FRAGMENTOS DA HISTÓRIA (IV)

Série especial do Sesquicentenário de Aracaju


Inácio Barbosa tinha firmado o compromisso de demorar-se na Província de Sergipe “até que fique bem encaminhada em sua obra”, mas foi surpreendido pela doença, indo agonizar em Estância, onde repetia o nome das duas filhas como se fosse uma oração de amor com a qual queria viver. Dividido entre a obra da nova capital e as filhas, Inácio Joaquim Barbosa morreu no início da manhã de 6 de outubro de 1855, com 31 anos, 11 meses e 26 dias de idade. Depois de 1 ano, 10 meses e 19 dias como presidente da Província de Sergipe. Ao sepultamento compareceu sua mãe. Dona Rosa Francisca Barbosa, já viúva.


A mudança da capital foi tranqüila. Salvo, também, a reação intelectualizada do vigário Barroso, que embora fosse natural de Laranjeiras, tinha construído seu perfil de tribuno na vestuta cidade de São Cristóvão onde, além de vigário, exerceu o magistério num Colégio de sua propriedade e foi professor de Filosofia no Liceu Sergipense. Ele também foi deputado provincial, diretor da Biblioteca Pública criada em 1848, exercendo um papel destacado na velha capital sergipana. Inácio Barbosa tomou a iniciativa de mudar para Aracaju e levar, com ele, a Assembléia Provincial antes mesmo da Resolução 413 que autorizou a mudança da capital.


Formou-se, dentro e fora de Sergipe, uma opinião pública muito favorável a decisão do presidente Inácio Barbosa. O Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, na sua edição de 16 de maio de 1855 louva a nova cidade e capital: “O Aracaju oferece-nos ao espírito a perspectiva  de um próspero futuro pelas proporções com que a natureza dotou a localidade. É uma linda planície semeadas de pequenas casas, banhada de suave e branda brisa, que fica à foz do Cotinguiba, no próprio lugar em que o rio soberbo e majestoso confunde suas águas com as do oceano. Domina o Aracaju todo o norte de Sergipe, sua parte mais rica e florescente, porque o Cotinguiba é a principal artéria de riqueza da Província; por ele circula sua vida e nele se entroncam, acima de sua foz, outras artérias que produzem a vida parcial das diversas localidades.”


Em abril de 1855 já estavam em obras os prédios da Tesouraria e da Mesa de Rendas, um palacete provisório, para a Presidência (hoje Delegacia Fiscal), a Casa de Oração, que depois recebeu o nome de São Salvador, a Alfândega, o Quartel para a Polícia, prevendo-se para o resto do ano outras construções, como um casa para as sessões d a Assembléia e um Quartel para a Tropa de Linha. Inácio Barbosa, que chegou em Aracaju entre os dias 4 e 6 de março, morava na casa de Rufina Francisco Araújo, adaptada para ser a residência oficial do presidente.


O presidente Inácio Barbosa deu início, ainda, a construção da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em terreno que ficava na praça do Mercado (Fausto Cardoso), com a Travessa José de Faro. Como ficava num canto, não no centro como queria a igreja, a obra, ainda nos alicerces, parou. No terreno foi construído o Palácio da Assembléia, que tomou mais tarde o nome de Fausto Cardoso, e a Igreja Matriz, hoje Catedral Metropolitana, foi para o centro da praça que mais tarde foi denominada de Olímpio Campos. E nos seis meses de intensa atividade – desde que mudou-se de São Cristóvão, até adoecer e ser levado para a Estância – o presidente liderou o mais importante processo de construção de uma cidade, com o fim especial de ser a capital da Província.


Mais do que o planejamento genial dos engenheiros militares que serviam na Província, as idéias bem definidas do que deveria ser prioritariamente construído, a árdua tarefa de sanear os terrenos e de coibir, com rigor, as construções fora do alinhamento – o xadrez de Pirro -, que já seriam empreendimentos grandiosos, o presidente contou com a continuidade de seu trabalho, fato incomum na história da administração brasileira. Os presidentes que se seguiram, como Salvador Corrêa de Sá e Benevides (nomeado em 24 de dezembro de 1855, tomou posse em 27 de fevereiro de 1856, permanecendo em Sergipe até 11 de abril de 1857), João Dabney de Avelar Brotero (nomeado em 6 de junho de 1857, tomou posse em 5 de agosto do mesmo ano, deixando a administração em 7 de março de 1859) e Manuel da Cunha Galvão, que governou Sergipe de 7 de março de 1859 a 15 de agosto de 1860, levaram adiante as obras de Inácio Barbosa, como se pode observar nos seus Ralatórios e Falas aos deputados à Assembléia Provincial.


É preciso considerar as gestões entremeadas dos vices presidentes, principalmente do comandante da Guarda Nacional Trindade, Barão de Propriá, que foi quem primeiro substituiu a Inácio Barbosa, de João Gomes de Melo, o barão de Maruim, que assumiu logo depois. Entre a doença e a morte do presidente e os intervalos entre nomeação e posse dos seus sucessores, houve um lapso de tempo precioso, que, no entanto, não atrapalhou a obra de construção da nova capital. A história guarda tais nomes, cobrindo aproximadamente sete anos, dos quais cinco são vinculados, diretamente, com a mudança da capital.


Em janeiro de 1860, quando o navio Apa, rebocado pelo vapor Aracaju traz o Imperador Pedro II, sua mulher e comitiva, a cidade era um canteiro de obras. Pedro II ocupa o acanhado Paço Provincial (Delegacia Fiscal), tornando-o a mais importante das construções, decorado com zelo para atender a tão importante visitante. O prédio fora aumentado com uma galeria, dois quartos, e alguns “departamentos” no seu interior. Foi todo pintado de amarelo, com portas e janelas de branco, e no seu oitão um mastro grande para hastear a bandeira do Império. O corredor da entrada principal achava-se ladrilhado com as pedras sergipanas do Sapucary, que segundo foi anotado pelo médico Luiz Álvares dos Santos, redator do Correio Sergipense, eram extraídas em lugar da margem do rio Sergipe, distando duas léguas. As pedras eram identificadas como marne e consideradas “um lindo lajedo imitando o mármore branco.”

 

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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