Carnaval de Estância |
As origens do carnaval sergipano estão fincadas nas antigas manifestações folclóricas, das quais a Guerra das Cabacinhas é o melhor exemplo, seguindo-se os blocos que rivalizavam o público nas Micaremes do interior, e outras expressões estéticas e musicais, como o Frevo de Pernambuco, o Trio Elétrico da Bahia, e o desfile das Escolas de Samba, a partir do Rio de Janeiro. O carnaval de rua, portanto, é uma mistura de ritmos, coreografias, cores, sem uma identidade local, ainda que os esforços dos últimos anos tenham tomado o caminho do resgate, como é o caso do Bloco Rasgadinho, que apesar de 50 anos de fundado passou mais tempo no limbo, sem condições objetivas de promover o carnaval de rua, principalmente na região da Avenida Pedro Calasans. O esforço dos que fazem o Rasgadinho é digno de registro e de aplauso, pelos resultados conquistados nos últimos anos, não deixando morrer, de todo, o reinado de Momo.
O carnaval de Sergipe esteve espalhado pelas cidades do interior, e o Micareme era a maior expressão, pela rivalidade dos grupos. O tempo, a televisão via satélite, e outros meios de comunicação, liquidaram com os blocos dos micaretas, que tinham ponto alto em Maroim, com os blocos Chic e Paladino. Em outros municípios esse tipo de carnaval de rua atraiam multidões, disputando os cordões de foliões formados em torno de cada um dos blocos. Em Ribeirópolis a tradição carnavalesca é ainda mais primitiva, com o grupo Reisado dos Caretas, mascarados que no mês de fevereiro tomam as ruas, sujam os seguidores e intimidam até mesmo os adeptos, que anualmente repetem a folia, conotando com certo erotismo a dança entre pares do mesmo sexo. Em Lagarto, Laranjeiras, Japaratuba e outros lugares a existência de grupos de Maracatús responde pelo carnaval. Enfim, em todo o Estado, incluindo os povoados, há um potencial para a brincadeira livre do carnaval.
O Frevo, mais que o samba e do que as marchinhas, é o ritmo carnavalesco por excelência, e em Sergipe a pátria do frevo é Neópolis, que atrai milhares de foliões, para a prática quase espontânea dos desfiles de rua. O público não vai a Neópolis atraído pelos baianos e suas bandas, mas pela singularidade do frevo, ritmo que guarda antiguidade na história dos carnavais brasileiros. Neópolis faz uma festa de metais, e talvez aí resida o poder de atração que a cidade tem, como teve no carnaval que findou. Talvez não seja despropositado dizer que Nossa Senhora do Socorro tem no carnaval de Neópolis um modelo, ainda que existam diferenças. O Mela mela tem, também, seu vínculo com as tradições carnavalescas, desde a Guerra das Cabacinhas, das janeiras de Japaratuba.
Os bailes nos clubes sociais, que já foram grandiosos no passado, já não existem mais. Os clubes permanecem de portas fechadas, com seus salões desativados, porque tanto a folia momesca, quanto os bailes sumiram das agendas sociais de Sergipe. O público do interior dispunha de salões de festas, cinemas, clubes e transformavam todos em lugares destinados às festas carnavalescas. Do pobre ao rico, da periferia ao centro, da zona norte a zona sul, o povo em geral, e principalmente rapazes e moças, trocavam suas roupas, vestiam fantasias e entravam nos bailes, de acordo com sua condição social. Havia lugar para todos, desde o auditório da Rádio Difusora, que era transformado num salão de baile de carnaval,para os jovens pobres da cidade, até o Iate Clube de Aracaju, o mais novo e mais confortável e exuberante salão de festas. Muitas vezes o maestro pernambucano Nelson Ferreira veio a Aracaju, com sua famosa orquestra de frevos, tocar no carnaval do Iate. Seguiam-se a Associação Atlética de Sergipe, na rua Vila Cristina,o Vasco Esporte Clube, tanto quando sua sede era na rua São Cristóvão, como na sede nova, da Avenida João Rodrigues, além do Cotinguiba Esporte Clube, o velho “Tubarão da Praia”, na esquina da Avenida Augusto Maynard com a Avenida Beira Mar, e outros clubes, como o SEMAS, dos Sargentos, na Rua João Pessoa, o Clube dos Comerciários, na Avenida Carlos Firpo, dentre outros.
O fechamento dos clubes ao carnaval, com o encerramento do ciclo de bailes carnavalescos concorreu, enormemente, para o estágio de decadência da festa momesca sergipana. Louve-se o esforço de autoridades, de políticos, de lideranças sociais, de patrocinadores e de organizadores do que tem sido possível manter, atualmente, como um arremedo do que era, quando a população da capital sergipana era pouco mais de 10% do que é hoje. A ociosidade dos clubes, com seus salões, influi no estágtio atual que atinge o carnaval sergipano. O Pré Caju, por exemplo, que é realizado na via pública, nada tem com o carnaval que era feito em Aracaju e também concorre para inibir a disposição dos organizadores que deixaram exemplos grandiosos de carnavais autênticos, grandiosos, apoteóticos de sábado até quarta-feira, na mesma pisada, como ensinava Capiba: “Quando a vida é boa/não precisa pressa/até quarta-feira/a pisada é esta.”