A grandeza intelectual de Sergipe não pode ser medida apenas por uma ou duas dezenas de vultos ilustres, de biografias aplaudidas, que viveram na segunda metade do século XIX. Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso, Gumercindo Bessa, João Ribeiro, Manoel Bonfim, Justiniano de Melo e Silva, Felisbelo Freire, Maximino Maciel, Laudelino Freire, Jackson de Figueiredo, Samuel de Oliveira, Bitencourt Sampaio, Gilberto Amado e seus irmãos, Aníbal Freire, Moreira Guimarães, Visconde de Maracaju, não estão sozinhos na galeria da cultura sergipana. Outros, e muitos outros autores tomaram o mesmo caminho da geração anterior e também colocaram seus nomes em destaque, mantendo a tradição que distingue a terra pela inteligência. Bernardino José de Souza é um desses sergipanos que Sergipe não conhece, apesar dos seus méritos, tão valiosos quanto aqueles que modelaram o seu espírito. Nascido na Fazenda e Engenho Murta, de propriedade do seu pai, Otávio de Souza Leite então município de Vila Cristina, hoje Cristinápolis, em 1884, embora Armindo Guaraná registre a data de 8 de fevereiro de 1885, estudou na Bahia, a partir de 1896, inicialmente como interno no Colégio Carneiro Ribeiro, cursou a Faculdade Livre de Direito, bacharelando-se em 1904, pronunciando o Discurso como orador da turma. Foi professor secundário, de Geografia e de História, produzindo farto material que circulou nas escolas baianas e de outros Estados brasileiros, destacando-se Limites do Brasil (1911), Corografia do Piauí (1912, publicado em Parnaíba), Por Mares e terras (1913), A Ciência Geográfica (1913), O Município de Abadia (1922), A Bahia, conferência a respeito das condições geográficas da Bahia, pronunciada em Minas Gerais e em São Paulo (1928), além de outros. Na sua vasta e diversificada obra dois títulos ganharam relevo: O Dicionário da Terra e da Gente do Brasil, que apareceu pela primeira vez em 1910, sob o título de Nomenclatura Geográfica Peculiar do Brasil, reeditado em 1917, e que, 10 anos depois, em 1927, aparecia com o título de Onomástica Geral da Geografia Brasileira; e O Ciclo do Carro de Boi no Brasil, este póstumo, editado em 1958. Bernardino José de Souza ingressou no magistério superior, na Faculdade de Direito, tornando-se um dos mais queridos e respeitados mestres, com brilhante carreira, assumindo a Direção da Faculdade e contribuindo para a construção do prédio próprio. Também liderou a campanha para a construção do edifício do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, onde exerceu a função de Secretário Perpétuo Foi, por algum tempo, Secretário de Estado, na Bahia, Deputado Estadual e, depois, integrou o Tribunal de Contas, como Ministro, em 1937, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde morreu em 11 de janeiro de 1949. A biografia de Bernardino José de Souza encerra uma experiência política, administrativa e intelectual que foi reconhecida pela crítica contemporânea e pela posteridade. Seus esforços como professor e como escritor, refletidos nas Memórias que apresentou nos Congressos de Geografia e de História, e nos livros que publicou dão a ele uma dimensão nacional, mesmo quando a temática esteja restrita a Bahia. O nome de Bernardino José de Souza elevou-se ao reconhecimento dos seus alunos da Faculdade de Direito, aos seus companheiros associados do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, como um modelo ainda hoje válido e a ser seguido. Mesmo tendo deixado muito cedo a terra sergipana, aos 12 anos, Bernardino José de Souza conservou todas as lembranças do engenho Murta, e foi com essa memória que escreveu, lentamente, O Ciclo do Carro de Boi no Brasil, obra clássica, publicada como parte da comemoração dos 30 anos da fundação da Companha Editora Nacional, como o volume 15 da Coleção Brasiliana, grande formato. Sobre ele diz Anizio Teixeira: “A indomável energia de Bernardino de Souza conseguiu emoldurar um vasto painel, cheio de variantes no tempo e no espaço e transformá-lo em obra monumental de arte e de pensamento a um só tempo; inspiração para o artista e instrumento de trabalho para o cientista social. “Os últimos anos de vida de Bernardino foram consumidos neste estudo germânico pela profundidade, e bem brasileiro nas claridades que projeta sobre aspectos da vida rural”. Para escrever o seu grande livro, Bernardino José de Souza recorreu a vários colaboradores, em diversos Estados, incluindo de Sergipe as seguintes pessoas: Antonio Leão Viana, de Aquidabã, Benjamim Alves de Carvalho, de Aracaju e da sua família, Émerson Batista de Souza, de Itabaianinha, Epifânio Dória, de Aracaju, Euclides Azevedo, de Estancia, Francisco Rosa, de Japaratuba, Gonçalo Rollemberg do Prado, de Maroim, Horácio Dantas de Gois, de Riachão, Joaquim Gomes de Almeida, de Porto da Folha, Joel Macieira Aguiar, de Capela, José Alves de Rezende, de Canhoba, José Barreto Souza, de Nossa Senhora das Dores, José Calasans, de Aracaju, José Joviniano dos Santos, de Tobias Barreto, José Melo de Menezes, de Cotinguiba (hoje Nossa Senhora do Socorro), José Sales de Campos, de Neópolis, Josias Passos, de Ribeirópolis, Manoel Emílio de Carvalho, de Lagarto, Manoel Messias da Rocha, de Campo do Brito, Marcos Ferreira de Jesus, de Simão Dias, Martinho Dias Guimarães, de Propriá, Miguel Leitão, de Darcilena, (hoje Cedro de São João), Nelson Resende de Albuquerque, de Gararu, Otacílio Vieira de Melo, de Rosário do Catete, Pedro Simões Freire, de Boquim, Tasso Garcez Sobral, de Riachuelo, Ulisses Alves de Oliveira, de Nossa Senhora da Glória, e Vilobaldo de Araújo Gois, de Indiaroba. Com obra de tanta importância para o estudo do Brasil, como o Dicionário da Terra e da Gente do Brasil e o Ciclo do Carro de Bois no Brasil, Bernardino José de Souza deixou um nome entre os grandes de Sergipe, esquecido ou desconhecido dos seus conterrâneos, ou lembrado, algumas vezes, pela presença de sua filha, a poetisa e declamadora Seleneh de Medeiros, em recitais em Aracaju. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”