Enfermo, numa cama de hospital, Seixas Dória completará 95 anos, cercado do carinho da família e da admiração dos seus conterrâneos. Nascido em fevereiro de 1917, em Propriá, fez formação em Direito e tornou-se, ainda jovem, um político. Sua força estava na palavra, com a qual iluminou o Brasil com suas orações patrióticas, dando consciência aos brasileiros para o que ocorria no País, após a II Guerra Mundial. O Brasil, que participou do campo de batalha, possuía muitas e variadas riquezas minerais, cobiçadas pelos Estados Unidos e por outros países aliados, segundo as denúncias que fez Seixas Dória, nos auditórios universitários, nas tribunas do Parlamento, nos artigos de jornais e nas entrevistas que mobilizaram a atenção dos brasileiros.
O início da carreira política, em Aracaju, foi como Secretário da Prefeitura. Depois vieram dois mandatos seguidos à Assembléia Legislativa, pela sigla da UDN, a mesma que o levaria, também duas vezes, à Câmara Federal. Maior que os estatutos estreitos do partido, Dória fez da UDN uma voz solidária, criando com outros parlamentares a Frente Parlamentar Nacionalista, que ampliou no Brasil o discurso denunciando manobras internacionais, formando uma opinião pública para cobrar do Governo ações de proteção e defesa da riqueza nacional. Pequeno de estatura, franzino, frágil, Seixas Dória agigantava-se na luta em favor do Brasil e do futuro dos brasileiros. Referência do nacionalismo, sem radicalizações, Dória integrou, com outros políticos, a “Bossa Nova da UDN”, conquistando simpatia da mídia e aplausos da população.
Em 1962, rompendo com Leandro Maciel e aliando-se ao PSD, PR, PSB e PTB de Aracaju, foi candidato a Governador do Estado de Sergipe, quebrando a espinha dorsal do seu antigo partido. Ele conquistou 67.514 votos, contra 58.825 dados a Leandro Maciel. No Governo, logo levou seu apoio ao Presidente João Goulart, em favor das Reformas de Base, que Jango queria realizá-las, para corrigir as deformações históricas que dominavam a vida brasileira. Sua voz foi ouvida no Brasil, ao lado do Presidente e de outros bravos companheiros, engajados na mesma ideia de promover amplas e profundas reformas, modernizando o País. Seixas Dória, que foi um dos oradores do célebre comício da Central do Brasil, no de Janeiro, mais uma vez mostrou sua voz afinada com a Nação, verbalizando com elegância e destemor o discurso das verdadeiras mudanças.
Com o movimento militar de 31 de março de 1964 foi preso, deposto e mandado para o presídio de Fernando de Noronha. Depois perdeu os Direitos Políticos. Teve, assim, sua voz silenciada. Mas não desistiu, voltou-se para registrar sua participação na vida brasileira, publicando, debaixo de censura, seu livro Eu réu sem crime. Mostrava ao Brasil que também era bom na escrita, completando sua genialidade de orador de massas, e de jornalista de crítica. Seu perfil intelectual justifica o fato de que, desde a década de 1940, pertence ao rol dos imortais da Academia Sergipana de Letras. Nas páginas do Correio de Aracaju, principalmente, estão muitos dos seus textos, que abonam o conceito que os sergipanos e os brasileiros construíram dele.
Por muitos e muitos anos o nome de Seixas Dória foi lembrado e exaltado. A crônica do passado deixou para os sergipanos de hoje a fama de alguns oradores, tidos como os mais brilhantes. Seixas Dória está entre eles, no mesmo panteão. Fausto Cardoso foi ouvido por plateias atentas, na Câmara Federal e nas ruas brasileiras. Homero de Oliveira, magistrado e poeta, foi considerado, nas primeiras décadas do século XX, como um sucessor de Fausto. Seixas Dória entra aí, nesta cronologia que avança até Marcelo Deda, aplaudido como tribuno que domina a cena na atualidade, contemporâneo, também parlamentar estadual e federal, também governador. João de Seixas Dória tem sobrevivido para ser aclamado pelas atuais gerações e portar a memória das gerações anteriores, que foram empolgadas pelos seus arroubos de orador. Vida longa de um gênio da palavra, jograu da nacionalidade brasileira, ocupante de um lugar na galeria dos grandes sergipanos. Muito do que sabe de e sobre Seixas Dória deve-se ao trabalho de organização arquivista de sua mulher, Dona Meire Dória, exemplo de solidariedade, em todos os momentos de vida do seu pequeno grande homem.