MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Banda: MARIA PREÁ

CD: “AVESSO”

Gravadora: ELO MUSIC

 

A cada esquina deste país imenso surgem, mensalmente, bandas de diversos estilos musicais. Torna-se cada vez mais difícil se conhecer a maioria delas, mesmo em tempos de Internet. Algumas bem bacanas, inclusive, passam ao largo do grande público, o que é uma pena…

Uma dessas bandas de ótima qualidade e que deveria ser bastante conhecida atende pelo sugestivo nome de Maria Preá e acaba de fazer chegas às lojas, através da Elo Music, o seu primeiro CD intitulado “Avesso”. Contendo modestas dez faixas, o trabalho se destaca não pela novidade (há muitos no caminho por ela adotado), mas pela qualidade (há poucos fazendo tão bem).

De fato, não obstante a sonoridade passear entre elementos tradicionais e modernos, o grande charme reside na criatividade dos arranjos e na beleza da voz da vocalista Laetícia Madsen. Assim, os arranjos tornam-se molduras apropriadas para a voz segura da cantora, de timbre que lembra por vezes Maria Rita, por vezes Rita Ribeiro, mas que nem por isso deixa de apresentar personalidade própria.

Entre ritmos como coco, samba, baião, bumba-meu-boi, reggae, chegança e maracatu, a banda mostra uma maturidade insuspeita. Além de momentos resgatados do folclore (“Tambor de Mina” e “Ponto Pro Caboclo Sete Flechas”), há boas regravações das conhecidíssimas “Carcará”, de João do Vale e José Cândido (com riffs de guitarra e uma zabumba com toque que remete a uma batida funk), e “Caxangá”, de Milton Nascimento e Fernando Brant (com os atabaques construindo um ambiente de confronto, como a letra insinua).

No entanto, os melhores momentos do disco ficam mesmo por conta das inéditas, dentre elas “Vidente”, de Erasmo Dibel (um reggae moderno e perspicaz), “Ponteira”, de Sérgio Habibe (canção brejeira de harmonia sofisticada), “Circo dos Horrores”, de Josias Sobrinho (de levada teatral e clima onírico) e principalmente “A Volta de Lampião”, de César Teixeira (faixa em que os efeitos rítmicos evocam a valentia do nosso povo).

Um CD que ressalta a cultura popular brasileira de uma forma tão inteligente quanto universal!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: MART’NÁLIA

CD: “EM BERLIM – AO VIVO”

Gravadora: QUITANDA / BISCOITO FINO

 

Que ela é de uma alegria contagiante, ninguém pode negar! Que possui um talento inato, também não! Aliado a esses atributos, ainda possui uma voz docemente rouca, de timbre agradável e afinação precisa. Está a se falar de Mart’nália, cantora carioca da gema, filha de Martinho da Vila, e que acaba de lançar pelo selo Quitanda (de propriedade de Maria Bethânia) o CD intitulado “Em Berlim – Ao Vivo”, o qual nada mais é, na verdade, do que o registro em áudio do show que já havia sido lançado, pouco tempo atrás, no formato DVD.

Mart’nália demorou um pouco a emplacar a carreira, até que, credenciada por Caetano Veloso, lançou, em 2002, o álbum “Pé do Meu samba” no qual alinhava compositores antigos (Noel Rosa em “Filosofia”) a outros da safra mais recente (Celso Fonseca em “Samba É Tudo”, parceria com Ronaldo Bastos). A partir daí, viu seu nome crescendo a cada trabalho. Ganhou, em seguida, uma canção inédita de Djavan (“Celeuma”) e passou a compor com gente como Zélia Duncan (“Benditas”) e Moska (“Essa É a Última Solidão da Sua Vida”). No ano passado, lançou o álbum “Menino do Rio”, no qual revisitou pérolas de Monsueto (“Casa 1 da Vila”) e Guilherme Arantes (Só Deus É Quem Sabe”) e ganhou a inédita “Cabide” de Ana Carolina, música que, incluída na trilha sonora da novela global “Paraíso Tropical”, conquistou de imediato um dos primeiros lugares das paradas de sucesso.

Foi envolvida nessa aura de conquista que Mart’nália realizou, em junho do ano passado, na Alemanha, durante a “Copa da Cultura”, o espetáculo cujo registro resultou no CD recém-lançado. Como convém a uma grande artista, a cantora cresce ao vivo e conquista o público com uma facilidade e espontaneidade impressionantes. E é dessa forma que enfileira sambas conhecidos nas vozes de intérpretes vários (“Alguém de Avisou”, de D. Ivone Lara, e “Vazio”, de Nelson Rufino) a outros por ela gravados (“Boto Meu Povo Na Rua”, de Arlindo Cruz, e “Entretanto” parceria dela com Mombaça), mantendo o mesmo pique.

