TRÊS REVOLUÇÕES SERGIPANAS

O movimento tenentista brasileiro conquistou a oficialidade de poucos quartéis, com seus apelos revolucionários, como uma República depurada dos vícios, e estandartizada pela efetivação de mudanças que corrigissem o País em seus desvios. A proclamação da República em 15 de novembro de 1889 levou quase dois anos para organizar o novo regime e ainda assim viveu crises sucessivas, parte delas decorrentes da adesão de políticos da Monarquia, que negociavam espaços no plano nacional e muito especialmente nos Estados. As lideranças republicanas não resistiram ao assédio dos políticos e tentaram, de todas as formas, acordos eleitorais, mesmo corroendo princípios e negado valores e compromissos firmados nas ruas do Brasil.

 

Em Sergipe os grupos erguidos pela República logo se desentenderam. A adesão do padre Olímpio Campos não poderia ser entendida como um aceitação dos ideais republicanos. A reação de alguns históricos do movimento, como foi o caso de Fausto Cardoso, levou a uma repulsa pública, organizada, que produziu a Revolução de 10 de agosto de 1906, que depôs e exigiu a renúncia do Presidente do Estado, Desembargador Guilherme de Souza Campos, irmão do padre Olímpio Campos, e do Vice-presidente Pelino Nobre, homem da mais e irrestrita confiança do grupo olimpista. A Revolução de Fausto Cardoso era como um dique de resistência, contra o oportunismo, e agregava setores sociais marginalizados. Não sem razão que ao seu lado, e lutando pela sua causa, também tombou sem vida o saveirista Nicolau.

 

Os faustistas entregaram o Poder do Estado ao Tribunal de Relação,e instalou o Governo Revolucionário sob a chefia do Desembargador João Maria Loureiro Tavares, que na condição do mais idoso membro do Poder Judiciário assumiu, interinamente a presidência, em lugar do titular, Desembargador José Sotero Vieira de Melo que estava afastado. No ano seguinte, 1907, o Desembargador João Maria Loureiro Tavares foi aposentado, pelo Presidente do Estado Guilherme de Souza Campos, já de novo titular do Governo de Sergipe.

 

Os tenentes manifestaram solidariedade aos colegas de São Paulo, que em 5 de julho de 1924 tiraram do Poder o Presidente Carlos de Campos. Os tenentes Maynard, Soarino e o capitão Eurípedes desapearam do Poder o Presidente Graccho Cardoso, no dia 13 de julho, e tornaram públicas as razões do movimento armado. Foram dias de tensão, até que as forças lideradas pelos tenentes, constituíram um Governo Militar, enquanto da parte do Governo Federal era organizada uma força “legalista”, que pudesse repor Graccho Cardoso ao Governo. A desproporção da força federal em relação aos revolucionários do 28 BC foi decisiva para por fim ao movimento tenentista.

As reações do grupo liderado pelo tenente Maynard, tanto em Itaporanga da Ajuda, quanto no Tramandai, em Aracaju, nas areias da Praia Formosa, mostraram o poderio do Exército nacional, desmantelando o grupo militar local, também do Exército. Perdidos, presos e processados, os tenentes não evitaram a retaliação promovida pelo Presidente Graccho Cardoso. A primeira delas, a punição do Desembargador Manoel Caldas Barreto Neto, que na qualidade de Presidente do Tribunal de Relação concedeu audiência a Junta Militar dos tenentes. Seu ato foi considerado pelo Presidente Graccho Cardoso uma traição, justificando o seu afastamento, o que, evidentemente, empobreceu o Poder Judiciário, pela ausência de um homem de grandes qualidades, com uma biografia notável. O Desembargador Caldas Barreto foi morar no Rio de Janeiro e lá morreu, menos de quatro anos depois, sem retornar a Sergipe. Outra conseqüência funesta para o Estado, foi o modo como o Presidente Graccho Cardoso agradeceu ao Presidente da República, pelo apoio recebido para manter-se no Poder. Graccho Cardoso preteriu as candidaturas dos generais José de Siqueira Menezes, candidato a reeleição e Ivo do Prado, disputante de uma vaga no Senado Federal. Ele apresentou o nome do senador amazonense Lopes Gonçalves, que foi eleito por Sergipe para ocupar a vaga do Senado Federal. Desgostoso, Ivo do Prado morreu logo depois. Lopes Gonçalves passou todo o tempo no senado, distante da realidade sergipana.

 

Os tenentes fizeram nova tentativa de tomada do Poder e cercaram o Presidente Graccho Cardoso, seu irmão, o então Intendente Hunald Cardoso e outros auxiliares do Governo, como Ascendino Leite, Chefe de Polícia. A nova revolução eclodiu em 19 de janeiro de 1926 e durou pouco tempo para ser reprimida. Ascendino Garcez foi recompensado com a nomeação para Desembargador do Tribunal de Relação do Estado de Sergipe. Com a Revolução de 1930 o tenente Augusto Maynard Gomes chegou, finalmente, ao Poder, assumindo a Interventoria Federal. E já em 1931 declarava feriado o dia 13 de Julho, que foi o nome que tomou a Praia Formosa, com plano de arruamento em terrenos de Josué Cunha e filhos, pela Lei 07/1949, a partir da abertura da atual avenida Beira Mar, ligando a Praia 13 de Julho à Ponte do rio Poxim, como diz a Lei 6/1949.

 

Os fatos ocorridos após a Proclamação da República dão margem a várias leituras interpretativas, sublinhando o adesismo, o oportunismo, a troca de favores, as coligações de última hora, a junção dos contrários, enfim toda uma patologia política que tem vigorado ainda hoje no Estado de Sergipe. Sujeitos e vítimas, perderam seus nomes, quase todos, no descaso para com o registro e a memória dos fatos. Resta o lúdico, que faz da Praia 13 de Julho, há muito desativada como área de banho e de exposição ao sol, um lugar novo em sua urbanização, atraente em sua beleza, como um dos cartões postais da cidade de Inácio Barbosa. A data não é mais um feriado, nem a motivação que lhe trocou o nome guarda destaque no primeiro plano da história. Os personagens centrais, Graccho Cardoso e Augusto Maynard Gomes, se tornaram próximos e fizeram coligações partidárias, como se nada houvesse acontecido em 13 de julho de 1924. As vítimas, como o Desembargador Manoel Caldas Barreto Neto, não mereceram maiores homenagens. O Tribunal de Justiça silenciou, desde lá daqueles tempos vencidos. Os generais Siqueira Menezes e Ivo do Prado, apesar da glória de cada um nas fileiras do Exército e no serviço prestado a Sergipe, morreram e estão esquecidos, ainda que figurem, respectivamente, numa Praça no bairro Santo Antonio e numa avenida no centro da cidade.

 

10 de agosto de 1906, 13 de julho de 1924 e 19 de janeiro de 1926 são gratas referências sergipanas, mesmo porque, como ensinou Fausto Cardoso, “a liberdade só se prepara na história, com o cimento do tempo e o sangue dos homens.”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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