Morreu em Aracaju, aos 79 anos, e foi sepultado terça-feira, dia 26, o jornalista e escritor baiano Juarez Conrado. Jornalista experiente e político promissor na Bahia, Juarez Conrado resolveu viver em Aracaju, onde chefiou o escritório que o jornal A Tarde montou na capital sergipana, para estreitar os laços entre os dois Estados. A parceria foi boa para os dois, de um lado o jornal circulava para um público próximo e interessado, do outro Sergipe conquistou espaço nas edições diárias e um Caderno especial, semanal. Juarez Conrado morreu aos 79 anos (Foto: Assembléia Legislativa da Bahia)
Cordial, afável, Juarez Conrado de logo conquistou a simpatia e a atenção dos sergipanos, convivendo harmoniosamente com os colegas da imprensa, circulando sem embaraço entre políticos e administradores, ele prestou enorme serviço ao jornal no qual trabalhava e ajudou Sergipe a comunicar-se com o Brasil.
Desde que chegou e fixou residência em Sergipe, como Correspondente de A Tarde, da Bahia, que Juarez Conrado voltou-se para a pesquisa, a anotação e a reflexão sobre a vida e os fatos ligados a Virgulino Ferreira da Silva, o Capitão Lampeão. Textos cursos, reportagens, livros, enfim uma contribuição que abarca a oitiva de testemunhas, sobreviventes dos tempos de 30, que desembocaram no 28 de julho de 1938, quando uma volante, ajudada por coiteiros, riscou do mundo e da vida, na Gruta do Angico, território de Poço Redondo, o afamado bando e seu chefe.
Sergipe foi, durante muitos anos, o terreno preferido de Lampeão, para fazer seus negócios, empreender sua guerra particular com as forças policiais e as volantes. São muitos os testemunhos que atestam a relação de intimidade do cangaceiro com a terra e com certas figuras, ricas e pobres, que lhe serviam. Nem o Major médico Eronídes Ferreira de Carvalho, que foi Governador e Interventor Federal no Estado escapou nas suposições que estão, ainda correntes, no imaginário dos sergipanos.
Lampeão assaltos e mortes em Sergipe enfeixa uma visão geral dos fatos, pelos documentos, pelos jornais, pelo ouvir dizer dos testemunhos, o que poderá provocar novos debates. Lampeão não tem imagem unânime, nem aquela que o põe como anjo vingador, nem a que, ao contrário, execra sua figura como satânica. Ele é o que é, junção de suas circunstâncias, fosse para a propaganda do bem, fosse para o rótulo do mal. Na medida em que amplia o horizonte da pesquisa, da leitura, e se debruça sobre o material para retratar, amplamente, o seu personagem, Juarez Conrado lança um longo olhar sobre os fatos, o que pode implicar numa revisão de conceitos.
Aflora pelo interesse, a visão que o autor tem de 16 municípios sergipanos, das regiões mais secas, onde a comunicação parca facilitava o deslocamento de Lampeão e dos seus rapazes, criando raízes em Sergipe. Outros temas, como a vingança de Corisco, e tudo o que dela decorre, um olhar sobre a imprensa, visões que completam o trabalho de Juarez Conrado.
Doravante, a leitura estará ao alcance dos olhos e ouvidos, límpida como a água, ao alcance dos de hoje, que conhecem Lampeão pela iconografia. A bibliografia sobre o ciclo do cangaço ganha mais um título, construído no curso do tempo, após trabalho exaustivo de ausculta, de anotações, de concordâncias e divergências, sem os quais, aliás, não se amplia o conhecimento. Um personagem tão complexo como Virgulino Ferreira da Silva não cabe num livro só. É preciso conhecer suas justificativas e a dos que se dividiam em apoiadores e combatentes, como é preciso vê-lo na dimensão mítica de sua sobrevivência sábia, nas catingas sertanejas do nordeste brasileiro. E ainda falta compreendê-lo como personagem que anima a lúdica nordestina, com seu trajo e com tudo o que esteticamente o cerca.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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