Luiz Antônio Barreto
Navio Baependy (Foto: Divulgação) |
O relato do Capitão Lauro Reis, pela força do testemunho, dá uma idéia do quanto de dor e de sofrimento viveram os passageiros dos navios torpedeados na costa sergipana. O BAEPENDY é um retrato da agonia, ampliado para os demais barcos postos a pique pelos alemães, nos dias 16 e 17 de agosto de 1942. Finaliza o Capitão Lauro Reis:
“Navegamos assim, impelidos pelo vento e pelos remos, durante toda a noite – que nos parece interminável. Os rapazes, incansáveis, se revezam nos remos e os outros no balde de água. Ao clarear o dia, ainda na penumbra, temos uma explosão de contentamento; a uns dois quilômetros de nós, percebemos a faixa branca de areia de uma praia. Mais umas remadas, a manobra para vencer a forte arrebentação, e ei-nos em terra firme. Nossos corações pulam de alegria.
A praia desabitada, é formada por vastas dunas de areia, onde os pés se enterram, agravando nosso cansaço. Caminhamos algum tempo, seguindo uma pequena trilha, até avistarmos uma cabana onde apenas encontramos água.
Felizmente, indicam-no uma picada até o meio de uma povoação. Andamos até o meio dia, ou antes, arrastando-nos, pois há diversas pessoas feridas, e outras esgotadas. Por sorte encontramos muito coco da Bahia, cuja água saborosa bebemos sofregamente. Ao chegarmos à povoação, todas as portas e janelas se batem, violentamente. “Eu teria havido?”. Consultam-nos surpresos… Estamos tão embrutecidos, que nos custa a compreender; a nossa nudez quase total ofendeu o pudor da gente da terra! Um parlamentar, que enviamos em trajes mais decentes, resolve a situação, e recebemos algumas roupas usadas, que nos permitem improvisar tangas.
Depois de alimentados, seguimos de canoa para Estância, termo das nossas provações. Ali soubemos, mais tarde, terem chegado à praia, numa pequena balsa de madeira, mais oito náufragos do BAEPENDY. Trinta e seis sobreviventes – eis o que restava!
Quase todos os nossos camaradas tinham sido tragados pelas ondas. E quando um médico, náufrago também, nos relatou o episódio da morte do mais jovem dos nossos companheiros de armas, não podemos conter as lágrimas. Ao atirar-se no mar, sem salva-vidas, certo do fim que o aguardava, o Tenente Assunção lançara em voz vibrante este grito derradeiro de patriotismo:
VIVA O BRASIL.!”
Ainda há muito por recolher e identificar sobre os torpedeamentos dos navios brasileiros, pelo submarino alemão U-507, no mar de Sergipe. O tema, ainda hoje instigante, é um capítulo a ser devidamente colocado na historiografia sergipana. A história de amor, um rasgo de lirismo no palco da tragédia, é bem um roteiro de cinema, a espera de um realizador.