MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantora: GAL COSTA

CD: “GAL COSTA – AO VIVO”

Gravadora: TRAMA

 

Considerada por muitos como uma das melhores cantoras do Brasil, a verdade é que a baiana Gal Costa andou um tanto quanto esmaecida nos últimos anos, resultado de mal sucedidos discos nos quais optou por regravar canções já bem manjadas. Em seu último CD de estúdio (o excessivamente elogiado “Hoje”), todavia, deu vez a compositores pouco conhecidos, o que, por si só, já mereceria aplausos, muito embora o trabalho de fato não tenha resultado assim tão satisfatório.

Mas é o repertório desse álbum que serviu como base para o show homônimo que Gal ainda apresenta em palcos nacionais e internacionais e que, registrado em vídeo quando realizado no Citibank Hall (SP) ano passado, resultou em DVD e CD que aportaram há pouco no mercado.

É incontestável que as músicas funcionam bem melhor no palco. É o caso, por exemplo, de “Santana” (de Junio Barreto e João Carlos), “Embebedado” (de Chico Buarque e Zé Miguel Wisnik) e “Logus-Pé” (Tito Bahiense), que cresceram sobremaneira, transformando-se nos melhores momentos do projeto. Mas Gal, muito embora ainda esteja cantando bem pra caramba com sua voz aguda e límpida, já não mostra o mesmo brilho de outrora. E não é porque deixou de atingir as notas mais agudas (como fica claro na sua dispensável e amarelecida releitura de “Meu Nome é Gal”, de Roberto e Erasmo Carlos), mas porque dá para perceber que a artista já não se entrega com a mesma garra de outrora à arte de cantar. A técnica está lá intacta (os vibratos perfeitos nos finais das frases comprovam isso), mas a emoção lhe soa rasa, como se estivesse cantando por obrigação e não por prazer.

As escolhas pouco óbvias de músicas por ela gravadas em trabalhos anteriores (como “Fruta Gogóia”, recolhida do folclore baiano, “Juventude Transviada”, de Luiz Melodia, e “Todo Amor Que Houver Nessa Vida”, de Cazuza e Frejat) ajudam a ratificar essa impressão.

A exceção fica por conta de “Antonico” (de Ismael Silva), mas é muito pouco para uma cantora que sempre esteve na vanguarda da nossa MPB, tendo capitaneado, inclusive, ao lado de Gil e Caetano, o antológico movimento da Tropicália.

Para os fãs mais ardorosos, o DVD traz seis músicas a mais do que as quatorze presentes no CD. São elas: “Voyeur” (de Péri), “Um Passo a Frente” (de Moreno Veloso e Quito Ribeiro), “Nada a Ver” (de Hilton Raw, Lenora de Barros e Marcos Augusto), “Feitio de Oração” (de Noel Rosa e Vadico), “Sexo e Luz” e “Te Adorar” (estas duas de Lokua Kanza e Carlos Rennó).

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: THAÍS GULIN

CD: “THAÍS GULIN”

Gravadora: ROB DIGITAL

 

O Brasil é realmente um país fértil no que diz respeito a cantoras. É raro o ano no qual não surgem pelo menos uma dezena de boas novas intérpretes, mostrando talento em diversos gêneros musicais (embora a predominância recaia sobre a MPB, o samba e o rock) e tentando, assim, conseguir um lugar de destaque no mercado fonográfico nacional.

Um desses bons nomes lançou o seu primeiro CD no finalzinho do ano passado. Trata-se da paranaense Thaís Gulin que, produzida por Fernando Moura, realizou um belo trabalho, o qual aportou nas lojas através da pequena gravadora Rob Digital.

Thais tem boa extensão vocal e timbre deveras agradável. Mostrou possuir gosto musical apurado quando da escolha do repertório que uniu várias vertentes da nossa música, conduzindo-o com galhardia. E soube apropriar-se de algumas canções já mais conhecidas e revesti-las com tintas novas, transportando-as para o universo de seu canto.

O álbum em tela é composto por doze faixas e a primeira metade dele é realmente um primor! A marcha-rancho “Lua Cheia”, música antiga assinada por Chico Buarque e Toquinho, recebeu um arranjo grandioso e se transformou no mais sublime momento do disco. Mas há outros destaques e estes ficam por conta da delicada releitura de “Bloco da Solidão” (de Jair Amorim e Evaldo Gouveia), da inusitada (re)descoberta de “Defeito 10: Cedotardar” (de Tom Zé e Moacyr Albuquerque), do inspirado registro de “Piano”, de Iara Rennó e Anelis Assumpção, e da sutil inspiração de “Cisco” (de Zeca Baleiro e Carlos Careqa). A artista derrapa apenas em “Hino de Duran” (de Chico Buarque), canção aparentemente fácil mas de complexa interpretação (nela, nota-se um certo desconforto de Thaís) e nas duas canções que assina como autora (“Cinema Incompleto”, parceria com Arrigo Barnabé, e “A Vida da Outra”, parceria com Rogério Guimarães), ambas com melodias pouco assimiláveis.

