MEMÓRIAS DO APRENDIZADO

Jorge Carvalho do Nascimento – jornalista, professor, intelectual e membro da Academia Sergipana de Letras – lançou uma nova obra: Memórias do Aprendizado (Maceió: Edições Catavento, 2004), ampliando a sua contribuição à historiografia da Educação em Sergipe. É um livro comemorativo dos 80 anos da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão, que dentre outras denominações foi, durante muito tempo, conhecida como Aprendizado, e contou com o apoio da FAP e da Secretaria da Agricultura do Estado de Sergipe.

 

O autor, que é doutor em Educação e professor de História da Educação e Educação Brasileira, da Universidade Federal de Sergipe, tem feito um esforço no sentido de levantar e identificar fontes, estudar e debater temáticas da Educação sergipana, estimulando a que os alunos do curso de graduação e do mestrado conheçam, cada vez mais e melhor, a história educacional sergipana. A rotina do seu trabalho na Universidade Federal de Sergipe foi levada para os professores que são alunos do Programa de Qualificação Docente – PQD -, incentivando-os sobre o conhecimento local.

 

O trabalho competente e consciente do professor Jorge Carvalho do Nascimento no ambiente universitário complementa as suas reflexões  contidas em livros como Positivismo, Ciência e Religião no Brasil do Século XIX (São Paulo, 1996), A Cultura Ocultada, (Aracaju, 1998) e Historiografia Educacional Sergipana (Aracaju, 2003), devendo servir de modelo entre seus pares, elevando a responsabilidade para com a cultura sergipana.

 

Memórias do Aprendizado traça o itinerário de uma idéia que o tempo não injuriou. Uma idéia que foi discutida, na Assembléia Provincial, principalmente por Sebastião Pinto de Carvalho, no início da década de 1850 e que mereceu do Imperador Pedro II, quando de sua visita a Sergipe, em janeiro de 1860, a atenção, através da assinatura de Decreto de criação do Imperial Instituto de Agricultura Sergipano. Estavam lançadas, portanto, as bases de uma escola agrícola em Sergipe. A idéia, no entanto, sofreu o retardo das mudanças de rumo, tanto nos modos de materializá-la, como nas dificuldades da Província em dar sentido prático ao Decreto do Imperador.

 

Chegou a República e a escola agrícola ainda estava no papel, e nas parcas providências tomadas até ali. Coube ao então presidente do Estado, monsenhor Olímpio Campos, atrair padres salesianos para a instalação de uma escola agrícola particular, na primeira década do século XX. Os rumores de que o religioso advogava em causa própria, dando dinheiro aos padres salesianos para que eles comprassem terras de sua propriedade, conforme contundentes denúncias de Gumercindo Bessa, reverberadas na Câmara Federal pelo deputado Fausto Cardoso, dificultou o projeto, que terminou abandonado. Os salesianos, contudo, continuaram em Sergipe, organizaram um internato, um oratório e uma escola regular, e ainda hoje servem a Sergipe.

 

Alguns governantes, como o general José de Siqueira Menezes, deram alguns passos na direção de organizarem uma escola agrícola, mas foi somente com Maurício Graccho Cardoso, em 1924, que foi instalada, finalmente, a unidade escolar, nas terras do Quissamã. A visão modernizadora de Graccho Cardoso levava o Governo a criar o Patronato São Maurício, anexo ao Centro Agrícola Epitácio Pessoa, organizando o ensino agrícola. Mudando de denominações, o velho Aprendizado sobreviveu cumprindo com múltiplas tarefas, e sendo um espaço requisitado pelas famílias do interior do Estado, confiantes no ensino e na formação daquela Casa.

 

A denominação Aprendizado, de 1941, quando a escola foi federalizada, foi a mais conhecida, marcante, na história do ensino agrícola, inspirando a um tempo atração e repúdio da parte dos jovens que não tinham, no interior, outras opções de estudos.

 

Jorge Carvalho do Nascimento recompõe, passo a passo, a história do ensino agrícola em Sergipe e especificamente a história do Aprendizado, em 5 densos capítulos, repletos de informações, que são: O Ensino Agrícola no Século XIX – Propostas, Modelos e Legislação; Implantação e Estrutura do Ensino Agrícola em Sergipe; As Relações de Poder; Práticas Escolares e Aspectos do Cotidiano; O Processo de Formação, todos desdobrados em itens que ajudam a compreender a evolução e a prática de uma idéia recorrente.

 

O livro oferece, ainda, farta documentação na qual se apóia o autor para esclarecer, a fundo, os meandros de uma instituição desejada, esperada e aceita como um instrumento essencial à fixação da vida no campo. São documentos do Império, da República, Legislação federal e estadual, Relatórios governamentais, e a documentação da própria Escola. Jorge Carvalho do Nascimento utilizou-se, ainda, da técnica da história oral, tomando depoimentos de ex-diretores, ex-alunos, professores, enfim da comunidade que respondeu, por muito tempo, pelo sucesso da escola e do ensino agrícola em Sergipe, como atesta o número de fotografias que ilustram o livro.

 

Memórias do Aprendizado, de Jorge Carvalho do Nascimento, é um livro de boa leitura, repleto de informações, correto como obra acadêmica, e principalmente pioneiro na abordagem de um velho tema, como o do ensino agrícola. Certamente é um livro destinado não apenas à leitura simples, da curiosidade, mas à pesquisa como fonte que reúne material antes disperso, importante como registro, original enquanto reflexão sobre um capítulo da história da educação em Sergipe, deixado por muito tempo em segundo plano. A Escola Agrotécnica de São Cristóvão tem o porte do Ateneu, da Escola Normal, da Escola de Comércio Conselheiro Orlando, do Colégio Salesiano, do Colégio Tobias Barreto, do Seminário Diocesano Sagrado Coração de Jesus, das grandes escolas públicas e privadas sergipanas, cada uma com suas características.

 

Lançado em meio a festa dos 80 anos da Escola, para convidados no Quissamã, o livro de Jorge Carvalho será reapresentado ao público, proximamente, em Aracaju.

 

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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