Este livro não é de ficção (criação literária) nem é de história (no sentido da reunião e interpretação de documentos), da mesma forma como o Quadrado de Pirro é um retângulo, na paisagem de Aracaju. Renato Conde Garcia, o autor, carrega a responsabilidade de ser filho de Antonio Garcia Filho, médico, professor e intelectual múltiplo, sobrinho de Carlos e de Luiz Garcia, irmão de Sérgio e Eduardo Conde Garcia, para citar apenas os mais próximos, cujas biografias têm o reconhecimento público. Apesar das referências, Renato Conde Garcia caminha sozinho, cozinha com suas próprias linhas e surge no ambiente intelectual da terra com um livro instigante, e que tem Aracaju como objeto, como uma esfinge a ser desvendada.
O livro tem 7 partes e 1 epílogo, nos quais o autor faz desfilar nomes, situações, fatos, valendo-se de fino humor para abonar os perfis dos personagens, no trânsito geográfico de suas aparições. Neste particular, parece que o autor dispõe de um “diário de família,” do qual retira as pitadas de ironia, com as quais enfrenta a força de cada parte, na construção da linguagem. Sendo um narrador oniciente, que detém o domínio das tramas, o autor está livre para provocar, questionar, conotando as cenas de cada parte, como uma antologia de costumes, servida ao leitor sem a mínima preocupação factual e científica.
A experiência de trabalhar entre a história e a memória,entre a ciência e a tradição, entre as provas do fato e as meras suposições que correm soltas, na oralidade, não é nova na literatura sergipana. Marcos Melo, que tem dois livros de crônica sobre a sua Propriá, fez um romance, valendo-se de episódios da história, abonados por figuras com trânsito acadêmico, adaptados ao mundo do Condado de San Vicent. O livro de Marcos Melo abriu, assim, a possibilidade de compor um amplo quadro de informes, como está no livro O Quadrado de Pirro, de Renato Conde Garcia, expost6os em 34 quadros, dos quais não se fará, com certeza, qualquer cobrança sobre o autor e sua coerência. O que vale, sem limites, é a literatura, a reinvenção da realidade, o ordenamento do caos.
Além de não descuidar da ironia, o autor encerra em cada parte um conhecimento que, em certa medida, pretende ser erudito, o que não retira nada da qualidade do seu livro. Cenários e pessoas ganham a arquitetura dos ambientes e a ação das personagens, amarrando o pacote das invenções ficcionais, desde a poesia de CHEGANDO A SALVADOR, texto com o qual abre a narrativa, até as reminiscências de ARACAJU em construção, parecendo ultimar aí as suas observações, com as quais deixa claro que pretende rever (e até corrigir) a mudança da Capital, retirando dela a mística de uma aventura singular no Brasil.
A obra está em aberto, para cumprir o seu papel. Bem escrita e rica de detalhes, O Quadrado de Pirro é um bem realizado exercício ficcional, que bate as portas da história, com toda a sua curiosidade.
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AVISO: O INSTITUTO TOBIAS BARRETO PASSARÁ A FUNCIONAR NO SEGUNDO ANDAR DO EDIFÍCIO DA BIBLIOTECA CENTRAL DA UNIVERSIDADE TIRADENTES, ONDE CONTIUARÁ COM SEU TRABALHO DE 27 ANOS, ORGANIZANDO ACERVOS (EM ESPECIAL SERGIPANOS) DISPONIBILIZANDO-OS A ESTUDANTES, PROFESSORES, PESQUISADORES E OUTROS INTERESSADOS.