O velho (e sempre novo) Tobias

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Tobias Barreto tem sido uma referência inesgotável para Sergipe, por conta de sua obra de crítico, fundante para a cultura brasileira, com repercussão permanente, ainda que ele tenha nascido em 1839, na então Vila de Campos do sertão do rio Real, tirado carta de bacharel e de doutor em Direito em 1869, na Faculdade de Direito do Recife, tenha vivido 10 anos em Escada, pequena cidade da mata sul pernambucana,  e tenha morrido velho, aos 50 anos, em 1889, no Recife.

Impressiona a sua obra de poeta, afinado com a estética mais nova e engajado nas causas mais justas, reunida no livro Dias e Noites, cuja primeira edição data de 1881. Surpreende a sua obra filosófica, a partir dos ensaios e estudos publicados em 1875, divisor de águas entre o entendimento clássico do pensamento e as novas idéias que começavam a circular no mundo, reformando o saber. E mais ainda causa espanto a crítica do Direito, desde formulações inovadoras e até revolucionárias sobre o direito de punir, sobre as penas, os menores, as mulheres, o direito de autor. E a tudo se pode acrescer sua obra de crítica de arte, de política e de religião, seu germanismo como ferramenta de atualização cultural, seu largo conhecimento consolidado nas Obras Completas, que tem nova edição em curso, pela Editora IMAGO, do Rio de Janeiro.


Chama a atenção em Tobias Barreto a atualidade do seu pensamento, atraindo estudiosos que engrossam o coro dos admiradores, ao longo do tempo, desde os seus contemporâneos, como Clóvis Bevilácqua, Faelante da Câmara, Augusto Franco, Graça Aranha, Silvio Romero, Fausto Cardoso, Gumercindo Bessa, Sá Pereira, aos continuadores como Pontes de Miranda, Pinto Ferreira, Miguel Reale, Antonio Paim, Nelson Saldanha, Vamireh Chacon, Paulo Mercadante. Dentre muitos outros, intérpretes do caleidoscópio da obra tobiática. Mário G. Losano, de Milão, na Itália, Eugênio Raul Zafaroni, de Buenos Aires, na Argentina, e um grupo de professores e pensadores de universidades portuguesas, desde Francisco da Gama Caeiro, Eduardo Abranches do Soveral, Antonio Braz Teixeira, José Esteves Pereira, aos mais novos, como Pedro Calafate, Leonel Ribeiro dos Santos, Joaquim Domingues, Manoel Cândido, que estudam o pensamento tobiático e publicam livros que adornam a fortuna crítica do mulato sergipano. Nas academias brasileiras, mestres e doutores recorrem a Tobias Barreto, em busca de esclarecimento e ilustração, que o colocam no pedestal da imortalidade e ajudam a entender o Brasil e sua cultura. O velho e sempre novo Tobias dá a Sergipe, mais que a grandeza do berço, dá uma lição de inteligência que nutre a cultura, através do tempo, e que é o maior legado aos sergipanos.

Vamireh Chacon, professor nascido em Pernambuco, iniciado na célebre Faculdade de Direito do Recife, hoje no Departamento de Ciência Política da Universidade de Brasília, é autor de vasta bibliografia, parte dela referenciada em Tobias Barreto e na Escola do Recife, o que inclui gerações seqüentes, como a de Gilberto Freyre, considerada próxima daquele movimento renovador da cultura brasileira. Ainda jovem, Vamireh Chacon publicou Da Escola do Recife ao Código Civil – Artur Orlando e sua geração (Rio de Janeiro: Organização Simões Editora, 1969), dando uma contribuição notável aos estudos da obra de Tobias Barreto e dos integrantes principais da Escola do Recife, acrescendo o volume com vasta correspondência entre aqueles intelectuais reunidos em Pernambuco na segunda metade do século XIX.

Revisto e ampliado o livro reaparece, sob o título de Formação das Ciências Sociais no Brasil – Da Escola do Recife ao Código Civil (Brasília: UNESP/LGE/Paralelo 15, 2008), realimentando a circulação das idéias em torno da Escola do Recife e das figuras que marcaram o movimento e que ladearam Tobias Barreto, na reflexão e na difusão de uma cultura tanto universal, como aclimatada às condições próprias da formação social brasileira. O livro de Vamireh Chacon é por muitos aspectos inovador, tratando das relações entre os integrantes e da sobrevivência da Escola do Recife, destacando a atuação de Tobias Barreto, seu germanismo, e sua múltipla contribuição inspiradora, o que leva o autor a relacionar, dentro e fora do Brasil, os que revisitam a obra tobiática, ampliando o campo da admiração e do acatamento.

O que de melhor se pode fazer por um autor é difundir seu pensamento, publicar sua obra e levá-la ao conhecimento das novas gerações. Graccho Cardoso, Presidente do Estado, fez isto em 1926, José Rollemberg Leite, no segundo Governo, repetiu o feito em 1979, cabendo ao governador Antonio Carlos Valadares somar-se ao Governo Federal, através do Ministério da Cultura/Instituto Nacional do Livro, e lançar, pela Editora RECORD, do Rio de Janeiro, nova e comemorativa edição, em 1989/1990, em 10 volumes. A última edição reapresentou Tobias Barreto ao ambiente acadêmico nacional e internacional, mas está, há alguns anos, inteiramente esgotada. O interesse da Editora IMAGO, que publica as Obras Completas de Silvio Romero, em 21 volumes, dos quais já saíram 7, gera uma grande expectativa de colocar ao dispor dos leitores brasileiros e estrangeiros o pensamento de Tobias Barreto e sua ampla visão cultural, sua contribuição filosófica e crítica insuperáveis.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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