Como brinde para os fãs, nas faixas bônus surgem dois convidados especialíssimos: Chico Buarque e Luiz Melodia. O primeiro canta com ela “Sem Compromisso” (de Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro) e “Deixe a Menina” (dele próprio), enquanto o segundo, em gravação de estúdio, divide os vocais de “Estácio, Holly Estácio”.

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Prossegue nesta terça-feira (dia 18), no Teatro Atheneu, o Projeto “Prata da Casa” que desta feita levará ao palco da conhecida casa de espetáculos a banda Maria Scombona (com sua miscelânea musical que inclui rock, blues e pitada de nordestinidade) e Paulo Lobo (compositor geralmente inspirado e um dos nomes mais conhecidos da nossa música sergipana). Os shows começam pontualmente às 21 horas.

 

·               Enquanto Zizi Possi se apresenta na próxima sexta-feira (dia 21) no Espaço Emes, apresentando show com repertório internacional, no domingo (dia 23) será a vez de o Teatro Tobias Barreto receber Elba Ramalho com toda a verve criativa e energia esfuziante que lhes são características. Ambas as apresentações são imperdíveis!

 

·               Fafá de Belém estreou como atriz em “Caminhos do Coração”, nova telenovela da Rede Record e regravou especialmente para a trilha sonora correlata a canção “Raça”, lançada originalmente por ela em 1977 (no belo disco “Água”). O novo registro conta com a participação especial de Milton Nascimento, um dos autores da música (feita em parceria com Fernando Brant).

 

·               O produtor Thiago Marques (que lançou, há pouco, um CD tributo a Maysa) já prepara, com vistas a ser lançado em novembro próximo, um novo trabalho, desta feita em homenagem a Dolores Duran. Dentre os artistas que se farão presentes estarão Leila Pinheiro, Fátima Guedes, Carlos Navas, Wanderléia, Fafá de Belém, Pery Ribeiro, Fágner, Tetê Espíndola e Zezé Motta. Também participa do projeto a irmã mais nova de Dolores, Denise Duran.

 

·               Juliana Amaral chega ao seu segundo CD mergulhando de cabeça no samba. “Juliana Samba” é o titulo do novo trabalho, um lançamento da Lua Music, que leva a assinatura de Moacyr Luz na produção. São doze faixas nas quais a cantora passeia sua deliciosa voz com precisão e maestria incomuns. Dona de um belo timbre, Juliana mostra estar pronta para alçar vôos bem mais altos. No repertório estão compositores como Cartola, Paulinho da Viola e Heitor dos Prazeres. Os melhores momentos, no entanto, ficam por conta de “São Mateus” (de Marcos Paiva e Rodrigo Campos), “Samba a Dois” (de Marcelo Camelo), “Nos Embalos da Vila” (de Martinho da Vila), “Canta” (de Wilson Baptista), “Então, Leva” (de Luiz Carlos da Vila e Bira da Vila) e “Resistência” (de Nei Lopes e Zé Luiz do Império). Muito legal mesmo!

 

·               A gravadora Som Livre acaba de pôr no mercado o CD e o DVD “Waldick Soriano ao Vivo” que levam a assinatura de José Milton na produção. O lançamento acontece pegando carona no ainda inédito documentário idealizado e dirigido pela atriz Patrícia Pillar sobre o autor de hits populares como “Eu Não Sou Cachorro Não” e “Tortura de Amor”. Cláudia Barroso é a convidada especial da faixa “Você Mudou Demais”.

 

·               Ana Carolina compôs especialmente para Luiza Possi incluir no show de gravação do seu primeiro CD a canção “Verão e Inferno”. Gravado no Teatro Municipal de Niterói, a filha de Zizi ganhou também “Rastro de Cometa” de Jorge Vercilo. Herbert Vianna está presente como convidado especial no medley que reúne “Por Quase Um Segundo” (dele próprio) e “Calling You” (conhecido tema do filme “Bagdad Café”).

 

·               A banda Cidade Negra gravou ao vivo o show “Diversão” que chegará ao mercado, ainda este ano, nos formatos CD e DVD. Trata-se de um projeto no qual os rapazes revisitarão vários sucessos da MPB, tentando revesti-los com a batida do reggae. No repertório estarão canções de Belchior (“A Palo Seco”), Jorge Ben Jor (“Errare Humanum Est”) e Milton Nascimento (“Clube da Esquina 2″, parceria com Lô Borges).  

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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