Das coletas sergipanas do vocabulário popular a de Carvalho Deda, inserida no livro Brefaias e burundangas do folclore sergipano, já em terceira edição, é a maior e a mais importante. É um ABC de vozes populares, recolhidas da vivência fronteiriça entre Simão Dias e Paripiranga. Outros autores, como Bernardino José de Souza, anotam termos, locuções, provérbios, e até ampliam para contos, adivinhas, quadras, como é exemplo Silvio Romero, pioneiro no País da recolha folclórica, dando ênfase ao que parecia ser mestiço.
O uso de uma linguagem popular, pelas camadas que vivem na zona rural do Estado tem aqui ou ali estimulado pesquisas, como as de Jackson da Silva Lima, que produziu muitos volumes, tendo publicado apenas um, o do Romanceiro, premiado nacionalmente e citado internacionalmente. A obra de folclore de Jackson da Silva Lima está inédita, pela falta de uma política editorial e de valorização do que é próprio, feito em casa, como se pode dizer da cultura popular dos sergipanos. Nas áreas urbanas também são encontrados, em épocas diversas, repertórios populares, guardados como um patrimônio social, que sobrevive pelo uso recorrente nas relações pessoais.
A publicação da série de artigos Vozes Populares tem provocado atenção e despertado interesse, através de manifestações por e-mail, ou diretamente, de viva voz, que vou incorporando.
Outras vozes, alguns arcaísmos, permitem divulgar um falar que tem características locais e regionais, como estas:
Latada – espaço cobertos de palha, junto ao qual se apresentam grupos folclóricos
Malhada – plantação de pequeno porte
Mata-burro – pequena ponte, de travas espaçadas, para impedir passagem de animais
Tarefa – antiga medida agrária equivalente, em Sergipe, a 3.650 metros quadrados
Oco do mundo – terra longínqua
Água que passarinho não bebe – cachaça
Greta – fresta
Vida-torta – errado, malandro
Bandalheira – algo errado, malandragem
Bambo – mole, sem sustentação
Caco – pedaço
Paroara – migrante
Pé-raspado – pobre
Sarará – mestiço de cor clara, cabelo ruivo encarapinhado
Mata-cachorro – subalterno, ajudante de circo
Rego – arroio
Rodeador ou Arrodeador – lugar onde os vaqueiros reúnem o gado
Caboré – mestiço, cafuso
Cocoruto – saliência de terreno, também saliência da cabeça, cascudo
Encosto – espírito ruim
Cafundó – lugar remoto
Pinguela – ponte pequena,
Pinguelo – Clitóris
Sesmaria – Antiga medida agrária equivalente a 3 léguas quadradas, ou 13.068 hectares
Mudunbim – amendoim
Tabaréu – homem do campo, caipira
Gastura – estado de náusea
Babugem – ramagem fina, rarefeita
Brabo – valente, indomado
Caruara – tremedeira, vento de trovoada
Perengue – situação difícil, constrangedora
Batim – mergulho
Adjutório – ajuda
Pitimeti – metido, enxerido, intrometido
Enxerido – intrometido
Afolozado – folgado, gasto
Sarongongo – Siriema ou Sariema
Caduco – velho, esquecido
Xibumga – pessoa sem valor, sem respeito, desqualificado
Manda-chuva – pessoa importante, poderosa (continua)