Aracaju mostra, aos olhos dos críticos, uma arquitetura eclética que a diferencia das demais capitais nordestinas, incluindo Teresina, que foi planejada e construída poucos anos antes, por uma equipe de engenheiros militares, a semelhança do que ocorreu com a capital sergipana, a partir de 1855. Um ecletismo que tem marcos importantes, de contribuições de artistas e de escolas, ao longo dos 145 anos de cidade e de capital. Muitos exemplares do século XIX não resistiram, outros foram demolidos, cedendo lugar a vistosos prédios de apartamentos, na redefinição moderna do espaço urbano. Com isso Aracaju perdeu muito de sua feição plástica, de sua harmonia com a paisagem, de seus traços iniciais. O que sobrou do projeto capitaneado pelo engenheiro Basílio Pirro foi o traçado, com o peão de ordenamento da Praça Fausto Cardoso, na margem do rio Sergipe e seguindo nas três direções possíveis: avenida Rio Branco, para o norte, Ivo do Prado, para o sul, Praça Olímpio Campos, para o oeste.
A Missão italiana, de Belando Belandi, Oreste Gatti, Hugo Bozzi, os Gentile, e tantos outros arquitetos, engenheiros, mestres de obras, artesãos, deu uma enorme contribuição a Aracaju, remodelando a paisagem agenciada, a partir da reforma e ampliação do Palácio Olímpio Campos, com tetos e laterais, ornatos e fachadas, ambientes externos e internos artisticamente renovados, a partir de 1918, para as celebrações do Centenário da Emancipação Política de Sergipe, na gestão do Presidente Pereira Lobo. Vários prédios foram construídos, nos anos seguintes, pelos italianos ou contando com eles, de que são exemplos: A Associação Comercial de Sergipe, Colégio Nossa Senhora de Lourdes, entre tantos outros.
Na administração de Graccho Cardoso foi construído o Mercado Modelo, que levou o nome do seu empreendedor Antônio Franco. Um prédio vistoso, com quatro faces, convergindo para um centro comum de convivência comercial, com um monumento central, encimando O relógio, e com torres, superiores, onde funcionaram as repartições do Fisco, da Polícia, e outras. Na face leste do Mercado o espaço entre ele e a atracação do rio Sergipe foi agenciada a praça e nela erigido um pequeno monumento com sete lâmpadas. Durante muitas décadas os usuários do Mercado foram privados do acesso àquela minúscula praça, tomada que foi por barracas, na expansão desenfreada que, somente agora, com a construção de um novo e amplo Mercado, foi liberada.
A Prefeitura reformou não apenas o prédio antigo do Mercado Antônio Franco, como o fez também com o Mercado Thales Ferraz, do final da décado de 40, construído pelo prefeito Marcos Ferreira de Jesus, e com os espaços laterais e com a Praça da 7 lâmpadas, que é um símbolo da arquitetura, posto ali não por acaso, mas como sinal de adesão ao ideário de John Ruskin (1819-1900), crítico de arte e ensaista inglês, que colocou em moda o estilo neogótico, tendo como parceiro o arquiteto Augustus Welly Pugin (1812-1852). Para eles, como de resto para os condceitos dominantes no século XIX, o Urbanismo era a teoria das cidades, que fixa o traçado, a ampliação, a reconstrução, ou a reforma dos conjuntos urbanos.
Para Ruskin a Arquitetura tem 7 lâmpadas, a saber: o Sacrifício, a Verdade, a Força, a Beleza, a Vida, a Recordação e a Obediência. A afirmação recupera simbologia anterior, dos 7 Candeeiros, que chegou ao Brasil com o Barroco, como testemunha a Casa dos 7 Candeeiros, em Salvador, na Bahia, contemporânea da Santa Casa de Misericórdia, também em Salvador, e dos Mosteiros de São Sento e de Sano Antônio, no Rio de Janeiro. Um símbolo que Aracaju deve preservar, integrando-o novamente à paisagem, para marcar, definitivamente um capítulo da história da Cidade.
A Prefeitura teve, na finalização das obras de reforma dos Mercados, a oportunidade de recompor o ambiente da Praça das 7 Lâmpadas, protegendo-o do intenso tráfego e das injúrias do tempo, mas, com a sensibilidade pessoal e com a responsabilidade de toda uma geração, o então prefeito João Augusto Gama soube dar o melhor encaminhamento para que o símbolo, erigido na capital sergipana, seja preservado, como expressão estilística e histórica de um tempo inspirador, do qual Aracaju foi beneficiaria.
Não fosse pelo que ela própria encerra, a Praça das sete Lâmpadas ainda seria um lume, a testemunhar o movimento dos saveiros, chegando e saindo com suas grandes velas, os navios de passageiros – Comandante Capela, um deles, – ouvindo os apitos dos trens próximos, ou, na calada da noite, sentindo os passos dos homens solitários, rondando o Vaticano, em busca de companhia nas casas sonoras das mulheres, ou ainda bêbados, vagabundos, boêmios, poetas, riscando o chão com suas andanças incertas.
Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.