Um padre – Eusébio Dias Laços Lima – alvoroçou o Lagarto com suposta catequese de indígenas, e idéia libertária, que pretendia romper os vínculos políticos dominantes, para criar um Império, povoado de uma nobreza local, nomeada pelo Príncipe do Brasil. Embora os títulos da nobreza nomeada não tivessem efeito, tal qual a prata, restava a Lagarto uma idéia de liberdade econômica, que fluiria mais tarde e dominaria o século XIX, quando a vigararia passou a contar com o padre João Batista de Carvalho Daltro, com sua fórmula universalmente imposta. Para casar, diz a tradição lagartense, era preciso que o noivo tivesse um cavalo e um pedaço de terra, de onde tirar o seu sustento e da nova família. Ao lado dos ricos fazendeiros, dos exploradores das matas, dos criadores de gados, surgia no Lagarto pequenos sitiantes, que conciliavam as atividades rurais com as oportunidades de outras fontes de renda. A agricultura do fumo, e mais recentemente do maracujá, da laranja, fortaleceu uma economia e um cooperativismo que são típicos do Lagarto. A Colonia 13 é um excelente exemplo, que chega já aos 50 anos. Também surgia oficiais do ramo de couro, com seus produtos – sela, alpercata, peitoral, gibão, arreios em geral -, incluindo o fabrico de calçados. Proliferaram as oficinas ou sapatarias, de fabrico próprio. Várias famílias aderiram aos novos tempos, uma delas a VIEIRA, numerosa, formada por gente do campo, sitiantes da zona rural, que buscaram a urbanização do trabalho. A família VIEIRA passou a ter visibilidade ns últimas décadas do século XIX. Nasceram nos oitocentos Manoel Vieira do Nascimento, chamado Mané Rico, José Vieira do Nascimento, conhecido como Zezé do Arroz e Roberto Vieira do Nascimento, apelidado de Benvano, cada um com seu ofício, antes que a realidade lagartense fizesse as suas exigências. Zezé, por exemplo, teve família no couro, mas popularizou-se com caminhões, trafegando nas feiras de Simão Dias, ou conduzindo gente e mercadorias para Aracaju. Seus filhos – José, Vieira e Antonio – também tiveram caminhões. José, sem perda do comando dos negócios, teve comércio de móveis, caminhão próprio, entrou na política e foi Prefeito de Lagarto e Deputado Estadual (1982). Um dos seus filhos, José Aloísio, é médico com Clínica afamada em Lagarto. Mané Rico, com negócios de fumo, como tantos da família, enriqueceu. Um seu neto – José Augusto Vieira -, que foi Deputado Estadual (1982) enveredou pelos negócios, em Lagarto e no Maranhão, é hoje próspero industrial, liderando o Grupo MARATÁ. Benvano era pedreiro, tinha um sítio na Catita, e seus filhos tomaram diversos rumos: Zequinha e Raimundo têm negócios no Rio de Janeiro, Valdomiro é radicado em Fortaleza, no Ceará, onde produz camarão, Pedro, Alcides, Antonio, que lideram com negócios de calçados e de fumo, já morreram. Antonio deixou 2 filhos, um deles o médico José Alberto Cerqueira. Maria Peixoto, que vivia em Simão Dias, com grande prole de professoras, Julieta, moradora em Amélia Rodrigues, são falecidas. Josefa, viúva de João Muniz Barreto, mãe de José Artêmio Barreto, magistrado, de Luiz Antonio Barreto, jornalista e intelectual, e de Luiz Augusto Barreto, advogado da PETROBRÁS, já falecido. Estão vivos: Zequinha, no Rio de Janeiro, Raimundo, sócio de restaurante – Alfaia, casa de bacalhau, situada na Travessa Inhangá – também no Rio de Janeiro, Valdomiro, no Ceará, e RAFAEL, com dupla residência, em Lagarto e em Aracaju. RAFAEL completou 90 anos no dia 30 de janeiro último e reuniu filhos, netos, bisnetos, sobrinhos e amigos para celebrar o aniversário. Lúcido, atento aos fatos, guardando memória de sua vida no Lagarto, como sapateiro, como construtor de casas, que atestaram o êxito de seus empreendimentos e trabalho. Vibrando com filhos e netos que ocupam espaço na vida sergipana – Carlos Alberto Monteiro Vieira, advogado, filho, Carlos Augusto Nascimento, advogado e atual Presidente da OAB, Emílio Roberto Monteiro Vieira, funcionário aposentado do Banco do Brasil, filho, Paulo Rafael, professor e administrador universitário, neto, Rafael Filho, comerciante do ramo de calçados e couro, em Lagarto, continuador, ao lado da irmã Goreti, dos negócios da família, filhos, ao lado de Edith, Rita e Auxiliadora, com seus descendentes – para citar parte de uma família grande e bonita, que tem dado a Lagarto e a Sergipe o melhor exemplo de construção e de participação, projetando no futuro as vitórias que marcam a fibra dos VIEIRA. As lembranças da Catita e de outros lugares rústicos de Lagarto jamais foram esquecidas. A saga dos VIEIRA é apenas um exemplo, dentre muitos outros que respondem pela vocação produtiva de Lagarto e de outros municípios do Estado.
LAGARTO é um dos mais antigos chãos de Sergipe, e guarda em sua história fatos singulares, que têm coerência com as projeções ocorridas na linha do tempo. No século XVII, quando o mito da riqueza projetava o nome de Belchior Dias Moréia, era difícil confundir o valor das terras circundantes, de Itabaiana, Lagarto e Campos do Rio Real, que pareciam realçar a identidade de uma região, cujas características sobreviveram, e certificam nos dias atuais uma vocação produtiva. As glebas doadas, em regime de Sesmarias, ocuparam as margens dos rios Vaza-barrís e Piaui e de alguns afluentes, organizando lavouras e criações. Não houve prata, o açúcar era pouco, mas o gado mantinha abundantes currais, com o capim substituindo as matas, às quais foram incorporadas, sob a mesma perspectiva, as matas de Simão Dias. Família VIEIRA, ramo descendente de Roberto Vieira do Nascimento. Na primeira fila: Alcides, Maria e Josefa; na segunda fila: Antônio, Rafael, Zequinha, Pedro, Raimundo e Valdomiro
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários