MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantor: ALCEU VALENÇA

CD: “MARCO ZERO AO VIVO”

Gravadora: INDIE RECORDS

 

O compositor e cantor Alceu Valença (que está cada dia mais parecido com Renato Aragão) teve sua época áurea nos anos oitenta quando emplacava um sucesso atrás do outro, chegando a ser um dos maiores vendedores de disco do Brasil. São dessa fase canções como “Tropicana”, “Anunciação”, “Cavalo de Pau”, “Íris” e “Como Dois Animais” que até hoje povoam o inconsciente coletivo dos brasileiros e fazem parte do repertório de todo cantor de barzinho que se preze.

O artista pernambucano também teve suas canções gravadas por feras da MPB como Maria Bethânia, Elba Ramalho e Ney Matogrosso, só para ficar em três exemplos. De lá para cá, todavia, vem conseguindo se manter na mídia alternando projetos revisionistas com álbuns temáticos geralmente voltados para o forró. Seu último CD de estúdio (“Na Embolada do Tempo”), lançado no ano passado, passou praticamente despercebido.

Alceu tem, de fato, bons serviços prestados ao cancioneiro nacional. Credita-se a ele, inclusive, ter sido um dos pioneiros a inserir as guitarras distorcidas na música nordestina, fundindo estilos e diversificando influências.

Cantor de inegável potencial vocal, Alceu acaba de lançar mais um disco ao vivo, gravado em agosto próximo passado, no Marco Zero em Recife (PE), o qual também está sendo lançado em DVD pela gravadora Indie Records. Embora seja louvável a não inclusão de grandes sucessos no repertório, fica a sensação de que está faltando alguma coisa. Talvez a força de uma grande canção inédita que ratifique o talento do criador de outrora (dentre as novas músicas apresentadas, a melhor é a calminha “Dona de 7 Colinas”). A maior parte das faixas são frevos (“Voltei, Recife”, “Vampira”, “Caia Por Cima de Mim”, “Me Segura Senão Eu Caio”, “Beijando a Flora”, “Vassourinha Aquática” e “Bom Demais”), embora haja espaço para maracatu (“Maracatu”) e cirandas (“Luar de Prata” e “Ciranda da Aliança”).

Até mesmo os convidados especiais soam sem o brilho costumeiro: Zeca Baleiro mostra-se deslocado, Silvério Pessoa apresenta-se apagado, Paula Lima foi totalmente sub-aproveitada e Daúde esgoela-se (com afinco, frise-se) para chegar ao tom que lhe foi escolhido (alto e desconfortável).

Alceu Valença pode mais. Muito mais. É esperar para ver (e ouvir) isso, quiçá em um futuro bem próximo!  

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: TONI PLATÃO

CD: “NEGRO AMOR”

Gravadora: SOM LIVRE

 

Um ótimo lançamento no apagar das luzes de 2006 é o novo CD de Toni Platão. Cantor que surgiu na década de oitenta, à frente da banda Hojerizah, ele fez parte do boom do rock nacional, mas nunca chegou a ser de fato conhecido como alguns de seus pares como Cazuza, Paulo Ricardo, Herbert Vianna e Renato Russo.

Toni deu início à sua carreira solo em 1994 e em seu primeiro disco gravou Chico Buarque, Leoni e Alvin L., entre outros. Em 2000, eclético, lançou o segundo álbum intitulado “Calígula Freejack” com canções de Vinicius de Moraes, Kassin e Dado Villa-Lobos.

O recém-lançado CD chega ao mercado através da gravadora Som Livre e recebeu o nome de “Negro Amor”, versão de Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti para canção de Bob Dylan, originalmente gravada por Gal Costa no seu disco “Caras & Bocas”, de 1978.

Cantor de grande potencial (possui bela e forte voz de barítono), Toni trafega bem entre vários timbres. O caráter soturno do CD é arriscadamente proposital, soando como um charme a mais e até as duas canções originalmente bregas que foram incluídas (“E Não Vou Mais Deixar Você Tão Só”, de Antônio Marcos, e “Impossível Acreditar Que Perdi Você”, de Márcio Greyck e Cobel) terminaram rendendo bem com o banho de loja que receberam.

O artista também consegue dar cara nova até a canções que pareciam já ter recebido suas versões definitivas. É o caso da emocionante “Movimento dos Barcos” (de Jards Macalé e Capinam) e de “Mammy Blue” (de Hubert Giraud e Phil Trim). Merecem ainda destaque as releituras feitas para “Louras Geladas” e para “Dia 36”, músicas integrantes do repertório das bandas RPM e Mutantes, respectivamente. No entanto, o melhor momento do novo CD fica inquestionavelmente por conta de “Balada da Arrasada” (de Ângela Ro Ro). Nela, Toni dá um banho de interpretação, arriscando um falsete maravilhoso e fazendo uso de uma inesperada e bem sacada subida de tom.

Que o Brasil possa reconhecer em Toni Platão, mesmo que tardiamente, o talento do grande intérprete que é!

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Seguindo a trilha aberta pelo Monobloco, capitaneado por Pedro Luís no Rio de Janeiro, surgiu em Aracaju o Bloco Burundanga, tendo à frente um outro Pedro, o nosso percussionista-maior Pedrinho Mendonça. Criado em janeiro deste ano, o projeto correlato utiliza, entre outras ferramentas, o Método do Passo, criado pelo Professor Lucas Ciavatta. O objetivo é ministrar aos interessados aulas práticas nas quais o conceito básico é trabalhar com os instrumentos de percussão originários de uma escola de samba (surdo, caixa, repique, tamborim, agogô e ganzá), mostrando a pluralidade do universo cultural brasileiro. Com essa idéia, são destacados os seguintes aspectos nas oficinas: musicalização, técnica, prática de conjunto, ritmos e repertório. Áh! O Burundanga promete também arrasar no próximo Pré-Caju. O lance, então, é entrar nessa porque quem perde tempo vive menos e a vida é rápida demais para isso…

 

· Embora tenha acabado de chegar às lojas o CD “Belô, Samba!” (uma coletânea comemorativa dos seus dez anos de carreira), a cantora Belô Velloso já se encontra em estúdio gravando as canções que farão parte de seu quinto CD, o qual chegará às lojas no primeiro semestre de 2007.

 

·               Depois que voltou à mídia, a baiana Margareth Menezes vem lançando discos regularmente, a maioria projetos ao vivo onde revisita hits do apogeu de sua carreira. O novo CD, que acaba de chegar às lojas através da gravadora EMI (intitulado “Brasileira”), não foge à regra, só que desta feita a artista resolveu fazer um tributo explícito ao samba-reggae, ritmo que a catapultou para o sucesso. O álbum foi gravado em shows realizados na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), em agosto deste ano, e está saindo também no formato DVD. Margareth continua cantando muito bem, com sua voz possante e extremamente grave. Há – claro! – canções que não poderiam faltam no repertório de um trabalho desse tipo, como é o caso de “Faraó, Divindade do Egito”, “Uma História de Ifá (Elegibô)”, “Salvador Não Inerte” e “Alfabeto do Negão”, mas os melhores momentos ficam mesmo por conta do medley “Cordeiro de Nanã / Deixa a Gira Girar / Atabaque, Chora” que conta com a participação de Mateus Aleluia e Saul Barbosa nos vocais e das faixas “Na Ponta do Pé”, “Tempo Sara” e “Toté de Maianga” (com citação de “Cavaleiro de Aruanda”). Há ainda a regravação de “A Luz de Tieta”, composta por Caetano Veloso para trilha sonora de filme baseado em obra de Jorge Amado, e a participação de Carlinhos Brown em “Lenda Yorubá”, samba-enredo bastante inspirado.

 

·               Três discos lançados por Ronnie Von no começo de sua carreira chegam ao formato CD através da gravadora Universal. São eles os álbuns “Ronnie Von” (1966), “Ronnie Von” (1969) e “Minha Máquina Voadora” (1970).

 

·               Acaba de chegar às lojas, através da gravadora Som Livre, o DVD do show “Pietá” de Milton Nascimento. O trabalho conta com convidados como a cantora Marina Machado (nas músicas “Casa Aberta”, “Vento de Maio” e “Tristesse”) e do grupo Berimbrown (em “Fé Cega, Faca Amolada”).

 

·               No mesmo ano em que lançou o belo CD “Nobreza”, dividido com o violonista Luiz Brasil, a cantora Jussara Silveira, através da gravadora baiana Maianga, faz chegar às lojas mais um trabalho interessante. Trata-se do álbum temático intitulado “Entre o Amor e o Mar”, no qual a cantora mostra a sua aptidão para o canto e para a escolha do repertório. A produção coube, de novo, ao experiente Luiz Brasil que, sabedor da voz cristalina de Jussara, valoriza-a com arranjos de rara sensibilidade. A primeira faixa já valeria o CD inteiro: “Só” (parceria dos ainda desconhecidos Guilherme Wisnik e Vadim Nikitin) é daquelas canções atemporais, sopradas aos ouvidos de seus compositores pelos deuses da Música. Autores geralmente presentes nos discos de Jussara tornam a serem gravados: Dorival Caymmi (“Morena do Mar”), Quito Ribeiro (“Braço de Mar”), Paquito (“Sonhei Que Eu Era Feliz”) e Roque Ferreira (“Chula Cortada”). Há, ainda, músicas inéditas compostas especialmente para Jussara, a exemplo da faixa-título (de Ná Ozzetti e Luiz Tatit), de “Meu Coração Só” (de Adriana Calcanhotto) e de “O Nosso Amor é Maior” (de Péricles Cavalcanti). Dentre os novos nomes da MPB, a artista também pinçou boas músicas, a exemplo de “Só Pra Ver Onde Dá” (de Rômulo Fróes e Gustavo Moura) e “À Contraluz” (de Paulo Neves). Completando a lista, vêm as faixas “Oferenda” (de Itamar Assumpção) e “Gangorra de Dois” (de Péri, outra bela canção, comprovando a excelente fase criativa do compositor, um dos que mais se destacaram neste ano que ora finda).

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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