Aracaju ostenta, como poucas cidades, uma arquitetura eclética que longe de ser originária do seu traçado primitivo é resultado de variadas contribuições, que sobrevivem como exemplares visíveis de tendências arquitetônicas que vigoraram no Brasil, desde a segunda metade do século XIX, quando as cidades começaram a nascer planejadas, nas pranchetas dos engenheiros militares. Terezina, no Piauí, foi a primeira das cidades brasileiras a ser concebida nas plantas, quando a Província decidiu mudar a sua capital, de Oeiras, para outro local, estrategicamente melhor situado. Aracaju foi a segunda cidade planejada, com um claro peão de ordenamento, sabendo como deveria espalhar-se em três direções, a partir da sua posição margeada pelo rio Sergipe, em caminho de sua foz. A engenharia militar surgia como vertente científica, da cartografia, da economia portuária, da canalização fluvial, dos canais, das edificações em geral e coube a ela contribuir para edificar cidades. As Mensagens e os Relatórios dos Presidentes da Província de Sergipe estão repletos de informações sobre a presença de engenheiros contratados para obras públicas, ou mandatos pelas repartições do Império para realizarem trabalhos, como, por exemplo, o de levantar plantas e fiscalizar obras como a do Canal do Pomonga, luta pessoal do Comendador José da Silva Travassos, que custeou, do próprio bolso, alguns trabalhos. Os registros apontam o nome do Tenente-Coronel Euzébio Gomes Barreiros, como o do primeiro engenheiro a trabalhar formalmente, em Sergipe, em 1834. Outros nomes surgiram, como o do engenheiro civil Carlos de Mornay, em 1848, Sebastião José Basílio Pirro, o então Capitão João Carlos de Villagran Cabrita, que deixou nome, ainda hoje corrente, numa estação de água e no povoado Cabrita, Major Marcelino Rodrigues da Costa, Capitão Pereira da Silva, engenheiro civil Pedro Pereira de Andrade e Euzébio Stevaux, que atuaram entre 1834 e 1860, em diversos serviços, no interior da Província e na nova capital Aracaju. A feição planejada ganha pela capital em 1855/56, a partir da praça do Palácio (atual Fausto Cardoso), praticamente foi mantida. Com o tempo vieram diversas contribuições que foram modificando, lentamente, a paisagem aracajuana. Merece citação especial a presença da chamada “Missão Italiana”, formada por arquitetos, engenheiros, mestres de obras, artistas, que atuou a partir de 1918, quando o presidente Pereira Lobo programou os festejos do Centenário da Emancipação Política de Sergipe, celebrado em torno do dia 24 de outubro de 1920. Naquele tempo o feriado era no 24 de outubro e não no 8 de julho, como hoje. O prédio do Palácio do Governo é o melhor exemplo, pois foi executada pelos italianos uma reforma completa, por fora e por dentro, modificando completamente o edifício, um dos primeiros exemplares da arquitetura da capital sergipana. A pintura dos tetos e das laterais das paredes contaram, principalmente, com Oreste Gatti, que assinou outras belas obras, como o teto da Catedral de Aracaju e da Matriz da Estância. Gatti sobreviveu até a década de 40 (morrendo provavelmente em 1943), antes de ser inaugurada, com o Congresso Eucarístico Diocesano, em novembro de 1946, a grande reforma empreendida pelo monsenhor Carlos Costa. O Governo Gracho Cardoso, que sucedeu ao de Pereira Lobo, continuou contratando os italianos para a execução de obras. Hugo Bozzi, por exemplo, fez em concreto armado, então uma novidade, o prédio do Grupo Escolar Siqueira de Menezes, mais tarde adaptado para ser o novo Tribunal de Justiça, na praça Olímpio Campos, em frente ao Cacique Chá. Os prédios do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, da Associação Comercial de Sergipe, que tem pinturas internas, a Penitenciária Modelo, e outros, contaram com Hugo Bozzi, Belando Belandi, Orestes Cerceli, Oreste Gatti e com outros italianos que deixaram marcas indeléveis na plástica da cidade. Na década seguinte estava em Aracaju, vindo da Alemanha, possivelmente com passagem pela Argentina, o engenheiro civil H. O. Arendt Von Altenesch, que em 1935 estava com seu escritório estabelecido na avenida Rio Branco, 72, sobrado. Oferecia “construções modernas em geral, obras industriais de cimento armado” e se dizia “especialista em construções de Bungalows (bangalôs) para residências. Talvez seja Altenesch o engenheiro e construtor que tenha dado, individualmente, a maior contribuição à arquitetura de Aracaju, construindo dezenas de casas em várias ruas da cidade: Pacatuba, Estância, Itabaiana, Capela, Vila Cristina, dentre elas. Ainda que o gosto possa ser duvidoso, pelos detalhes exagerados de cada uma dessas casas, quase todas de projetos recortados, não se pode ignorar essa presença criativa e criadora, que deixou uma marca indelével no conjunto do casario aracajuano. Eronídes de Carvalho, que foi governador constitucional em 1935 e nomeado Interventor Federal com o golpe do Estado Novo, em 1937, fez grande propaganda das casas e prédios de Altenesch, construídas no período de sua presença no Governo, como é o caso da sede da Associação Atlética de Sergipe. Outras obras, como a sede do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e da Biblioteca Pública do Estado, desse mesmo período, ainda que tenham sido construídas pela construtora baiana de Emílio Odebrecht, levavam a colaboração do engenheiro alemão, espécie de mestre oficial das obras sergipanas daquele tempo. Ainda hoje sobrevivem alguns exemplares dos bangalôs de Altenesch. Outros foram derrubados, modificados e destruídos, cedendo o terreno para novas edificações. A casa de Carvalho Neto, depois do seu genro Leite Neto, onde está hoje o edifício Paulo Figueiredo, é um exemplo. Existem outros, muitos outros, mas as casas de Altenesch resistem como adorno de um mostruário arquitetônico harmonioso, eclético, da cidade que está prestes a completar 150 anos de capital. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.