Pedro Garcia Moreno, farmacêutico que residiu em Laranjeiras, onde nasceram os filhos, em Maroim, onde tinha a Farmácia União e em Aracaju (na Avenida João Ribeiro, 1.301), endereço de onde enviou Carta à sua irmã Madalena Matos, filha, mais nova que ele,do padre João Batista de Carvalho Daltro, e moradora em Lagarto, querendo saber mais sobre Ioiô, pois assim ele tratava o pai. A Carta não tem data, mas com certeza é de abril de 1952, pois faz menção a um fato ocorrido em Lagarto, na sexta-feira da paixão – 11 de abril – mais precisamente no sítio Campo da Vista, de propriedade de D. Amélia Fraga Pimentel. Uma forte explosão abalou a cidade, às 15:30h daquele dia santo, danificando o material pertencente a empresa de Temístocles Menezes, que trabalhava na construção da estrada de ferro Salgado – Paulo Afonso, na Bahia, e causando enormes danos ao município, além do pânico da população. No início da Carta, Pedro Garcia Moreno diz: Legenda: Dr. Pedro Garcia Moreno (1880-1956)
“Madalena, que esta a encontre vigorosa no corpo e lúcida de espírito. Como se
foi você com o estampido atômico da catástrofe de sexta-feira da Paixão?
Li a notícia no Correio de Aracaju e Aldejebra me deu a conhecer minúcias
outras que não foram referidas pelo repórter do Correio. Um dia de juízo, um
horror para os lagartenses. Ainda bem que, Deus louvado, ninguém perdeu a
vida.”
Na tradição oral o padre Daltro tinha deixado apenas um filho, Pedro Garcia Moreno. Mas a Carta é reveladora. Ao dirigir-se a Madalena, Pedro Garcia Moreno passa uma “certidão” da sua própria descendência. A Carta contém um Questionário com mais de 20 perguntas e nela Pedro Garcia Moreno explica as suas razões, assim:
“Você, minha irmã, que com ele conviveu durante largo tempo do que eu,
por quanto mesmo após haver constituído o seu honrado lar, continuou
habitando no Lagarto e, consequentemente a freqüentar a casa paterna, há
de estar a par de muitas coisas da vida do padre Daltro que eu ignoro. É
preciso também levar linha de conta o ser você dez anos mais velha do que
eu e ter sido acolhida por ele, quando eu já contava, suponho, quatro anos ou
cinco.”
Pedro Garcia Moreno fez a Carta a Madalena, tentando esclarecer fatos da vida do Padre Daltro, que, ao que parece, circulavam na oralidade lagartense e sergipana. Ele havia sido convidado a proferir Palestra sobre o padre, no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, quando da aposição do retrato do vigário de Lagarto na Casa de Sergipe e precisava estar munido das informações que pedia. O documento, que estava nas mãos de Ester Matos, filha de Madalena, não parece ter sido respondido, formal e objetivamente, salvo se por meio de informes prestados por Gervásio Prata, que conviveu com padre Daltro somente nos dois últimos anos de vida, e Antonio Manoel de Carvalho Neto, ambos ligados ao religioso pelo parentesco que também os unia: o Carvalho.
Ao fim da Carta, Pedro Garcia Moreno diz:
“Minha boa irmã Madalena, aprove ao Onipotente fossemos vindos a este
mundo como bastardos de um padre, categoria social a quem os Concílios
(não Jesus, nem Paulo, nem Pedro) obstaram constituir família. Deus porém,
não condenou o homem, ele cumprindo a lei divina fundamental do crescei
e multiplicai-vos, pois lhe abençoou a descendência.”
O teor da Carta, obtido de Ester Matos pelo historiador Adalberto Fonseca e incluído no seu livro História de Lagarto, publicado em dezembro de 2002, é seguido, na mesma publicação, de um pequeno bilhete, dirigido por Pedro Garcia Moreno a sua sobrinha Ester, em 22 de maio de 1952, nos seguintes termos:
“Saúde e estado de graça, o que vale muito mais.
Você também recebe um pedaço do meu pedido, que é o de mandar-me cópia
do assentamento de nascimento de Maria e dos que acima depois dela, e de
emprestar-me pela segunda vez os descasos que foram providenciados por
ocasião da inauguração do busto do Monsenhor Daltro.
Agradeço-lhe Pedro.”
Maria seria outra irmã de Pedro, além de Madalena, ou outra importante personagem na vida do padre Daltro? O sobrenome Matos, colocado no nome de Madalena e da sua filha Ester, como parte de outra e nova família bem que poderia ser utilizado, porque era também da família do padre Daltro, como se vê no nome de outro padre, e seu parente, João de Matos Freire de Carvalho, dado a debates filosóficos e científicos, autor de um livro sobre limites entre Sergipe e Bahia, polemista que sustentava a prevalência do topônimo Anápolis, em oposição a Simão Dias.
O ano do Centenário da morte do padre João Batista de Carvalho Daltro, que coincide com o Centenário de nascimento do seu neto João Baista Peres Garcia Moreno, estimula a pesquisa, da qual se espera os devidos esclarecimentos sobre tão emblemática figura.