Morreu em casa, no claro e quente domingo, as 9 horas do dia 30 de janeiro de 2011, JOÃO COSTA, professor desde a juventude e por mais de 50 anos preservando a lingua portuguesa, nas salas de aula. Sua carreira ganhou visibilidade ainda no Ginásio Pio Décimo, escola criada pelo casal de professores Manoel Joaquim Soares de Lima e Letícia Sobral de Lima, mas ele percorreu outras escolas, de todos os graus de ensino, tornando-se uma referência moderna no ensino sergipano. Vocacionado para a sala de aula, foi artista da palavra dentro e fora das escolas, onde desfilava elegância. Ser ator de teatro foi uma opção em sua vida, sem prejuízo dos compromissos diários perante as turmas, nas diversas escolas onde corria para não interromper o discurso da competência verbal. O teatro estava, como a língua, nas suas necessidades vitais. Homem de belo porte, chamado de Tony Curtis, JOÃO COSTA ergueu sua voz, equalizando um ritmo bem impostado de falar, com o qual exprimia a clareza que exigia dos seus alunos. No teatro JOÃO COSTA entregou-se a produzir textos, como os antológicos TRÊS DE DEZ DE MIL NOVECENTOS E TANTO, sobre vícios eleitorais que maculavam os resultados das urnas, na patologia das refregas partidárias, e RECITAL SEM OPUS, coletânea de textos exemplares, ao modo de um discurso panfletário, político, bem adequado aos dias tormentosos que o Brasil viveu na década de 1960. RECITAL SEM OPUS fez temporada, na capital e no interior, e conquistou prêmios na Paraiba e no Rio de Janeiro, no último festival promovido por Pascoal Carlos Magno. A Sociedade de Cultura Artística de Sergipe – SCAS, deu a Sergipe um movimento artístico e elevou a qualidade artística, sob os aplausos das platéias que freqüentaram, no Ateneu, no Rio Branco, noutros espaços, as grandes estréias, as visitas e temporadas, as apresentações de músicos do Brasil e do mundo, e as peças do TECA – Teatro de Cultura Artística. JOÃO COSTA tinha um papel relevante, ao lado do gigante José Carlos Teixeira, cuja alma cultural garantiu anos de fina arte. Foi uma vida inteira, de 79 anos, dedicada à construção de um ambiente capaz de promover refinados espetáculos, ciente de que o público era fiel e chancelava aquele singular esforço, que marcava a vida artística e cultural da capital sergipana. Assim como havia uma entidade voltada para promover a arte e a cultura,a SCAS, havia um público que garantia a freqüência aos espetáculos. Esse momento singular e grandioso da arte em Aracaju contrasta, em tudo, com as promoções de hoje. O legado da SCAS é um atestado de que há um contingente de homens e mulheres disposto a acolher a boa apresentação artística. JOÃO COSTA esteve no centro das ações da SCAS e deixou seu nome fixado na história cultural de Sergipe, com a mesma intensidade com que ensinou nas escolas secundárias, nas universidades, nos cursos de pré vestibular, sendo, por isto mesmo, um exemplo único, que deve merecer o reconhecimento público dos sergipanos. Discreto e modesto em seus afazeres, JOÃO COSTA é credor de homenagens que façam justiça à sua biografia. Sergipano nascido no Cedro de São João, em 12 de maio de 1931, criado em Ribeirópolis, foi, no entanto, em Aracaju que ele preparou sua formação e realizou, na dignidade de toda a responsabilidade, o seu trabalho de mestre da palavra e da língua, artista do diálogo do teatro, ator de múltiplas possibilidades, JOÃO COSTA completa o ciclo da vida, enfrenta a dor e o sofrimento até capitular, sem forças, num dia de domingo. Eis, vencido pela dialética da vida, um homem que se fez professor, se fez artista e deixou um rastro de luminosidade, que era o fulgurante talento que elevou o magistério e a arte em Sergipe a níveis fantásticos, que com sua morte passam a ser as referências atemporais ao nosso alcance. Fui seu aluno, parceiro no RECITAL SEM OPUS, e tive seu estímulo no posfácio do meu MONÓLOGO, pequeno livro (poesia)de estréia, editado em 1964. Jackson da Silva Lima e Wagner Ribeiro cuidaram de imortalizar a arte declamatória do ator e produziram um CD com uma antologia poética, de autores portugueses e brasileiros. Foi seu último trabalho, e foi também um dos melhores, com os qual pode apresentar às novas gerações a mostra da sua vocação de intérprete. Seria excelente que as autoridades de Sergipe mandassem fazer uma edição comercial, de grande quantidade, do CD de JOÃO COSTA.
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