O sotaque (sergipano) do Trio Jurii

Trio Juriti
A posição geográfica, próxima da Bahia, inibiu em Sergipe a criação de uma arte musical própria, com estilo e sotaque que identificasse a produção local. A presença constante dos artistas baianos, fieis aos ritmos da Bahia, sem incorporar as contribuições dos compositores sergipanos, isolou, praticamente, o grupo dos resistentes, que compõem, cantam, fixando uma arte que ainda precisa romper com as barreiras locais, para ser reconhecida.

No passado, os artistas iam para o Rio de Janeiro, como o fizeram Luiz Americano Luiz Americano Rego, Aracaju 1900, Rio de Janeiro 1960) saxofonista e clarinetista de várias orquestras, o compositor festejado de “Lágrimas de virgem”, Carvalhinho (José  Prudente de Carvalho, Aracaju 1913 – Rio de Janeiro 1970) autor de sucessos como “Quem sabe sabe” e “Madureira chorou,” que incendiaram o carnaval carioca, Pedrinho Rodrigues, intérprete requisitado pelas casas noturnas da cidade maravilhosa e cantor de “Eu não tenho onde morar” ou, ainda, José Bitencourt, que gravou um disco independente com a composição “Esmeralda”, que vendeu grande quantidade de discos e mais recentemente Edildécio Andrade, que foi garoto prodígio e hoje é o violão e a voz do lendário Trio Irakitan. João Melo e Raimundo Santos fizeram escala de sucesso em Salvador, antes de tomarem outros caminhos. João Melo foi cantor, compositor e produtor de carreira vitoriosa no Rio de Janeiro, a quem a música brasileira deve muito, e vive, felizmente, aqui em Aracaju, tocando e cantando, recebendo as homenagens que merece, como um filho pródigo. Raimundo Santos tem sua voz conhecida pelos discos que gravou na Rosemblit, no selo Mocambo, no Recife, cantando com a orquestra de Nelson Ferreira o Hino de Aracaju, em 1955, e o hino do Clube Esportivo Sergipe, em 1959, com sua voz potente, que sempre emociona.

A presença de Luiz Gonzaga, com suas apresentações antológicas, de Clemilda e Gerson Filho, com residência entre nós, de Durval Vieira, José Cândido, e mais recentemente de João Silva, tem dado a Sergipe uma sintonia com a chamada música nordestina, que tinha, como ainda tem, forte ligação com o ciclo de festas juninas. São vozes e composições de artistas que inspiraram o surgimento de valores nossos, uma geração que tem sustentado a idéia de uma música sergipana de boa qualidade. Neu Fontes, Rogério, Kleber Melo, Paulo Lobo, Nino Karva, Mingo Santana, Minho Son Live, Amorosa, Jorge Duci, Rubem Lisboa, Antonio Carlos du Aracaju, Sergival, Erivaldo de Carira, Luiz Paulo, Marcos e seu Trio Pé de Serra, dentre muitos outros, têm lutado, bravamente, para a visibilidade da música sergipana de raiz nordestina, tradicional. É grande a lista de outros artistas, criadores e intérpretes, igualmente merecedores dos elogios públicos.

Recentemente surgiu uma novidade: o Trio Juriti, que fez seu disco de estréia e quase passou desapercebido. Veio o segundo disco, com músicas e produção do experiente Mestre João Silva, velho parceiro de Luiz Gonzaga e autor de vários sucessos de público, confirmando o talento, a vocação, e a qualidade do grupo, formado por dois filhos de Erivaldo de Carira – Mestrinho e Thaís – e Scurinho, que também é da terra, filho de gente e artista da terra, dois nascidos em Aracaju e um em Itabaiana. Mestrinho é sanfoneiro, compõe e canta, Thaís toca triângulo, canta, e arrisca uma ou outra composição, enquanto o Scurinho toca a zabumba e engrossa o coro. Com base típica (sanfona, zabumba e triângulo) e harmonia, que são dos fundamentos da música popular nordestina, certa elegância e  charme, dançante, segurança no que passa ao público eclético de hoje, o CD dos jovens artistas esbanja a competência do grupo e oferece aos ouvintes e amantes dos ritmos do Nordeste uma rara oportunidade de festejar, diante de uma boa música, o sotaque sergipano do Trio Juriti. Com apenas 18 anos, Thaís pode se candidatar a ser uma diva que Sergipe e o Nordeste dão ao Brasil, como antes foi Marines e hoje, ainda, é Elba Ramalho.

Apesar de muito jovens, o grupo demonstra sotaque próprio, maturidade artística, profissionalismo, prometendo um aperfeiçoamento que, certamente, projetará nacionalmente a música de boa qualidade e bem produzida que até agora apresenta. Está em finalização um novo CD, já com artistas da mídia dando uma força, o que já é uma demonstração de aceitação e prestígio, certamente decorrente das apresentações que fazem pelo País. Não havendo acidente de percurso, não há dúvida quanto ao futuro do Trio Juriti. Basta ouvi-lo.

Clique aqui para ouvir Benzedeira, de João Silva.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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