Osmário Santos, autor do livro Memórias de Políticos de Sergipe no século XX (Aracaju: UFSE/Fundação Oviêdo Teixeira/BANESE, 2002), organizado com a colaboração do professor Afonso Nascimento, repete o feito de retirar das páginas domingueiras do Jornal da Cidade os textos que emolduram biografias sergipanas. Não há mesmo como não comparar um e outro livros. Oxente essa é a nossa gente, de 450 páginas, 71 nomes, não tendo a pretensão de ser um dicionário de memórias, ao final complementa o livro anterior, ampliando não apenas as 123 biografias, distribuídas em 824 páginas, mas a visão do Estado e especialmente da vida política e social de Aracaju.
Um livro sobre ou de políticos é sempre alguma coisa pesada e medida, rebuscada para deixar a melhor das impressões, como uma exigência comportamental, perante um leitorado que julga, aplaude e vota. Já um livro de pessoas simples, flagradas em seu cotidiano e urdidas em suas histórias de vida, é outra coisa, mais livre, límpida, sincera.
Os jornais são fontes preciosas de documentos, sempre fornecendo dados, fatos, opiniões, perfis, que podem servir de roteiro ao conhecimento ampliado da realidade. O dia a dia do jornal nas mãos dos leitores encobre essa função profunda, exclusiva, que a imprensa desempenha ao fixar na memória social as suas páginas, e notadamente as suas colunas. Osmário Santos fez da sua página semanal um amplo registro e agora seleciona, organiza e oferece, de uma só vez, o produto de anos de trabalho.
Os livros de Osmário Santos, bem preparados, mantendo informações substanciosas, construídas através dos depoimentos tomados e gravados, são singulares, únicos e estão destinados a cumprir, no futuro bem próximo, um papel referencial igualmente destacado. Tudo começa com a escolha das personalidades entrevistadas, espécie de calçada da fama, ditada pelo prestígio de cada um, no seu ambiente de convivência. Depois, a edição, limitada ao espaço de uma página, deixando aparas e sobras que passam desapercebidas do leitor comum. Por fim, depois de anos nas estantes das bibliotecas, quase sem consulta, eles ganham nova vida nas páginas dos livros, onde vão recircular.
A fórmula de Osmário Santos deu certo. Tanto ele já produziu um número gigantesco de horas gravadas, com centenas de pessoas, como soube selecionar dois conjuntos de personagens, primeiro os do mundo da política, agora os dos vários segmentos sociais, apanhados como se fossem tipos populares, sem aquela conotação de pessoas excêntricas, portadoras de singularidades.
Os homens e mulheres que figuram em Oxente essa é a nossa gente ocupam, na memória sergipana, lugares especiais, por conta do modo como viveram ou vivem. São pessoas das mais variadas profissões e condição social, alguns dos quais marginalizados pelas suas opções de vida, e que engrossam os grupos que dão calor e ritmo ao viver sergipano. Explorando particularidades, Osmário Santos produz a oportunidade de revelar, integralmente, pessoas que, nem sempre, o tempo glorifica.
O leitor terá uma agradável surpresa ao folhear e a consultar Oxente essa é a nossa gente e aprenderá, de forma simples, com quantos sergipanos se faz uma cultura. E terá, ainda, a certeza de que os jornais guardam tesouros em suas páginas, como as entrevistas de Osmário Santos. Uma riqueza agora partilhada, como exercício jornalístico da melhor validade.
O livro de Osmário Santos repete a fórmula de transpor textos das páginas de jornais para as páginas do livro, como a verter jornalismo em literatura, combinação que tem dado muito certo no Brasil. São poucos os intelectuais, fora da academia, que não exercem papéis de cronistas, críticos, articulistas, nos jornais e revistas nacionais. Basta conferir entre os imortais da Academia Brasileira de Letras aqueles que, como Antonio Calado, Arnaldo Neskier, Murilo Melo Filho, têm uma militância na imprensa. Outros, como Austregésilo de Ataide, Carlos Castelo Branco, Roberto Marinho, que já morreram, elevaram o texto diário às mais altas ressonâncias da escritura literária.
Foi lançado outro livro que nasceu nas redações dos jornais: Sobretudo a Imprensa, de autoria de João Oliva Alves, um jornalista reconhecidamente literário, que fez por merecer seu ingresso na Academia Sergipana de Letras, onde Bemvindo Sales de Campos, Luiz Eduardo Costa, ocupam lugares com suas biografias de jornalistas. Antes também outros luminares da imprensa, como Humberto Olegário Dantas, Zózimo Lima, ocuparam cadeiras no Sodalício. Não há, portanto, uma fronteira que limite os autores. Os textos de Osmário Santos deixaram de ser jornalísticos e são agora literários, pela magia que o livro encerra como objeto e como suporte de cultura.
As contribuições de Osmário Santos e de João Oliva valorizam o batente do jornal, a tarefa cotidiana em busca da notícia e o esforço interpretativo dos fatos. No primeiro, as vozes amplificam o campo das influências, no segundo é a reflexão do autor que predomina além dos fatos e sobre eles. Osmário Santos e João Oliva não são únicos. Outros autores, como os professores Francisco José Alves, doutores da história, contribuem para que jornais e revistas que circulam em Aracaju contenham textos que ajudam a sociedade na compreensão dos fatos. Jorge Carvalho do Nascimento já é acadêmico da ASL, Francisco José Alves pode aspirar uma candidatura, com todos os méritos e chance de também figurar entre os 40 sócios efetivos da Casa de José da Silva Ribeiro, que neste ano completou 75 anos de fundada.
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