MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantor: MILTON NASCIMENTO

CD: “NOVAS BOSSAS”

Gravadora: EMI

 

Milton Nascimento tem incontestável importância na história da nossa MPB. Capitaneando a turma do Clube da Esquina (formado, entre outros, por nomes como Lô Borges, Beto Guedes, Novelli, Wagner Tiso e Toninho Horta), pôs a música de Minas Gerais na rota da chamada world music, revelando-se um grande compositor (um dos preferidos da insuperável Elis Regina) e uma das maiores vozes masculinas já nascidas nestas terras brazilis.

Depois de seis anos sem lançar CD (o último saiu em 2002, o super elogiado “Pietá”), Milton acaba de pôr nas lojas o álbum “Novas Bossas”. O título evidentemente é uma alusão explícita ao movimento da bossa nova que revolucionou a música no Brasil a partir de meados dos anos sessenta. Não se trata, contudo, de um disco que priorize o repertório que caracterizou o citado movimento musical, mas muito mais uma homenagem a um de seus maiores expoentes, o inesquecível Tom Jobim: das quatorze faixas constantes do CD, oito são de autoria do maestro soberano.

Analisando o trabalho mais atentamente, encontramos nele alguns pontos que convergem a um retorno. Um deles é o fato de chegar às lojas através da multinacional EMI, gravadora que detém a maior parte da extensa discografia de Milton e que apostou em seu talento no começo da carreira. Um outro é a volta de Milton basicamente para o seu lado de intérprete, ele que é inegavelmente um grande compositor, ensaio que se desenhou também no álbum “Crooner”, lançado em 1999. Por isso, no resultado geral, é muito mais um disco de Milton que propriamente da bossa nova. O artista a traz para o seu universo sem firulas, mas sem jamais descaracterizá-la.

Milton, é verdade, já teve voz mais potente. Famoso por seus falsetes belíssimos, após passar por problemas de saúde, o artista viu sua voz ter a força comprometida. Curiosa e felizmente, no recém lançado CD as dificuldades correlatas mostram-se amenizadas e em algumas faixas o Milton de tempos atrás surge altaneiro, como na oportuna e pungente regravação de “O Vento” (de Dorival Caymmi), na qual o cantor usa e abusa de graves e agudos, ou em “Samba do Avião”, canção jobiniana de intrincada construção melódica, que recebeu de Milton um tratamento especial, resultando em grande momento.

O disco é praticamente dividido com o Jobim Trio, o qual é composto por Paulo Jobim (no violão, um dos filhos de Tom), por Daniel Jobim (no piano, um dos netos de Tom), e por Paulo Braga (na bateria). Soma-se a eles o talento do jovem Rodrigo Villa no baixo. Os arranjos são enxutos, mas de uma qualidade inquestionável.

Do seu próprio repertório Milton revisita “Tudo Que Você Podia Ser” (de Lô e Márcio Borges), “Tarde” (dele em parceria com Márcio Borges) e “Cais” (dele e Ronaldo Bastos), outro grande destaque. Mas na linha de frente estão também faixas como “Dias Azuis” (tema de Daniel Jobim que tinha sido gravado antes pelo guitarrista de jazz Lee Ritenour no álbum “Smoke’n’Mirrors”), “Caminhos Cruzados” (de Tom e Newton Mendonça), “Medo de Amar” (de Vinicius de Moraes) e “Trem de Ferro” (inspirada melodia de Tom sobre versos de Manuel Bandeira).

Milton Nascimento volta em boa hora e decerto, se bem divulgado, esse novo CD terá vida longa!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: DANIEL GONZAGA

CD: “COMPORTAMENTO GERAL”

Gravadora: BISCOITO FINO

Deve ter sido mesmo muito difícil o cantor e compositor Daniel Gonzaga escolher as quinze canções que compõem o repertório de seu novo CD intitulado “Comportamento Geral”, o qual acaba de chegar às lojas através da gravadora Biscoito Fino. Filho do grande Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o inesquecível Gonzaguinha, Daniel resolveu prestar uma merecida homenagem ao seu pai, regravando músicas compostas por ele ao longo de sua vitoriosa e fugaz carreira.

Mais difícil, porém, deve ter sido tomar essa decisão. Filho de artista famoso tem sempre que vencer o estigma de que está querendo pegar carona na fama do outro e talvez por isso foi necessário vencer algumas resistências internas para poder mergulhar de cabeça no novo trabalho. Isto é assumido de forma explícita pelo próprio Daniel no texto de apresentação do CD: “Gravar meu pai foi um processo de 16 anos e quatro discos.”

