A caneta – tinteiro, de pena de metal, ou aparo, que substituiu a pena de ganso e de outras aves, revolucionou a escrita, no século XIX, até ser desbancada pela esferográfica, que trocou o aparo por uma pequena bola metálica, giratória, alimentada de carga de tinta especial. Tanto a caneta, quanto a esferográfica, modernizaram o modo de escrever, substituindo as penas, os tinteiros, mata – borrões e outros apetrechos da escrita. Nas escolas, nos escritórios, os equipamentos de uso na escrituração de papéis, sobre as mesas, como se fossem fixos reduzia o espaço do trabalho intelectual. O lápis, de grafite, que podia ser levado no bolso foi, por muito tempo, a melhor alternativa para que escrevia. A popularização da caneta – tinteiro, ou caneta – fonte, que podia ser levada no bolso como um instrumento de trabalho, ganhou estatos de jóia, com marcas famosas – Parker, Sheafers, que se tronaram comuns entre os sergipanos, caras, importadas, que exigiam cuidados especiais. Desde 1835, na Inglaterra, que começaram a ser usadas as canetas de tinta permanente, ainda que de mecanismo rudimentar. O aperfeiçoamento ocorre em 1884, quando nos Estados Unidos L. E. Waterman inventou uma caneta com um sistema em que a passagem da tinta para o aparo era feita automaticamente e regularmente. Waterman mais do que inventar uma nova caneta de tinta permanente, deu nome a belas e caras canetas, objeto de consumo em todo o mundo, resistindo ao apelo popular das esferográficas. Sofisticadas, as canetas tinham o aparo de ouro, a ponta ou pena de iridio, metal raro e caro, extraído nos Montes Urais, e o tubo de vulcanite ou ebonite, que é borracha endurecida com adição de enxofre. E assim tomaram nomes e números, como as Parker 21 e 51, de pena embutida, de escrita elegante, com seu reservatório de borracha, graduando o fornecimento de tinta ao aparo. Aracaju acompanhou a evolução das penas, das canetas, das lapiseiras e esferográficas, registrando casas comerciais que vendiam as principais marcas, como ainda hoje ocorre, em joalherias, casas de importados, e outras. No final dos anos 50, do século XX, surgiram em Aracaju as oficinas de canetas, tornando afamados os profissionais, como Aloísio Passos, cognominado O Doutor das Canetas, que trabalhava num pequeno espaço, na rua de Laranjeiras, entre as ruas de João Pessoa e Itabaianinha, vizinho da Padaria Ceres, em frente ao prédio dos Correios, e seu sobrinho Walter de Jesus Santos, trazido de Estancia, por algum tempo funcionário dos Correios, que por muitos anos foi o Médico das Canetas. e que teve oficina na Galeria Walter’s, hoje Passarela, na rua de João Pessoa, trecho entre a praça General Valadão e a rua de São Cristovão, em frente ao velho Hotel Marozzi. Os dois profissionais do conserto de canetas, o Doutor e o Médico, são personagens que confirmam, no cotidiano de suas vidas, o prestígio que as canetas gozaram, antes de serem desbancadas pelas esferográficas, mais práticas e mais baratas, descartáveis, mas eficientes. As esferográficas BIC, fabricadas nos Estados Unidos pela Gillete, depois no Brasil, pelo baixo preço passaram a ser objetos comuns em todas as camadas sociais. Eles também testemunharam as mudanças ocorridas com as canetas, seus sistemas de bombeamento, suas cargas removíveis, seus designer’s. Os dois parentes, tio e sobrinho, fizeram anúncios na mídia de então e prosperaram em seus negócios. Walter de Jesus Santos, cabeça de uma família numerosa, ajudou a que cada um dos seus irmãos tivesse uma profissão e estudassem, como foi o caso da irmã Waldir, advogada da turma de 1969 da Faculdade de Direito de Sergipe. Wilson tornou-se um profissional da refrigeração, com oficina de ar condicionado para automóveis, na rua de Paraíba, no bairro América, na zona oeste de Aracaju, sendo um pioneiro em tal serviço. Walter de Jesus Santos organizou a galeria que por muitos anos levou seu nome e quando viu que consertar caneta não dava mais nada, matriculou-se no curso de Direito e bacharelou-se para trabalhar como advogado, formando banca movimentada, até morrer, há poucos meses, aos 66 anos. Além do Médico das Canetas, de comerciante e de advogado, Walter de Jesus Santos era letrista e compositor, criando em parceria com o empresário José Carlos Mendonça, o Pinga, uma música que foi bem cantada em Aracaju, no início do movimento de valorização da cultura sergipana, e que dizia: “Para ser bom sergipano/ é preciso ser bacano/ não dar bola para o azar…” Um homem de múltiplas atividades, simpático, alegre, Walter de Jesus Santos, o Médico das Canetas marcou uma época, ganhou importância como profissional, trabalhando com um objeto fascinante, que tem permitido documentar a arte de escrever, ao longo dos últimos tempos. Uma revolução comparável à invenção e a evolução da tipografia, desde os tipos móveis ao editor de textos do computador, passando pelo linotipo e por outros processos que mudaram as artes gráficas no mundo. Algumas informações sobre canetas: Caneta – pequena haste em que se encaixa ou a que se adapta ou que ajusta um aparo, para que se possa escrever. Aparo – pena de metal que se adapta a uma caneta. Pena – pedaço de metal, talhado em forma de bico e que, adaptado a uma caneta serve para escrever; Aparo. Esferográfica – utensílio para escrever que contém carga de tinta especial e traz na ponta, em vez de pena, pequena bola metálica que gira livremente. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”