50 anos de um Manifesto – Seixas Dória e o Nacionalismo

Seixas Dória na bancada da Academia Sergipana de Letras, ladeado por acadêmicos e convidados em recente sessão
O Nacionalismo, que anda em baixo há muito tempo, reuniu políticos, intelectuais, homens da imprensa, partidos, e deu uma contribuição ainda hoje notável, protegendo a economia nacional de todas as formas de espoliação e de todos os jogos de interesses. A década de 1950, que repôs Getúlio Vargas no Poder pelo voto direto, viu crescer o debate em defesa do petróleo, animado pelo coro popular de “O Petróleo é nosso”, como viu criar a PETROBRÁS, ainda hoje e cada dia que passa é um símbolo nacional; assistiu, também, o surgimento do Banco do Nordeste do Brasil – BNB, da Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco – CHESF, como instrumentos direcionados para atender ao desenvolvimento do Nordeste. Outras iniciativas radicais, como a idéia de Luiz Carlos Prestes de criar um Exército Popular de Libertação Nacional, e culturais, como a fundação do ISEB – Instituto Superior de Estudos Brasileiros, marcaram a década de 1950, em si mesma tingida do sangue do Presidente Vargas, acossado no Palácio do Catete, morto pelas próprias mãos.

O Nacionalismo tem, no Brasil, vários símbolos, um deles foi a manifestação pública de um grupo de deputados federais, oriundos de diversos partidos, procedentes de vários Estados, unidos em torno da defesa da riqueza nacional, e da afirmação de princípios e valores que, naquele momento, representavam o maior e melhor compromisso com o Brasil e com o futuro dos brasileiros. Entre os deputados daquela legislatura um representava o povo sergipano. Eleito pela legenda da União Democrática Nacional – UDN, Seixas Dória estava na Câmara Federal, em 21 de abril de 1958, e participou do lançamento da Frente Parlamentar Nacionalista, apondo o seu nome no grande livro da história, ao redigir e assinar o Manifesto, documento pouco conhecido dos brasileiros, e que pela sua significação vai aqui transcrito, em homenagem a Seixas Dória, político que atravessou o tempo sem perder as suas esperanças, e que tornou-se mais que um orador culto e eloqüente, um soldado da defesa das riquezas nacionais, e da democracia, levando ao País todo a sua voz autorizada e acreditada, de um homem público vocacionado para o convívio com as massas, para o contato pedagógico com as gerações de estudantes e intelectuais, demonstrando o quanto de útil se pode fazer com um mandato, independentemente da dimensão territorial do Estado.

 

 

“Os deputados, que assinamos a presente proclamação, nos comprometemos a defender o regime democrático, as franquias constitucionais e a nos opor, por todos os meios, a toda e qualquer medida que vise direta ou indiretamente, a restringir qualquer dos direitos e garantias que asseguram ao home a vida livre, destemerosa, e a segurança contra a opressão política ou econômica. Não toleramos nenhum expediente que, clara ou veladamente, imponha ao povo uma opinião política, uma crença religiosa ou uma atitude cívica não ditada por sua consciência e íntima convicção.

Como legisladores, só propugnaremos medidas e proposições que não retirem ao povo brasileiro nenhuma das liberdades constitucionais, antes ampliaremos, dentro das conveniências da ordem pública, as providências que assegurarem o aprimoramento dos costumes e práticas democráticas e republicanas.

Estamos, por outro lado, atentos ao fato social e econômico e conhecemos as dificuldades por que passa o País na hora presente. Dispomo-nos por isso a cooperar em todas as medidas tendentes a melhorar a situação atual, visando ao bem estar do povo, à consolidação das instituições e ao resguardo do País de medidas que possa comprometer o futuro da nacionalidade e o sentido de seu desenvolvimento econômico, cultural e político.

Em suma, os perigos da hora atual têm que ser considerados para evitar-se que, a seu pretexto, se atente contra a liberdade tradicional de nosso povo, contra o vigente regime constitucional, ou se envolva o País em compromissos econômicos ou financeiros que subordinem seu desenvolvimento a interesses dominadores estrangeiros ou de qualquer modo, comprometam a grandeza do seu futuro próximo.

Somos, pois, contra as providências ditadas pelo alarmismo, pelo medo, ou pelo oportunismo dos inimigos da democracia, quer da direita, quer da esquerda.”*

 

 

Seixas Dória, que seria novamente eleito deputado federal, em fins de 1958, projetou-se ainda mais em todo o País e foi eleito governador do Estado de Sergipe, na eleição de 1962, aumentando sua presença no cenário nacional, ao defender as Reformas de Base do Presidente João Goulart, antes que o movimento militar de 31 de março de 1964 barasse as atividades políticas dos progressistas brasileiros. Seixas Dória foi deposto, preso, mandado para a ilha presídio de Fernando de Noronha, teve os direitos políticos suspensos por 10 anos, mas em 1982 retornou à cena política, no MDB, assumiu lugar na Câmara Federal, como suplente, e reeditou, um Manifesto de uma nova Frente Nacionalista, atestando sua coerência com os mesmos ideais que marcaram sua vida pública. Aos 92 anos, Seixas Dória movimenta-se entre os sergipanos cercado do respeito e da admiração que sua biografia de homem público respalda.

 

* Publicado na Gazeta Socialista, em 19 de abril de 1958.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais