REPÚBLICA NOVA, ESTADO NOVO, GETÚLIO VARGAS

Praça Getúlio Vargas, também conhecida como praça do Mini Golfe, entre a rua Duque de     Caxias e avenida Ivo do Prado
Os tenentes do Forte de Copacabana, em 1922, no Rio de Janeiro, dos levantes de São Paulo e de Sergipe, em 1924, a Coluna Prestes, em 1926, abriram caminho à revolução de outubro de 1930, também conhecida como República Nova,  e apresentaram ao Brasil, Getúlio Vargas, gaúcho de São Borja, nascido em 1883. Os ideais republicanos, intelectualizados desde o lançamento do Manifesto de 1870, nunca ficaram suficientemente claros para a sociedade brasileira, gerando movimentos que ao longo do tempo, questionaram os benefícios produzidos pela nova ordem política nacional. A Revolução Constitucionalista de São Paulo, em 1932, foi um dos percalços do Governo revolucionário de 1930. Mas não foi o único.

Político experiente, Getúlio Vargas foi deputado estadual, deputado federal, ministro de estado, presidente do Rio Grande do Sul, candidato derrotado nas eleições de 1930 à presidência da República, e chefiou o movimento revolucionário, vitorioso, que o levou ao Poder como Chefe do Governo Provisório do Brasil, governando por decreto até 1934. O pequeno período de organização democrática, a partir de 1934, foi vencido pela decretação do Estado Novo, fundado em pretextos como a chamada Intentona Comunista, em 1935, esmagada pela força do Governo Vargas.

Prédio em construção, para servir de sede ao Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e Rádio P.Y.D.2, mais tarde Rádio Difusora de Sergipe, hoje Rádio Aperipê AM
O Estado Novo, instituído em 10 de novembro de 1937, foi emoldurado pela propaganda oficial, controlada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP -, que em certa altura esteve sob a responsabilidade do sergipano Lourival Fontes. Todas as gerações de brasileiros foram alvos da propaganda estadonovista, apresentado como a panacéia política, para modificar o Brasil.

As interventorias, que substituíram os Governos estaduais, fortaleceram lideranças de militares que participaram dos levantes tenentistas, e que foram anistiados pelo chefe do Governo Provisório. Com o Estado Novo, os interventores passaram a contar com instrumentos de divulgação, patrocinando uma intensa propaganda, como nunca o país tinha experimentado, e como ainda não se repetiu na história do Brasil. Homens da mídia, dos grêmios culturais, foram recrutados e colocados a serviço do Estado Novo, como uma mística a formar a opinião pública. A figura de Getúlio Vargas pouco diferenciava do regime.

Em Aracaju, em 1938, Getúlio Vargas ganhou nome de praça, na zona sul da cidade. Não era, na verdade, uma homenagem ao político, revolucionário, governante, mas ao seu modelo político que aniversariava. O monumento da praça Getúlio Vargas, mais conhecida como praça do Mini Golfe, foi inaugurado para celebrar o Estado Novo, no seu primeiro ano de vigência. No ano seguinte, o interventor Eronídes de Carvalho põe no ar a P.Y.D.2, emissora de rádio do Departamento de Propaganda e Divulgação, também denominada Rádio Palácio do Governo, mais tarde nomeada Rádio Difusora de Sergipe, para transmitir os discursos proferidos pelos microfones do DPDE na Semana Eronídes de  Carvalho, de 27 de março a 1º de abril. As vozes do advogado João de Araújo Monteiro, do poeta J. Góis Duarte, do Cônego Olívio Teixeira, do operário João Claro dos Santos, do engenheiro Fernando Porto, da enfermeira Josefa Álvares, do sociólogo Florentino Menezes, do líder estudantil João Batista de Lima e Silva, do padre José Curvelo Soares, do jornalista Newton Almeida Morais, do advogado e jornalista  Adolfo Ávila Lima, do jornalista Jeferson Silva, do cônego Domingos Fonseca, do médico Augusto Leite, do documentarista Epifânio Dória, então Secretário da Fazenda e presidente do IHGS, do desembargador Edison de Oliveira Ribeiro e do prefeito Godofredo Diniz, além dos discursos do próprio interventor, formavam um coro harmonioso de exaltação.

A Interventoria de Eronídes Carvalho, construiu o prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, na rua Itabaianinha, no centro de Aracaju, colocando ali as cabines da P.Y.D.2. A emissora de rádio, a primeira do Estado, atendia tanto ao DPDE, como é exemplo a Semana Eronídes de Carvalho, como ao próprio Instituto Histórico, como aconteceu com a Semana Tobias Barreto, homenageando os 100 anos de nascimento e 50 anos de morte do pensador sergipano. O Estado Novo continuou louvado, até que com o fim da II Guerra Mundial, o Brasil democratizou-se, fazendo encerrar um ciclo de 15 anos sob o pulso morte e o paternalismo do Governo Getúlio Vargas.

A abertura política que agitou o Brasil, de ponta a ponta, e que elegeu representantes progressistas nas Assembléias estaduais, na Câmara Federal e no Senado, durou pouco. O Governo do Marechal Eurico Dutra colocou o PCB na clandestinidade, cassou os mandatos dos seus representantes e instituiu, sob forte inspiração norte americana, a Escola Superior de Guerra, com sua doutrina da Segurança Nacional. Em 1950 o povo demonstrou nas urnas, sua saudade de Getúlio Vargas. Ele voltou ao Poder, agora ungido nas urnas, para reeditar os feitos que ainda ecoavam, como frutos da propaganda estadonovista. O que Getúlio Vargas não contava era com a dinâmica da vida democrática, geradora de críticas, de fiscalização, de confrontos desgastantes. A imagem do presidente sofreu severos danos e seu Governo foi questionado, ainda que sua figura de velho fosse associada à idéia de um “pai do povo”, na mais íntima relação paternalista, que marcou a presença de Getúlio Vargas no Governo do Brasil.

Desgastado, isolado, sem capacidade de reação, Getúlio Vargas viu aproximar-se, velozmente, o descrédito da sua administração, recheada de vícios, descontrolada e metida em episódios de mortes de adversários políticos, atentados, e tudo o mais que indicava o caminho do fim.

Na madrugada de 24 de agosto de 1954, o Brasil foi surpreendido pelo suicídio de Getúlio Vargas. Sem saída triunfante, o velho presidente voltou-se ao estilo de comunicação e deixou um bilhete e uma carta ao povo brasileiro, nos quais rendia homenagem aos seus próprios compromissos e arrancava lágrimas ao dizer: “À sanha dos meus inimigos, deixo o legado da minha morte. Levo o pesar de não ter feito pelos humildes, tanto quanto desejava”.  Nas ruas do Brasil o povo explodiu de emoção. Udenistas e outros desafetos foram apontados e marcados. Bastava um dedo indicador para que as pessoas fossem vitimadas, como aconteceu em Aracaju, há 50 anos, com Lídio Paixão, apontado no meio da massa e trucidado como inimigo.  

No dia 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas, como foi da sua última propaganda, deixou a vida para entrar na história. Uma história que precisa, ainda, ser passada a limpo, em todos os sentidos.

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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