Fontes do Cordel

Texto em espanhol erudito, que serviu de fonte para o folheto da Princesa Magalona
A morte de Joseph Luyten, um holandês encantado com as coisas do Brasil, da cultura popular e especialmente da Literatura de Cordel, não apenas interrompe um trabalho de cátedra e de edição, dos mais primorosos, como esvazia um debate proveitoso sobre a sobrevivência cronológica do Cordel. Luyten defendia apenas cem anos para o aparecimento do folheto no Brasil, pouco mais, enquanto outras correntes buscam comprovações para fazer recuar, em décadas, a história desse tipo peculiar de literatura, situado na fronteira entre o oral e o escrito, entre o livro e o almanaque, entre a criação e a recriação.

 

A impressão e reimpressão de folhetos no Recife, em Pernambuco, nos anos de 1860, atribuindo a um certo padre Lemos a responsabilidade pelas edições, fez aflorar títulos que o Cordel consagraria, como os que Luiz da Câmara Cascudo enfeixou como os livros do povo: A História da Donzela Teodora, João de Calais, Roberto e o Diabo, A Princesa Magalona, História da Imperatriz Porcina, cinco folhetos que foram citados também por Sílvio Romero, nos seus estudos sobre a literatura popular, publicados na década de 1870. Já naquele tempo, o pesquisador sergipano lamentava a decadência daquela poesia simples, exaltando personagens do velho mundo, que com seus emblemas figuravam nos guardados do povo ibérico. Pendurados nos cordões, nas livrarias, os folhetos conquistaram leitores justamente pelas estórias que, em prosa e depois em verso, tratavam. O alarme de que os folhetos rareavam, dado por Silvio Romero, não se confirmou e a Literatura de Cordel resistiu e mesmo infestada de autores que não são poetas populares, continua sobrevivendo.

 

Assim como se atesta a força do folheto de Cordel no Nordeste brasileiro, se pode buscar as referências mais antigas, desse tipo de arte literária no Brasil. Para atestar a antiguidade do Cordel, por exemplo, não é necessário revolver o que de semelhante Portugal e Espanha produziram, com livretos e Pieglos Sueltos.

 

Instalada na rua da Quitanda, 77, no Rio de Janeiro, a Livraria Universal de E. e R. Laemmert publicou e comercializou, anunciando nos jornais e seu próprio Almanaque, como o fez em 1846, diversos títulos de folhetos, como:

                  

Astúcias de Bertholdo

                  

Bertholdo, Bertholdinho e ceresseno

                  

História Verdadeira da Princesa Magalona e do Nobre e Valeroso Cavalheiro Pierre,

 

Pedro de Provença e dos muitos trabalhos e adversidades que passaram

                  

História da Donzela Teodora em que trata de sua grande formosura e sabedoria

                  

História do Grande Roberto do Diabo

                  

História da Imperatriz Porcina

                  

História de João de Calais

 

Além de tais folhetos, que o Cordel imortalizou no Brasil, circulavam outros textos, como A Pele do Burro, Jardim da Mocidade ou Biblioteca Romântica e Moral, Contos e Historietas próprios a formar o coração e a inspirar o amor da virtude, dedicado às mães de família, História nova do Imperador Carlos Magno e dos Doze Pares de França, dentre outros títulos. A Literatura de Cordel tem, assim, uma certidão de vida de 160 anos e seus folhetos podem ser encontrados, hoje, na banca do poeta João Firmino Cabral, no Mercado Antonio Franco, de Aracaju, e nas bancadas das feiras nordestinas, com o viço atraente, como se fosse uma novidade.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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