hoje estão na parede, de uma das casas do Belém, em Itaporanga, quadros de Horácio Hora, um deles um experimento, completamente diferenciado do conjunto de suas telas, influenciado, talvez, pelas cores parisienses. É uma pena que a idéia da Pinacoteca do Estado não tenha sido levada a sério e organizada para reunir, num local apropriado – o velho Palácio Olímpio Campos – as obras dos artistas sergipanos, de todas as épocas, e que estão dispersas por gabinetes de repartições públicas, ou em mãos de particulares, ou, ainda, misturadas em São Cristóvão, com outras obras numa sala. Também está em São Cristóvão parte do acervo de Horácio Hora, em original e em cópia, levada há anos da Casa de Laranjeiras, deixando uma ponta de tristeza e de mágoa entre os seus conterrâneos. Horácio Hora merecia ter um Museu próprio, que além de juntar a sua produção pudesse estimular a pesquisa e os estudos artísticos em Sergipe. O Ano que lhe foi dedicado não rendeu, lamentavelmente, uma homenagem definitiva, nivelada ao seu merecimento e a sua glória, que tanto repercutiu entre os sergipanos, como uma renda distribuída, que aumenta a prosperidade cultural da terra. Nas artes, Horácio Hora, Cândido Faria, Jordão de Oliveira, Oséas Santos, José de Dome, e mais recentemente Jenner e Antonio Maia, foram grandes como os da literatura, da crítica e do pensamento, liderados todos por Tobias Barreto, e inspiraram outros artistas, como J. Inácio, os irmãos Álvaro e Florival Santos, a seguirem na mesma tradição criadora. Não sendo possível organizar um museu para Horácio Hora, se poderia pensar em juntá-lo a outro laranjeirense, que viveu e morreu em Paris, coberto de glória, que foi Cândido Faria, um ilustrador, cartazista, artista completo que deixou obra vasta em jornais, revistas, cartazes, galerias e museus de várias partes do mundo. Cândido Faria (1849-1911) saiu de Laranjeiras para o Rio de Janeiro, onde colaborou em jornais e editou seus próprios periódicos ilustrados. Do Rio de Janeiro transferiu-se para Porto Alegre, continuando a desenhar e ilustrar, mudando-se para Buenos Aires e de lá para Paris, onde finalmente fixou-se, nos anos 80 do século XIX, para ser referência na arte da ilustração e do cartaz. Mais do que dividir fama e prestígio com outros artistas de Montmarte, e de Pigalle, Faria fez os primeiros cartazes dos filmes dos irmãos Phaté, nos momentos iniciais do cinema. Bastaria essa façanha de participar de uma revolução artística, de estar no lugar e na hora certos para deixar sua marca na história, para fazer de Cândido Faria uma referência. Seu nome, sua biografia, sua obra serviram de motivação a vários autores, como a Hermam Lima, na História da Caricatura, um livro fundamental que faz o longo registro no Brasil da charge, da caricatura, bem como dos artistas e seus veículos de comunicação. Lá está, com grande destaque, Cândido Faria, faltando apenas indicar o local e a data de nascimento. Laranjeiras de Horácio Hora era, também, a terra de Faria, nascido quatro anos antes, filho de um médico do Hospital – José Cândido de Faria – daquela que era, à época, a “Atenas Sergipense”. Horácio Hora, que morreu em Paris, teve seu corpo transladado, há alguns anos, por iniciativa do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, contando com as diligências de Soutelo e de Maria Thétis Nunes. Era prefeito de Laranjeiras Antonio Carlos Franco, que mandou fazer uma ermida em homenagem ao artista da terra, que voltava para o repouso eterno. Cândido Faria morreu também em Paris e está sepultado no cemitério de San Vincent, podendo ser igualmente trazido de volta, mesmo que sua família parisiense permaneça morando na capital francesa, liderada pelo seu neto Felippe Aragonez de Faria, que pensa em mudar-se para a Espanha. O Ano Horácio Hora poderia estender-se neste 2004, para ser de grande valia para as artes sergipanas, reconstituindo vidas e obras de dois artistas do passado, trazendo-as para as novas gerações, e firmando uma linha de trabalho que recupere a contribuição dos sergipanos às artes, como foi feito, no início do ano, com Artur Bispo do Rosário, outro gênio sergipano. Mesmo que a idéia da Pinacoteca não seja levada adiante, o Estado dispõe de vários locais para montar um Museu de Arte Sergipana, a partir de Horácio Hora, como os mais de 1.200 metros quadrados de área livre, no edifício do Teatro Tobias Barreto, até agora sem utilidade e sem uso. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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