Conto Popular

            O povo brasileiro guarda expressiva herança literária, provinda da Europa, da África, do Oriente, combinada com os grupos que participaram da formação étnica do Brasil. Romance, conto, cordel são três linguagens cujos acervos encantam, ainda hoje, a todos os que acessam a esse tipo de conhecimento que a memória do povo sustenta e que é parte do patrimônio artístico e cultural. Sergipe, terra de Silvio Romero e de João Ribeiro, dois especialistas em folclore, sempre manteve amplo repertório literário popular, ao lado da manutenção de danças, folguedos, autos, com os quais mantém reunidas as comunidades em torno de ciclos de festas.

            Bráulio do Nascimento, paraibano de nascimento, que residiu em Aracaju na sua juventude, acompanhando o pai, que era militar e servia no 28 BC, estabeleceu com a terra sergipana um vínculo indissolúvel, desde que financiou, quando dirigia a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, do Ministério da Educação e Cultura, o 1º Encontro Cultural de Laranjeiras. O evento é um divisor de águas, porque criado para pesquisar, estudar e promover o folclore, sob o pano de fundo das festas religiosas e populares de Santos Reis, que encerram o ciclo de festas do Natal. Nunca mais ele deixou de ter contato com Sergipe, merecendo o título de cidadão de Laranjeiras e outras honrarias que demonstram o agradecimento dos sergipanos, expresso pelas suas autoridades constituídas.

            Bráulio do Nascimento passou parte dos seus 85 anos viajando, anualmente, para Sergipe, a fim de participar dos Encontros Culturais de Laranjeiras, sendo ele próprio a melhor memória do esforço conjunto do Estado e da Prefeitura de Laranjeiras, que vigorou até poucos anos, quando o Encontro foi modificado em seu conceito, mantendo-se apenas como marca para outras discussões. Como Laranjeiras foi, por três décadas seguidas, uma escola livre de folclore, Bráulio do nascimento teve oportunidade de levar a auditórios de diversos paises europeus e a Estados brasileiros, o produto de suas pesquisas e reflexões, notadamente sobre o Romanceiro e o Conto Popular, que se tornaram livros repletos de abundantes exemplares de romances e de contos recolhidos em Sergipe, diretamente, ou através de Jackson da Silva Lima e Luiz Antonio Barreto.

            Quando completou 80 anos, a Paraíba festejou o aniversário de Bráulio Nascimento editando o seu livro sobre o Romanceiro. Agora, a Editora Terceira Margem, do Rio de Janeiro, publica  Estudos sobre o conto popular, reunindo ensaios já portadores de fortuna crítica, outros inéditos no Brasil, alguns apresentados em Sergipe, por ocasião dos Encontros Culturais de Laranjeiras. É um livro que recorre às pesquisas de Silvio Romero, que foi com quem tudo começou em termos de folclore nacional, e de outros autores. Um livro de um mestre, com rigor científico, enriquecido pela classificação tipológica e pelas transcrições de contos populares, alguns dos quais recolhidos em Sergipe, como o que tem o título de Medo grande e medo pequeno, recolhido em Cedro de São João, por Luiz Antonio Barreto e que tem a singularidade de existirem poucas recolhas, em todo o mundo, ou o fragmento do Polifemo, que recolheu diretamente, depois de ter variante pesquisada e gravada por Jackson da Silva Lima.

            Fiel ao seu trabalho, Bráulio do Nascimento apresenta ao Brasil e ao mundo uma amostra de parte da literatura popular brasileira, no espelho das influências e contribuições que marcam a cultura popular. Bráulio do Nascimento imortaliza, no seu livro, os contadores de estórias Lió, nascido em Neópolis, residente em Aracaju, recentemente falecido, e Desidério de Oliveira, de Cedro de São João, também já morto, qualificando-os pela importância de terem sido portadores de contos raros, antigos, singulares, que conotam com o selo da melhor qualidade o acervo sergipano. Lançado durante o Congresso Brasileiro de Folclore, realizado no Espírito Santo, o livro de Bráulio do Nascimento começa a circular nos ambientes de estudos, tanto no Brasil quanto no exterior, estando destinado a promover uma ampla reflexão que aumentará o repertório crítico da cultura popular.

            O folclore sergipano é uma coisa que concorreu, no tempo, com o açúcar, o algodão, o arroz, o petróleo, e não se esgota; desafia o tempo e as construções das obras, e a tudo resiste; disputa lugar nas apresentações musicais com artistas da mídia e mesmo assim sobrevive; e, discretamente, oferece exemplares de sua riqueza para a interface com o mundo. 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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