MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     D E     C D     1

 

Cantora: ISABELLA TAVIANI

Título: “AO VIVO”

Gravadora: UNIVERSAL

 

Alguns vão dizer que se trata de uma cópia de Ana Carolina. Na verdade, o timbre grave da carioca Isabella Taviani lembra em muito o da artista mineira. Também a maneira de compor de Isabella por vezes encontra incontestáveis semelhanças com a de Ana. Mas não dá para deixar de reconhecer o talento da intérprete vigorosa que também é uma compositora de mão cheia.

Isabella teve o seu disco de estréia lançado pela pequena gravadora Green Songs e algumas canções daquele primeiro trabalho foram tão bem executadas, especialmente pelas rádios do sudeste do país (“Foto Polaroid” e “Castelo de Farsa” estão entre elas), que a multinacional Universal resolveu contratá-la e investir na sua carreira. Assim, chegou ao mercado, no final do ano passado, CD e DVD gravados ao vivo em shows realizados no Canecão, nos quais Isabella se viu acompanhada por uma banda azeitada composta por feras como Torcuato Mariano (guitarra), Da Lua (percussão), Paulo Calazans (teclado) e Luiz Brasil (violão), por exemplo.

Nesse trabalho, o seu lado de cantora é explorado à exaustão e ela mostra um vigor raro de se ouvir atualmente. Com voz potente e afinada, Isabela pode até soar over em alguns momentos, mas nada que venha a descaracterizar a espontaneidade do seu canto. Já o lado de compositora revela uma exímia mestra em criar canções com refrões facilmente assimiláveis, daqueles que grudam na mente de quem os ouve. Exemplos disso são as faixas “Digitais”, “Canção Para Um Grande Amor” e “De Qualquer Maneira”.

As músicas possuem pegada possante e os arranjos, em vários momentos, demonstram uma marcante influência flamenca. Há quatro regravações, todas elas muito bem-vindas: “Preconceito” (de Fernando Lobo e Antônio Maria), “Atrevida” (de Ivan Lins e Vítor Martins), “Medo da Chuva” (de Raul Seixas e Paulo Coelho) e a obra-prima “Tem Que Acontecer” (de Sérgio Sampaio, que foi redescoberta por Zeca Baleiro no seu excelente CD “Vô Imbolá”). Há ainda duas canções inéditas da safra da própria Isabella: a boa “Último Grão” e a mediana “Sentido Contrário”. Já para quem optar pelo DVD, este vem com quatro músicas a mais: “Ivete”, “Contramão”, “Argumento Ineficaz” e “Um Dia, Um Adeus” (releitura de um antigo sucesso de Guilherme Arantes). Como destaques podem-se citar a impactante “O Farol”, a bela “Recado do Tempo” e a contagiante “Olhos de Escudo”.

Uma cantora que, com certeza, ainda vai dar muito que falar, até porque, às vezes, a cópia pode se revelar bem mais interessante que o original…

 

 

R E S E N H A     D E     C D     2

 

Cantora: SELMA GILLET

Título: “ATITUDE SUSPEITA”

Gravadora: INDEPENDENTE

 

se você é fã do timbre da voz da saudosa Cássia Eller, saiba que também existe no mercado uma cantora de voz bastante parecida! Trata-se de Selma Gillet que está lançando, de maneira independente, o seu primeiro CD intitulado sugestivamente de “Atitude Suspeita”.

O disco contém onze faixas, das quais somente uma é regravação (“Preciso Dizer Que Te Amo”, de Dé Palmeira, Cazuza e Bebel Gilberto). As outras dez são de autoria da própria Selma que se mostra uma compositora arrojada e de talento.

Dentre os destaques, além da faixa-título, podem-se citar: “Como Você”, “Eros”, “É Tanto O Que Eu Tenho Pra Te Dizer” e “Íris”.

E como o mercado fonográfico nacional precisa encontrar, urgente, uma substituta para Cássia (é assim que mandam as regras), não será de se espantar se, muito em breve, alguma multinacional estiver contratando Selma Gillet (assim como aconteceu com Isabella Taviani) e lançando-a com grande estratégia de marketing. É esperar para ver!

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Em muito boa hora, a gravadora Universal repôs em catálogo a discografia da fase áurea do grupo Os Mutantes, sucesso incontestável nos anos setenta, formado por Rita Lee, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista. São os seguintes os títulos relançados: “Os Mutantes” (1968), “Mutantes” (1969), “Tecnicolor” (que teve as suas gravações feitas na França, em 1970), “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” (1970), “Jardim Elétrico” (1971), “Os Mutantes e seus Cometas no País dos Baurets” (1972) e o álbum “O A e o Z” (gravado em 1973, mas lançado somente nos anos 90). Imperdíveis!