Inobstante esses percalços, o disco resulta em um ótimo começo para uma cantora que tem tudo para fincar o seu nome na constelação de estrelas da nossa MPB, mormente se vier a concentrar o seu trabalho no lado de intérprete, deixando a composição para quem realmente entende do riscado.  

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Enquanto não lança o seu novo CD de inéditas (que virá recheado com diversos convidados especiais), Erasmo Carlos comemora os 65 anos com o álbum duplo intitulado “Na Estrada”. Distribuído pela gravadora Universal, trata-se de uma criteriosa compilação efetuada pelo estudioso Rodrigo Faour na qual o ouvinte pode ter uma amostra geral sobre a obra do Tremendão. No CD 1, Erasmo canta músicas de outros compositores (“De Noite na Cama”, de Caetano Veloso, “Queremos Saber”, de Gilberto Gil e “Negro Gato”, de Getúlio Cortes, entre outras). Já no CD 2, vários nomes da MPB interpretam canções de sua autoria feitas em parceria com Roberto Carlos (por exemplo: “Jesus Cristo”, com Maria Bethânia, “Mundo Deserto”, com Elis Regina e “Além do Horizonte”, com Nara Leão).

 

·               E o baú musical de Cássia Eller parece mesmo não ter fim. Nem bem esquentou nas lojas o CD ao vivo que registrou a apresentação da artista no Rock in Rio 3, a gravadora Universal já anuncia ter encontrado um acervo contendo gravações desconhecidas da artista. O material está sendo restaurado e a previsão é que se transforme em mais um CD póstumo que deverá ser lançado no primeiro semestre de 2007. O disco deverá trazer faixas extras, não encontráveis na discografia oficial da cantora, e apresentará duas gravações inéditas.

 

·               O grupo Babado Novo está lançando o CD intitulado “Ver-te Mar”, música que resultou da parceria de Carlinhos Brown com Michael Sullivan, os quais contribuem também com “Insolação do Coração”, a primeira faixa de trabalho.

 

·               Maria Bethânia será tema do documentário “Pedrinha de Aruanda”, do cineasta Andrucha Waddington, marido da atriz Fernanda Torres.

 

·               A goiana Bel Maia chega ao seu segundo CD intitulado “Novo Dia”. Com bela e afinada voz, a cantora só precisa daqui pra frente dar mais vazão ao seu lado de intérprete pois, sendo de sua autoria todas as dez faixas do álbum, este termina por seguir linhas melódicas previsíveis. Os arranjos bem elaborados são o ponto alto do disco, surgindo a faixa “Janelas Abertas” como o melhor momento.

 

· “Revirão” é o título do novo CD de Jorge Mautner, primeiro trabalho solo por ele lançado desde 2002, quando dividiu o álbum “Eu Não Peço Desculpa” com Caetano Veloso. Mautner sempre rondou o universo dos baianos Caetano e Gilberto Gil, mas nunca conseguiu de fato emplacar feito eles. Como compositor, sua canção mais famosa é “Maracatu Atômico”. Como cantor, a voz pequena não lhe permite maiores arroubos. Mas é inegável o talento de Mautner, especialmente quando divide a autoria de canções com o parceiro mais constante, o criativo Nelson Jacobina. No recém-lançado disco, que chega às lojas através da gravadora WEA, dois dos melhores momentos resultam do encontro entre os dois: as faixas “Ao Som da Orquestra Imperial” e “Ressurreições”. Além de outras duas canções inéditas que Mautner compôs com Gil (“Os Pais” e “Outros Viram”), os destaques ficam por conta das participações especiais do próprio Ministro da Cultura, de Caetano Veloso e de Preta Gil.

 

·               A jovem cantora Raíza (de apenas 16 anos) está lançando o CD “Muito Além de Mim”, no qual revisita a obra do compositor Paulo Sérgio Valle. Dentre as canções incluídas estão parcerias com o irmão Marcos Valle (“Preciso Aprender a Ser Só”), Chico Roque (“Preciso Aceitar”), Eduardo Souto Neto (“O Rio é Você”), Armando Nogueira (“Amor de Miragem”) e Dalto (“É Assim”).

 

· Pela primeira vez, o cantor Jamelão não gravou o samba-enredo da escola de samba Mangueira no CD oficial com os temas do Grupo Especial do Carnaval 2007. Adoentado, foi substituído por Luizito, mas como uma forma de homenageá-lo a cantora Alcione saúda-o na introdução da faixa.

 

·               Chegou às lojas recentemente o CD “Lendas Brasileiras” que conta com a participação de diversos artistas, dentre eles: Alceu Valença, Leila Pinheiro, Lenine, Ana Carolina e Luiz Melodia. Com distribuição da gravadora EMI e produzido por Líber Gadelha, o projeto reúne temas inéditos relacionados a crendices do folclore brasileiro como o Boitatá, a Mula-Sem-Cabeça, o Curupira e outros.

 

·               E, embora tardiamente, foi lançado o DVD referente ao show “Pietá” de Milton Nascimento. O registro, a cabo da gravadora Som Livre, mostra o artista cantando com a cantora Marina Machado (em “Encontros e Despedidas”, “Casa Aberta” e “Tristesse”), com Lenine (em “Paciência”) e com o grupo Berimbrown (em “Fé Cega, Faca Amolada”).

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais