Laranjeiras assumiu, a partir de 1976, um papel de vanguarda na proteção, documentação, estudo e divulgação do folclore sergipano. Naquele ano o Governo do Estado, pela sua Secretaria de Estado da Educação e Cultura, Assessoria Cultural, o Conselho Estadual de Cultura e a Prefeitura Municipal de Laranjeiras, organizou o I Encontro Cultural de Laranjeiras, editando cadernos, livros, discos e promovendo o mostruário, rico e diversificado, dos grupos existentes no Estado. A idéia nasceu do Prefeito José Monteiro Sobral e da Primeira Dama Yone Sobral (atual Prefeita) e foi desenvolvida pela Assessoria Cultural, junto ao Conselho Estadual de Cultura. Depois de ampla discussão ficou decidido que o Encontro Cultural de Laranjeiras seria dedicado a pesquisar, estudar e divulgar o folclore sergipano.
O 1º Encontro foi realizado no final do mês de maio de 1976, sendo aberto, na escadaria da Igreja Matriz, pelo Governador José Rollemberg Leite e autoridades culturais locais e nacionais. Em seguida foi inaugurado o Museu Afrobrasileiro de Sergipe, montado na antiga Casa de Laranjeiras. Por sugestão da professora Beatriz Goes Dantas, o Encontro Cultural de Laranjeiras, a partir de 1977, passou a ser realizado na primeira quinzena de janeiro, junto as festas de São Benedito e Santos Reis. Ajustado ao novo calendário, o ECL firmou-se com seu tripé essencial: a pesquisa, o estudo, a divulgação.
A pesquisa visava levantar os grupos remanescentes do folclore sergipano, desde Laranjeiras. Grupos de pesquisadores andaram, casa por casa, anotando informações, documentando os repertórios populares. O resultado das pesquisas levou a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro a realizar, em todo o País, em 1977, um levantamento que servisse à elaboração de um Atlas Folclórico. Sergipe surpreende com ao cadastramento de 220 grupos folclóricos, o que indicava que o pequeno Estado era a maior reserva folclórica brasileira.
Para estudar o folclore o formato definido foi o dos Simpósios, coordenados, em grande parte, pelo Conselho Estadual de Cultura, no qual pontificavam Antonio Garcia Filho, Luiz Fernando Ribeiro Soutelo, sempre com a participação qualificada de Jackson da Silva Lima, reorganizador da Comissão Sergipana de Folclore. O primeiro Simpósio foi feito na Matriz de Laranjeiras, o segundo na Igreja da Conceição. Outros locais abrigaram os estudiosos, de Sergipe, do Brasil e de vários países do mundo. Um levantamento feito por Bráulio do Nascimento, publicado em 1995, registra bem o alcance dos debates, reunindo os nomes mais expressivos da bibliografia folclórica. Nomes como Nelson Rossi, Tales de Azevedo, da Bahia, Téo Brandão e José Aloísio Vilela, de Alagoas, Waldemar Valente, Mário Souto Maior, Frederico Pernambucano de Melo, Renê Ribeiro, Roberto Benjamim, de Pernambuco, Dante de Laytano, do Rio Grande do Sul, Maria Tereza Lemos de Arruda Camargo, José Aderaldo Castelo, Laura Della Mônica, de São Paulo, Bráulio do Nascimento, Aloísio de Alencar Pinto, Cascia Frade, Paulo de Carvalho-Neto, Rosa Maria Muraro, Umberto Peregrino, do Rio de Janeiro, Vicente Sales, de Brasília, Osvaldo Trigueiro, Altimar Pimental, da Paraíba, dentre muitos outros, de todo o território nacional.
Do exterior andaram por Laranjeiras Manoel da Costa Fontes, dos Estados Unidos, J. J. Marques, Alberto Antunes Abreu, Pero Ferré, de Portugal, Ria Lamaire, da França, dentre dezenas de outros nomes que tornaram Laranjeiras um campo imenso de pesquisas e reflexões, e fizeram do Encontro Cultural uma escola, com embasamento teórico que renovou e enriqueceu a bibliografia do folclore. Nunca houve nada igual na história dos estudos folclóricos no País, nem nas relações do Brasil com outros países que guardam as tradições.
A parte referente a divulgação privilegiava os grupos autênticos. Diversos discos, Compacto duplo, depois CDs, foram lançados, juntamente com Cadernos de Folclore, Álbuns de Xilogravura e livros, além dos volumes dos Anais, mesmo que tenha havido interrupção indesejada. Os grupos, a começar pelos de Laranjeiras – Taieira, Reisado, Chegança, Cacumbi – dentre outros tinham seu cortejo, seus espaços de apresentação, seu destaque. Isto foi alterado quando as autoridades resolveram introduzir artistas da mídia, durante as noites dos Encontros Culturais.
Em sua história de 35 anos, o Encontro Cultural de Laranjeiras teve quebrado o tripé de sua sustentação, foi sufocado pelos shows, reduzido em sua importância, cedendo lugar a uma rica estrutura de luzes, palanques e sons. Tem havido, felizmente, uma resistência que leva a que se acredite que ainda há condição de remontar o Encontro Cultural na sua pauta popular, sem prejuízo de outros eventos, destinados a outros interesses. Para efeito de história, o Encontro Cultural de Laranjeiras acabou em 2006. O que tem havido, com o mesmo nome, é outra coisa, cuja oportunidade e interesse não se discute, mas não o ECL.