O prefeito e a praça

                                                                                             Luiz Antonio Barreto

 

 

Com uma festa discreta, a Prefeitura de Aracaju inaugurou a reforma feita na Praça Fausto Cardoso, celebrando, de algum modo, o aniversário da mudança da capital, ocorrido no dia 17 de março. O Governador Marcelo Déda, muito sabiamente, elogiou a praça como espaço da vida e da história da cidade, com toda a sua importância cívica e cultural, dando mais um espetáculo de oratória política. O Prefeito Edvaldo Nogueira evocou momentos de intensa mobilização política, tendo a praça como cenário, como ocorreu com o movimento das Diretas Já. A festa, portanto, teve todos os ingredientes de um aniversário, embora a participação popular fosse relativamente pequena e em parte compulsória.

 

As obras inauguradas deixam a Praça Fausto Cardoso entre um jardim interiorano, comum a todas as cidades sergipanas e brasileiras, e Paris, a luminosa capital francesa, com seus monumentos vistosos como ouro, faiscando nas manhãs de sol europeu. A olho nu, sem medir o que havia e o que sobrou da praça, parece que a grama plantada, 3.130 metros quadrados, e mais 27 árvores novas , sendo 10 palmeiras imperiais e 17 ipês (árvores ornamentais de flores amarelas ou roxas, citadas freqüentemente como árvore-símbolo do Brasil, e de grande variedade), perdem, em muito, para os calçamentos: piso de concreto estampado, vermelho e cinza, 2.572 metros quadrados, pedras portuguesas pretas e brancas, 7.584  metros quadrados e, de contra-peso, 258 metros quadrados de piso tátil. Ou seja: dos 14.713 metros quadrados de área total, 10.414 metros quadrados correspondem a soma do piso de concreto, das pedras portuguesas e do piso tátil. Há, sem dúvida, uma desproporção que desnuda a praça, deixando rala a parte florestada desde os primeiros tempos da construção de Aracaju. Não que a praça tivesse sido, ao longo do tempo, um primor de plantas ornamentais, mas porque parece ter perdido o rumo anterior, de florestamento aumentativo.

 

O Prefeito Edvaldo Nogueira tem crédito junto a população, por ser um bom Prefeito, atento com praças, canais, e outros equipamentos de uso social da cidade, e especialmente cuidadoso com a limpeza pública. No caso específico, o atual alcaide faz lembrar o Prefeito João Alves Filho, que abriu avenidas estruturantes, o Prefeito Heráclito Rollemberg, grande administrador e modernizador da cidade, chamado ao seu tempo de “Prefeito boa praça”, tal o cuidado com os logradouros públicos. E também faz lembrar o Prefeito Almeida Lima, que deixou marcas de sua gestão, ainda hoje atraentes, como o monumento de boas vindas, junto ao Largo Inácio Barbosa, os cajus, papagaios e araras que distribuiu por outros lugares, e que viraram símbolos turísticos, além do verde disseminado no centro e em bairros próximos. É claro que outros administradores contam, na memória do povo, com reconhecimentos. Mas, no caso da Praça Fausto Cardoso parece que ficou faltando alguma coisa, que a reforma apequenou o logradouro, deixando a desejar.

 

Os jardins interioranos são bem arborizados, tratados, e servem de ponto de encontro, local de festas, de convívio diversificado, afamando praças como verdadeiros cartões de visitas, ou cartões postais. É da tradição urbanística que tais espaços mereçam a vigilância do zelo e, periodicamente, os melhoramentos úteis à população. A Praça Fausto Cardoso concentra, desde a virada do século XIX para o século XX, um conjunto de equipamentos, a contar com a Ponte do Desembarque, ou Ponte do Imperador, coretos, que mudaram de estrutura ao longo do tempo, estátuas, monumento a Fausto Cardoso, ereto em 1912, fonte luminosa, espaços de convivência, com bancos, além de um uma arborização que, desde os anos de 1960, tem sofrido diminuição.

 

Naquele tempo era a praga dos “lacerdinhas” que afugentavam os freqüentadores da praça, levando as autoridades municipais a cortarem as árvores, na suposição que estavam dando remédio definitivo aos pequenos e incômodos insetos. Desde então, a praça ganha e perde áreas verdes, ganha no rasteiro, com grama, perde na vegetação frondosa, capaz de oferecer sombra e conforto aos usuários. Vista assim, a praça ficou mais vazia, na impressão dos transeuntes, e para ser igual aos jardins do interior fica faltando apenas a igreja. Aliás, no projeto inicial do Engenheiro Pirro a igreja deveria ser construída no terreno que terminou servindo para a construção da Casa da Assembléia. A igreja Matriz, hoje Catedral, foi para outra praça, igualmente ou até mais florestada, que ganhou um parque e se mantém como área verde essencial ao centro da cidade.

 

Quanto a pintura, entre dourada e ocre, dos monumentos e estátuas, cabe dizer que a velha e sempre bela Paris tratou seus monumentos – Opera, Inválidos, e outros – com um dourado vivo, devendo ser, portanto, matriz utilizada pelos responsáveis pelas obras de recuperação da Praça Fausto Cardoso. Gosto é gosto, cada um tem o seu, no dizer do povo, embora na prática seja o que mais se discute. Já era tempo da Praça Fausto Cardoso ter sua própria memória, com reproduções fotográficas das diversas fases que passou, das diversas reformas que mudaram seu retrato de mais de 150 anos. Cabia bem, um Memorial, capaz de nutrir o sentimento de admiração diante da velha praça do povo, com as sedes dos Poderes, as procissões de Bom Jesus, as Missas do Galo, as Retretas, o Quem me quer domingueiro, os Comícios, as festas e os carnavais, de tudo o que fez o delírio da cidade e do seu povo, como a visita do Imperador Pedro II e sua comitiva imperial, desde 11 de janeiro de 1860.   

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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