Um jornal, seus personagens e seus leitores

Alberto Falk
Dedicado à memória de Alberto Falk

Jornais, alto falantes, rádios e televisões animaram a capital e principalmente o interior, antes que os processos globalizantes assumissem relevo na vida das comunidades. Os jornais em Sergipe vêem de 1832, quando a pequena tipografia de Silveira & C. fazia publicar o Recopilador Sergipano, para documentar a vida oficial de Sergipe emancipado da Bahia em 1820, feito Província pela Constituição imperial de 1824. Outros jornais entraram e saíram de circulação, antes do Correio Sergipense, editado pela Tipografia Provincial, de 1840 a 1855, em São Cristóvão, e de 1855 a 1866 na nova capital, Aracaju. Em vários municípios sergipanos – Estância, Maroim, Santo Amaro, Propriá, Neópolis, Laranjeiras, Itabaiana, Capela, Rosário e outros – foram editadas pequenas folhas, produzindo e distribuindo informações e comentários, cedendo espaço aos intelectuais e promovendo anúncios comerciais, marcando a evolução cultural da Província e do Estado.

Os serviços de alto falantes, com um pequeno estúdio e com “bocas” espalhadas em pontos estratégicos das cidades, têm lugar marcante na história social e cultural de diversos municípios sergipanos. No ar em certos horários, o som tanto podia transmitir uma nota fúnebre, como levar uma crítica política, entremeando com uma programação de músicas, fazendo tocar, repetidamente, os sucessos das gravações em 78 rotações. Em Tobias Barreto D. Lindaura tinha um serviço de alto falantes e com ele defendeu o leandrismo que abraçara ainda na mocidade. Nos tempos de D. Lindaura, em Tobias Barreto não havia meio termo: a população era dividida entre boca preta e rabo branco, ou udenistas e pessedistas. Até para o lazer dos bailes existiam dois clubes, a sede, da UDN, e o sobrado, do PSD.

            O rádio representou um enorme avanço, pois pelas suas ondas chegavam ao interior sergipano as vozes dos atores das radionovelas, dos cantores famosos, com seus programas. e dos locutores que transmitiam notícias ou liam textos intelectualizados, como as crônicas do sergipano Genolino Amado. Mesmo quando não havia luz elétrica nas cidades, as pessoas compravam receptores de bateria, que passavam o dia no tunga, para que a noite o rádio funcionasse e servisse de lazer da população. Depois chegou a televisão, fundindo sons e imagens, que evoluíram para a cobertura em tempo real, através de sinais de antenas parabólicas ou de transmissões via satélite, através de redes abertas e fechadas.

            Um jornal – Styllo – e um jornalista – Alberto Falk – deram a Tobias Barreto e à sua população um instrumento aglutinador, que por anos seguidos exaltou a figura genial de Tobias Barreto de Menezes, dedicando-lhe números especiais e referências contínuas, como a afagar o ego dos conterrâneos do gênio nascido às margens do rio Real, ainda nos tempos da Freguesia evocativa de Nossa Senhora  Imperatriz dos Campos do Sertão do Rio Real. Nenhuma comunidade zelou tanto por um vulto conterrâneo, como Tobias Barreto, a cidade, fez com Tobias Barreto, o poeta e pensador. Centrado no eixo da cultura, Alberto Falk circulou com seu jornal por todas as camadas, por todos os poderes, entre todos os políticos, muito embora, vez por outra, não escondesse as suas preferências. Por conta da interação com a cidade, a população ganhou rosto, trajo, modos, refinando-se nas páginas do jornal Styllo, nos números especiais de revistas e nas festas que davam visibilidade a rapazes e moças bonitos, a comerciantes e proprietários, políticos e administradores, homens e mulheres que fazem o cotidiano de Tobias Barreto.

            O jornal, que tem como jornalista responsável Ivan Valença, decano do jornalismo e da crítica de cinema, e na administração José Alberto Oliveira Rodrigues, nome de batismo de Alberto Falk, passa pelo transe que a morte do seu animador provoca na sociedade tobiense, repercutindo em outras cidades da região e em Aracaju, onde o jornal circulava e tinha crédito. A doença, a dor, o sofrimento e o abatimento não tiraram de Alberto Falk a força para rodar o seu jornal Styllo, como expressão de um tempo novo que a cidade e a população de Tobias Barreto viveram. Talvez seu grande final, como promotor de eventos, foi o II Encontro dos filhos e amigos de Tobias Barreto em Aracaju, em final de agosto deste ano. Na capa do jornal de agosto, anunciando a festa, estava lá, com seu olhar lançado no futuro, o gênio de Tobias Barreto no bronze da admiração que Alberto Falk exaltava, em nome de todos os tobienses. Morto, fica o trabalho exemplar, digno de ser seguido.

            

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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