Livro na Rua

O editor Victor Alegria, da Thesaurus Editora, de Brasília, acaba de lançar uma coleção de textos, dita Biblioteca do Cidadão, para distribuição em massa entre estudantes e leitores em geral, gratuitamente, valorizando as biografias de brasileiros e de portugueses ( o editor é português de nascimento), com antologia de textos em verso e em prosa. O título da coleção é LIVRO NA RUA e o folheto de cordel parece ser o tipo gráfico imitado, para levar ao público autores e textos.

O número 14 da coleção enfoca Bittencourt Sampaio (1834-1895) e suas poesias. È um autor sergipano, nascido em Laranjeiras, bacharel pela Faculdade de Direito de São Paulo, deputado geral, republicano dos mais antigos, autor de versos antológicos, ainda hoje cantados e recitados, como os da Modinha Quem Sabe?, que teve música de Carlos Gomes, o grande maestro brasileiro, nascido em Campinas, São Paulo. Quem faz a apresentação e dá a notícia biobibliográfica do autor é o também sergipano Fontes de Alencar (Luiz Carlos Fontes de Alencar, nascido em Estancia em 1933, professor das Universidades de Sergipe e de Brasília, membro das Academias Sergipana e Brasiliense de Letras, autor de vários títulos, dentre eles História de uma polêmica, sobre a questão do Acre, que contou com a participação do jurista sergipano Gumercindo Bessa), que pretende associar-se ao editor da Thesaurus na divulgação de autores e textos de Sergipe, a exemplo do trabalho sobre Bittencourt Sampaio.

Vez por outra circulam pelo País idéias de aproximação da cultura com as camadas populares. Em pleno debate das novas teorias da ciência, estudantes do Ceará organizaram a Padaria Cultural e instalaram escolas populares, nas quais mais do que o alfabeto para ensinar a ler, introduziram os temas mais apaixonantes daquele tempo. Escolas noturnas, populares, enriquecidas por conferências proliferaram em várias partes do Brasil, animadas pelos jovens que reinterpretavam a formação da sociedade e da cultura brasileiras. Em Sergipe a criação da Liga Sergipense contra o Analfabetismo, em 24 de setembro de 1916, representou um esforço de reunião de intelectuais locais, apoiados pela Maçonaria, para levar escolas aos bairros e populações humildes de Aracaju e a alguns núcleos urbanos do interior do Estado.

Também já foram registradas iniciativas de popularização do livro, como forma de expansão cultural. O SAPS, restaurante popular criado na década de 1950, chegou a organizar estantes de livros em suas lojas, estimulando com a leitura o lazer dos trabalhadores. Diversas outras idéias chamaram a atenção dos brasileiros para a necessidade da leitura, muito embora elas tenham fracassado pela falta de sensibilidade dos Poderes Públicos.

Já fiz registro de uma Livraria de Aracaju, que na década de 1930 alugava, a preços módicos, livros para fomentar a leitura. De igual modo já tornei conhecido o trabalho do pedreiro Evandro Santos, sergipano de Aquidabã, que no bairro da Penha, na cidade do Rio de Janeiro, organizou e mantém aberta ao pública a Biblioteca Tobias Barreto, embrião de muitas outras que estão sendo organizadas em outros bairros da cidade maravilhosa. Chama a atenção o fato de que quem está liderando a  revolucionária idéia não é um intelectual, ou um órgão público, mas um homem simples, trabalhador, que fez da sua casa um centro cultural.

A Biblioteca do Cidadão, lançada por Victor Alegria da Editora Thesaurus é uma síntese perfeita de tudo o que antes já se fez, no Brasil, em favor da leitura. O Livro na Rua é uma oportunidade de colocar ao alcance do cidadão, uma coleção de textos de autores que o tempo escondeu, como é o caso de Francisco Leite de Bittencourt Sampaio, cuja memória tem sido preservada muito mais pelas suas ligações com a Federação Espírita Brasileira, da qual foi fundador, do que pela qualidade dos seus versos, muitos dos quais imortalizados, como Quem Sabe?…

                               “Tão longe de mim distante

                               Onde irá,

                               Onde irá teu pensamento?

                               Tão longe de mim distante

                               Onde irá, onde irá teu pensamento?

                               Quisera, saber agora

                               Quisera, saber agora

                               Se esqueceste, se esqueceste

                               Se esqueceste o juramento.

 

                               Quem sabe se és constante

                               Se ainda é meu teu pensamento

                               Minha alma toda devora

                               Da saudade, da saudade

                               Agro tormento.

 

                               Tão longe de mim distante

                               Onde irá

                               Onde irá teu pensamento?

                               Quisera, saber agora

                               Se esqueceste, se esqueceste

                               O juramento

 

                               Quem sabe se és constante

                               Se inda é meu teu pensamento

                               Minha alma toda devora

                               Da saudade, da saudade

                               Agro tormento.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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