 

·               E a mais nova moda entre os artistas emergentes é disponibilizar, em suas respectivas páginas na Internet, gravações de músicas nunca antes incluídas em seus CD’s. Uma adepta dessa prática é a cantora Belô Velloso que, depois de recordar “Lama”, sucesso de Clara Nunes, revive agora o samba-enredo “Os Sertões” (de autoria de Edeor de Paula), apresentado pela escola de samba carioca Em Cima da Hora no Carnaval de 1976. A canção (que, anteriormente, já havia também sido registrada por Fágner e pelo conjunto Nosso Samba) ganha novas tintas com a releitura feita pela sobrinha de Caetano Veloso e Maria Bethânia e surpreende ao incluir, em seu refrão, elementos de forró e samba-de-roda.

 

·               E por falar em Internet… O CD “Tanto Mar”, no qual Fafá de Belém incursionou pelo repertório de Chico Buarque, acabou não incluindo a releitura de “Construção” no seu repertório final, mas os fãs da cantora podem conseguir a versão da paraense para a música através da rede mundial de computadores, em sites que oferecem arquivos mp3. Trata-se de um registro ao vivo, oriundo do show de lançamento do disco, e nele há de se registrar o caráter ousado do arranjo do tecladista João Rebouças.

 

·               E por falar em Chico Buarque… O artista está terminando de gravar o seu aguardado álbum de inéditas no estúdio da gravadora Biscoito Fino no Rio de Janeiro. Esse novo trabalho será lançado no formato de dualdisc, técnica que une CD e DVD no mesmo disco. O lado DVD vai mostrar os bastidores da gravação de um dos discos mais esperados de 2006.

 

·              Já está nas lojas o novo CD do pernambucano Antônio Nóbrega. Intitulado “Dois de Frevereiro” é (como, aliás, o próprio nome já o diz) uma homenagem ao frevo. Para mostrar a versatilidade desse gênero musical, o artista providenciou os arranjos com novas formações orquestrais. Assim, se pode ouvir o violino característico de Nóbrega ora com quinteto de metais, ora com regional de cordas, ora com conjunto de sax. Metade das faixas é cantada e a outra vem apenas em versão instrumental. O projeto (que chega ao mercado pela gravadora independente Brincante) se compõe de dois CD’s, mas o próximo sairá somente no final deste ano. Dentre os destaques: “Dedé”, “Cocorocó”, “Folias da Madrugada” e “Vão me Levando”.

 

·              O show idealizado pela cantora Beth Carvalho para festejar o Dia Nacional do Samba, realizado no dia 2 de dezembro do ano passado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, chegará ao mercado em DVD ainda neste primeiro semestre. Dentre os bambas de várias gerações presentes lá estiveram: Tia Maria do Jongo, Almir Guineto, Sombrinha, Dudu Nobre, Vó Maria e Zeca Pagodinho.

 

·               O segundo título dos doze previstos para a série “Poetas da Canção” (o primeiro saiu há três meses e diz respeito ao compositor Sérgio Natureza), um lançamento do selo Sesc Rio.Som, já se encontra à venda. Trata-se do disco “Amorágio” e apresenta o cancioneiro do poeta maranhense Salgado Maranhão. Participam do álbum intérpretes como Alcione, Rita Ribeiro, Ivan Lins, Zé Renato e Selma Reis. Dentre os destaques, as novas leituras para “Ave Cigana” (feita por Dominguinhos), “Recato” (com Paulinho da Viola) e “Trem da Consciência” (na voz de Zeca Baleiro). Elba Ramalho deu vida a “Rapsódia”, um aboio composto em 1979 que permaneceu inédito até agora, comprovando o seu talento de grande intérprete.

 

·               À moda das antigas duplas brasileiras, juntaram-se os cantores Carlinhos Vergueiro e Rui Faria (este, recém-saído do grupo MPB-4, no qual permaneceu durante vários anos) e estão lançando, de maneira independente, o CD intitulado “Só Para Chatear”, o qual foi gravado ao vivo durante a realização de shows no Teatro Rival (RJ). Estão presentes no repertório do álbum craques da nossa MPB tais como: Francisco Alves, João do Vale, Humberto Teixeira, Pedro Caetano, Geraldo Pereira e Chico Buarque. Dentre os melhores momentos do disco, merecem destaque as faixas “Seja Breve” (de Noel Rosa), “Sou Jogador” (de Luiz Barbosa) e “Peçam Bis” (de Ismael Silva). Um CD despretensioso, mas divertido e muito gostoso de se ouvir!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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