Quando cerrou suas portas, em 1965, o Hotel Marozzi já não era o melhor, o mais elegante e bem freqüentado hotel de Aracaju. Já havia o Hotel Palace, imponente obra da engenharia moderna, no centro da praça General Valadão, construído pelo Governo de Luiz Garcia, em 1962, para fomentar o turismo. O Hotel Marozzi, com seus 35 quartos, e com mais de três décadas de funcionamento elegante, era uma saudade viva, encarnada na figura do seu proprietário Augusto Marozzi, um italiano de Bolonha, nascido provavelmente em 1888, filho de Eduardo Marozzi e Anunciata Calovi. Augusto Marozzi trabalhava na legação brasileira de Veneza, na Itália, quando conheceu o diplomata e escritor sergipano Ciro de Azevedo. Da amizade surgiu o convite feito por Ciro de Azevedo, para que Augusto Marozzi o acompanhasse de volta ao Brasil. Convite aceito, o mordomo italiano desembarcou no Rio de Janeiro, onde permaneceu algum tempo, até vir para Sergipe, servir no Palácio do Governo, que desde 24 de outubro de 1926 passou a ser ocupado pelo diplomata. Ciro de Azevedo, republicano dos primeiros tempos, participando do Clube Federal de Laranjeiras, foi eleito para substituir Graccho Cardoso na presidência do Estado. Gozava de bom nome e de simpatia na classe política sergipana, apesar de estar afastado do Estado, cumprindo missões diplomáticas em vários países do mundo e exercendo atividades intelectuais. Empossado, refez alguns atos do presidente anterior, mas, doente, não teve disposição para governar. Desde a posse, os afastamentos para tratar a saúde e a morte foi um período curto, de menos de um ano. Morto o presidente, o amigo italiano resolveu permanecer em Aracaju. Primeiro abriu um pequeno restaurante na rua de Japaratuba, hoje João Pessoa, no trecho entre a praça Fausto Cardoso e a rua de Laranjeiras, onde hoje está o edifício Oviêdo Teixeira. Depois montou outro restaurante, na praça Fausto Cardoso, nas vizinhanças da Recebedoria Estadual, onde hoje está o edifício Walter Franco. Por fim montou o Hotel Marozzi, na mesma praça Fausto Cardoso, no lado oposto, numa casa onde mais tarde funcionou o Hotel de Rubina e que demolida cedeu o terreno para a construção do prédio do Tribunal de Justiça, no Governo de José Rollemberg Leite. Foi, contudo, no número 320 da rua de João Pessoa que Augusto Marozzi instalou, em definitivo, o seu hotel. Era uma casa de dois pavimentos, de propriedade da família Cruz, alugada através da intermediação de Teodomiro Andrade, um dileto amigo do súdito italiano. Começava uma história de sucesso, que deu a Augusto Marozzi uma imagem de comerciante atualizado, que tudo fazia para tornar seu hotel num ponto requisitado, tanto pelos viajantes e visitantes de outros lugares, como por figuras de sergipanos, que preferiam morar no Hotel Marozzi, como o magistrado Enock Santiago, Monsenhor Doutor Alberto Bragança de Azevedo, o poeta e historiador Pires Winne, Juca Barreto, proprietário do Cinema Rio Branco, Dr. Brandão, que foi por muitos anos Secretário Geral do Tribunal de Justiça, o Comandante do 28 BC, Maciel Porto, que só saiu do Hotel para casar, dentre muitos e muitos outros hóspedes famosos. O economista e professor Nilton Pedro da Silva, vindo do Recife trabalhar em Aracaju, foi dos últimos mensalistas do Hotel Marozzi. O bom relacionamento de Augusto Marozzi o livrou da suspeição e da perseguição motivada pelos torpedeamentos dos navios de passageiros na costa sergipana, pelo submarino alemão U-507, em agosto de 1942. Corria na capital sergipana o boato de que alemães e italianos residentes em Sergipe colaboravam com os ataques das forças de Adolf Hitler, fornecendo informações pelo rádio. Tanto o Comandante do 28 BC, quanto Enock Santiago deram a Augusto Marozzi a solidariedade, evitando os constrangimentos comuns aquele tempo em Aracaju. Há quem lembre, por exemplo, que seu concorrente, Nelson de Rubina, fez tudo para evitar que o Hotel Marozzi recebesse hóspedes que buscavam, desesperadamente, pelos seus parentes, vítimas dos torpedeamentos. O Rotary Clube de Aracaju fez suas reuniões no Hotel Marozzi, desde a fundação em 1934, e até o fechamento do hotel. Também o Lions tinha os salões do Hotel Marozzi como a sede de suas reuniões sociais. Banquetes, festas, reuniões tiveram naquele hotel momentos de elegância e de bom gosto. Com o fechamento do hotel, Augusto Marrozi doou parte do mobiliário ao Convento dos Capuchinhos, por intervenicência de D. Norma Tavares, esposa de Constantino Tavares. Agente consular, Augusto Marozzi tratava dos assuntos dos italianos residentes em Sergipe, como a família de Auguusto Frederico Gentil, a família Fiscina, residente em Itaporanga, e outros italianos com quem mantinha amizade. Augusto Marozzi, que foi casado com Ana Heger, com quem tinha uma filha – Anunciata Amélia Marozzi – que morreu em Aracaju em 8 de maio de 1992, casou, pela segunda vez, na capital, com a sergipana, de Boquim, Alvina Batista Marozzi, com quem teve uma única filha, Maria Augusta Marozzi Cabral, nascida num dos quartos do Hotel, em 12 de julho de 1939. Além de ajudar ao pai no gerenciamento do hotel, Maria Augusta casou-se com um comerciante, Cabral, proprietário da bem transada Cantina Capri, na rua de João Pessoa, bem próximo ao Marozzi. Vítima de insuficiência cardíaca refratária, Augusto Marozzi morreu às 5:30 h do dia 1º de agosto de 1969, aos 81 anos. Residia na rua de Propriá, sobrevivia de pequena aposentadoria como comerciante. Sergipe deve reverência a esse italiano que viveu mais de quarenta anos em Aracaju, aqui fez família, aqui trabalhou, dando uma contribuição refinada, que ainda hoje é guardada na lembrança dos que conheceram o glamour do Hotel Marozzi. Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.