Aracaju 150 anos + 3 (II)

O desmonte do Morro do Bonfim, imensa duna que sobreviveu um século no meio da planta de Pirro, fornecendo areia para os aterros da capital, foi a mais importante obra pública do ano do Centenário. O Governador Leandro Maciel repetiu outros governantes do Estado, que terminaram deixando grandes contribuições na modernização da cidade de Inácio Barbosa. Além de construir o novo prédio da Escola Normal – Instituto de Educação Rui Barbosa -, de construir a estrada de acesso asfáltico à cidade, pela atual Avenida Osvaldo Aracaju, Leandro Maciel fez a estrada Aracaju-Atalaia, a Ponte Presidente Juscelino, sobre o rio Poxim, a estrada Atalaia-Aeroporto, asfaltada, que permitiu a instalação do Aeroporto Santa Maria, inaugurado em janeiro de 1958,  em substituição ao Campo de Aviação, e abriu, ainda, a estrada Atalaia-Mosqueiro.

 

Sem o Morro do Bonfim e com acesso ao mar, Aracaju deu um salto na consolidação do seu projeto de cidade planejada. O centro foi convenientemente agenciado e serviu ao comércio, recebendo obras de vulto como a Estação Rodoviária, construída no Governo Luiz Garcia. A Atalaia passou a ser uma área, atraente, de expansão urbana, consolidada duas décadas depois, com o projeto do Bairro Coroa do Meio, que recebeu nova Ponte, a Godofredo Diniz, sobre o rio Poxim. Aracaju deixava de ser uma cidade apenas ribeirinha, para ganhar e incorporar o mar, para onde levou toda uma estrutura de lazer e entretenimento. Prédios imponentes, públicos como o Edifício Walter Franco, o Hotel Pálace de Aracaju, particulares como os edifícios São Carlos, na Praça Fausto Cardoso e Atalaia, na Avenida Ivo do Prado. Antes de terminar a década de 1960, Aracaju ganhou o edifício Estado de Sergipe, de 27 andares, e o Estádio Lourival Baptista, o Baptistão.

 

Nos anos seguintes foram abertas avenidas estruturantes e construídas obras que podem ser consideradas fundamentais para manter, sob o ordenamento original, o crescimento da cidade. A zona sul foi a que mais cresceu, a partir do Bairros São José, Grageru e 13 de Julho. Novamente seria preciso aterrar velhos mangues e córregos, para a abertura de ruas e a edificação de casas e prédios de apartamentos. Paralelamente a obras públicas, como o Ginásio de Esportes Constâncio Vieira, a Biblioteca Epifânio Dória, ambos na continuação da Rua Vila Cristina, surgiram centenas de casas, a partir do Conjunto João Alves, e dezenas de edifícios de apartamentos, que se tornaram conhecidos como “Norcolândia.” A nova Avenida Francisco Porto (Saneamento) encheu-se de casas e de prédios e sua continuação, Avenida Gonçalo Rollemberg (Nova Saneamento) levou, na direção oeste, um grupo enorme de condomínios de apartamentos. Na região do Bairro São José proliferaram as clínicas e pequenos hospitais, consultórios, lojas, dinamizando o crescimento, sempre mantido o bom gosto das construções.

 

Por qualquer ângulo que seja vista e para qualquer direção que o olhar seja lançado, Aracaju cresceu mantendo exemplares de uma arquitetura eclética, que chama a atenção dos estudiosos. Da zona norte, onde estão as moradias mais simples, para a zona oeste, onde o Bairro Siqueira Campos funciona com vida própria e expande sua influência para outras áreas, o ritmo de construção aponta para um tipo novo de moradia, o de dois e até três pavimentos, melhoria física que permite maior conforto, mantendo as famílias reunidas. Para a zona sul, por todos os caminhos, Aracaju atravessou o bairro de Atalaia e encostou suas construções, principalmente condomínios, nos rios que antes banhavam a zona rural da capital. Robalo, São José, Gameleira, Areia Branca, Terra Dura, Arrozal, Aloques, eram povoados que foram incorporados ao crescimento urbano da cidade, ao lado do mar, onde a Rodovia José Sarney pontifica como um caminho turístico para o sul, até a foz do rio Vaza-Barrís, que em breve ligará com o município de Itaporanga, a fronteira que falta para garantir o futuro da capital sergipana.

 

A visão de 2005, que incorpora avanços fantásticos, atesta a capacidade de crescer de uma cidade que tanto mais velha fica, mais bonita se apresenta aos olhos de todos, dos de casa e dos que chegam, atraídos pela riqueza cultural que o turismo promove. O Bairro Jardins é o melhor exemplo, pois reúne tudo o que se pode afirmar de Aracaju: beleza, classe média forte, bom gosto na moradia, convivência civilizada. É evidente que a cidade continua com problemas sérios, antigos, desafiando as autoridades. É certo que a capacidade de investimentos, responsável pela construção da Ponte Construtor João Alves, ligando Aracaju e Barra dos Coqueiros e ao Porto, a Pirambu e daí em diante, ou pela construção do Viaduto Jornalista Carvalho Deda, que são duas obras que enchem os olhos de todos, não tem seqüência em outras ações, como a de pavimentação da Atalaia, o asfaltamento das ruas movimentadas do Bairro Siqueira Campos e outras obras de saneamento, embelezamento e florestamento, que desde 1855 são necessárias e essenciais à sobrevivência de Aracaju, não mais como um projeto de engenharia, mas como uma bela e bem realizada realidade, produto do sonho, da competência, do empenho e do trabalho de todos os sergipanos.

 

O futuro já chegou e causa preocupações. O caso mais grave é o do trânsito, onde a peleja diária dos motoristas, motociclistas e ciclistas em tráfego pesado, ruas estreitas, além de vícios e privilégios que complicam a solução dos problemas. O doublé de médico e político Antonio Samarone, estudioso das condições sanitárias de Aracaju, tem tocado em cada um dos problemas, e tentado ordenar o trânsito, pela SMTT, de forma a tornar menos estressante a locomoção pela cidade. Há ganhos visíveis nas suas ações, mas há obstáculos, de várias etiologias, dificultando o trabalho do professor Samarone, como, por exemplo, a contínua entrada de novos carros, em grande quantidade mensal, para circularem no mesmo traçado e nas mesmas e acanhadas ruas de Pirro e de outros, continuadas com as mesmas dimensões, ao longo da história de 153 anos. E mais: a falta de áreas e prédios de estacionamentos, a saturação de certas zonas, onde o transporte coletivo concorre para o caos, como no centro comercial da cidade, e a falta de vias de escoamento rápido, do centro para os bairros e para as áreas de expansão residencial, nos municípios de Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão, e de equipamentos, como viadutos, pontes, vias expressas, e formas alternativas de transporte de massa.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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