Em três de seus discos anteriores, o jovem Daniel já havia se mostrado um compositor de talento ímpar. Criador de boas melodias e letras inteligentes, ele é antenado com o momento presente e não se mostra fechado a quaisquer influências. No outro deles, cegou a revisitar o repertório do avô também famoso, Luiz Gonzaga, o eterno Rei do Baião.

A crítica dita especializada não tem recebido o álbum recém-lançado de forma muito amistosa. Reclamam de certo ineditismo e ousadia que, com certeza, não se transformaram em prioridade para Daniel. O fato é que não se pode exigir que um disco que tem, acima de tudo, um caráter tão emocional possa vir a surpreender. Daniel não optou por desconstruir a obra do pai. Aliás – registre-se -, Gonzaguinha é daquele tipo de compositor que trouxe ao mundo canções definidas, de forma que fica mesmo muito complicado alterar suas possibilidades. Seus sambas são sambas, suas baladas são baladas, por exemplo, e torna-se tarefa hercúlea fugir disso.

Para alguns, Daniel tem como fator complicador o timbre de voz que é extremamente parecido com o de Gonzaguinha. Para mim, particularmente, isso lhe é um presente dos deuses! Opiniões à parte, no CD o artista une grandes sucessos (“Explode Coração”, “Sangrando”, “Feliz”, “O Que É? O Que É?”) a canções menos conhecidas mas nem por isso menos inspiradas (“Dias de Santos e Silvas”, “João do Amor Divino”, “Chão, Pó, Poeira”, “Da Vida”), envolvendo-as em bons arranjos concebidos pelos músicos que o acompanham na empreitada. Os melhores momentos, no entanto, ficam por conta das obras-primas “Gás Neon”, “Recado” e Festa”.

Não dá para deixar passar à margem esse belo tributo!

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Produzido por Alex Moreira, chega às lojas, através da gravadora Indie Records, o primeiro CD de Rodrigo Sha. Intitulado “Todo Mundo”, o álbum traz doze faixas, onze delas assinadas pelo próprio artista, algumas ao lado de parceiros como Moska, George Israel, Alexandre Castilho, Roberto Menescal e Mu Chebabi. A única regravação é “Se Você Jurar”, pérola de autoria de Ismael Silva, Nilton Bastos e Francisco Alves. O repertório se volta basicamente para o pop rock e os arranjos mostram boas idéias, envoltos por programações que terminam por dar um ar moderno a boas canções como “Sol na Vida”, “Trem” e “Multidão”.

 

·               A excepcional Ithamara Koorax está empreendendo, com grande sucesso, uma turnê pela Europa intitulada “European Tour 2008”, a qual foi noticiada com destaque pela revista DownBeat. Durante este mês, a cantora carioca estará realizando vinte shows na Suíça, todos eles com lotação já esgotada. Ithamara apresentou-se também, com enorme sucesso, no clube de jazz “Bird’s Eye”, em Basel, e no concerto realizado no “Stanser Musiktage Festival”, na cidade de Basel, foi ovacionada de pé, ao término da apresentação, durante vários minutos. Nossas palmas pra ela!

 

·               No início da carreira, Zé Ramalho teve alguns de seus shows realizados em João Pessoa (PB) devidamente registrados em áudio. Essas fitas foram recentemente descobertas pelo pesquisador musical Marcelo Fróes e acabam de resultar no CD duplo “Zé Ramalho da Paraíba”, o qual estará chegando às lojas no próximo mês de maio, inaugurando o selo Discobertas que tem como objetivo resgatar tesouros perdidos da música brasileira. Excelente idéia!

 

·               De Pernambuco chega o CD “Frevos-Mulher” da cantora e compositora Maria Olívia. Trata-se de um trabalho independente composto por doze faixas, todas elas frevos bastante inspirados que surgem emoldurados por arranjos executados pela Spokfrevo Orquestra. Boa pedida!

 

·               O terceiro CD de Frejat já começa a ser formatado e terá o seu repertório baseado no pop romântico. Com produção do tecladista Maurício Barros, um dos integrantes da primeira formação do Barão Vermelho, uma das faixas (“Dois Lados”) do novo trabalho já pode ser ouvida na trilha sonora da telenovela global “Beleza Pura”.

 

·               O especial “Mulher 80”, dirigido por Daniel Filho e levado ao ar em dezembro de 1979 pela Rede Globo, acaba de se transformar em DVD que chega às lojas, ainda este mês, através da gravadora Biscoito Fino. O programa, que traz Regina Duarte como apresentadora, mostra um painel do melhor da MPB naquela época e reúne, em seu elenco, nomes como Elis Regina, Simone, Gal Costa, Fafá de Belém, Maria Bethânia, Rita Lee, Zezé Motta e Marina Lima. Realmente imperdível!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

 

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