MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

 

Cantora: CIDA MOREIRA

CD: “ANGENOR”

Gravadora: LUA MUSIC

 

Cida Moreira é cantora paulista que começou sua carreira na década de setenta, participando de peças de teatro e espetáculos musicais. Exímia pianista, nunca viu seu nome freqüentar as paradas de sucesso e nem possui, de fato, um grande hit em sua carreira (embora tenha tido o mérito de resgatar a bela “Balada do Louco”, do repertório dos Mutantes, antes mesmo da incensada releitura de Ney Matogrosso), mas tem seu nome respeitado entre os aficcionados pela boa música popular brasileira.

Seu primeiro disco, “Summertime”, independente e ao vivo, foi lançado em 1981 com clássicos do blues e do jazz norte-americano. Em seguida, ela gravou outros bons álbuns, alguns dedicados integralmente a compositores, como o clássico Brecht e o popular Chico Buarque.

Intérprete vigorosa, com potência vocal considerável, tem seu canto moldado na escola clássica, o que, por vezes, faz com que suas interpretações ganhem um ar over. Isto, no entanto, não é o que se afigura no recém-lançado CD “Angenor”, que acaba de chegar às lojas através da gravadora Lua Music, no qual Cida se debruça sobre o repertório de Cartola, compositor carioca que, se vivo fosse, estaria a completar 100 anos este ano.

Cartola gravou apenas quatro discos solo em estúdio. Criador de canções antológicas como “As Rosas não Falam”, “O Mundo é um Moinho” e “Acontece”, ele já teve sua obra registrada por outros artistas, mas a homenagem de Cida é, de fato, especial, menos por ela se utilizar acertadamente de tons mais sóbrios em suas interpretações do que pelo fato de ter escolhido as dezesseis faixas que compõem o repertório basicamente entre belas canções menos conhecidas do compositor mangueirense. Aí reside o mérito maior do trabalho, pois, em assim sendo, são trazidas a lume ótimas criações que passaram à margem do tempo, esfumaçadas (talvez injustamente) por pérolas como “Cordas de Aço” e “Autonomia” (estas presentes, juntamente com as três acima citadas).

Cartola assina a maioria das canções sozinho, mas há parcerias com Nuno Veloso, Oswaldo Martins, Roberto Nascimento, Elton Medeiros, Hermínio Bello de Carvalho e Carlos Cachaça. Os melhores momentos ficam por conta de “A Canção que Chegou”, “Evite Meu Amor”, “Fim de Estrada”, “O Silêncio do Cipreste” e “O Inverno do Meu Tempo”, mas há ainda a surpresa de “Feriado na Roça”, tema de insuspeito sotaque ruralista.

Cida Moreira presta merecida homenagem a Cartola e apresenta um CD que merece destaque entre os que compõem a sua boa discografia.  

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: ZÉ GERALDO

CD: “CATADÔ DE BROMÉLIAS”

Selo/Gravadora: SOL DO MEIO-DIA/UNIMAR MUSIC

 

Zé Geraldo é oriundo da zona da mata mineira e, aos dezoito anos, mudou-se para São Paulo com o objetivo de se tornar jogador de futebol. Não foi essa a vontade do destino que, por vias transversas, o fez enveredar pelo caminho da música, empurrando-o, na segunda metade dos anos setenta, para apresentações em barezinhos e casas noturnas sob o pseudônimo ZeGê. O primeiro trabalho saiu em 1979 e de lá para cá são vários discos até chegar ao 16º, o qual acaba de chegar às lojas através da gravadora Unimar Music. De sua discografia fazem parte ainda os álbuns “Acústico”, lançado em 1996 com o Duofel, e “O Novo Amanhecer”, gravado em 2000 ao lado do amigo Renato Teixeira. No entanto, ele é mais conhecido até hoje por seus dois maiores sucessos: as canções “Milho aos Pombos” e “Cidadão’”, esta tendo sido, inclusive, regravada à exaustão.

Intitulado “Catadô de Bromélias”, o recém-lançado CD é composto por dez faixas, oito de autoria do próprio artista (duas delas são parcerias: uma com Zeca Baleiro e outra com Tavares Dias), uma de sua filha (a também cantora Nô Stopa) e uma versão de Gileno para sucesso antigo de Bob Dylan.

Zé Geraldo é daqueles artistas com estilo característico e inconfundível, sedimentado ao longo de mais de trinta anos de carreira. Dono de voz possante (ainda em forma) e de um timbre levemente rouco que se adequa com perfeição aos temas por ele cantados, muitas vezes ressaltando as desigualdades sociais e trazendo à tona várias críticas, é um artista que sempre correu por fora dos meios monopolizados pela mídia, mas que tem um público bastante fiel, o qual foi se formando principalmente nos rodeios e nas universidades, locais onde costuma realizar seus shows com freqüência.

A safra de inéditas agora apresentada é bem bacana. Já na faixa de abertura fica clara a sintonia entre ele e Baleiro em uma ótima canção que revela simbioticamente a grife dos dois artistas, vizinhos e moradores da Vila Madalena, famoso bairro da capital paulista. Mas há outros destaques: “Porra, Mano!”, por exemplo, tem todo o jeitão de hit imediato e “Last Station Before New York” traz uma contagiante pegada estradeira. Se “Última Reza” surge emoldurada por um belíssimo arranjo (em que se destacam violinos e acordeão), “Encantamento” mostra o lado mais singelo da obra do artista e “A Fé” reitera sua vertente religiosa.

Trata-se de um CD que ressalta, antes de qualquer coisa, que Zé Geraldo não se acomodou e continua produzindo, o que é muito bom. Ponto pra ele!

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Aproveitando a (boa) idéia de Zizi Possi de realizar vários shows para depois pinçar seus melhores momentos e lançá-los em CD e DVD ao vivo, Caetano Veloso já realiza temporada, desde o mês passado, em casa de espetáculos do Rio de Janeiro, a qual permanecerá durante todas as quartas-feiras até o final deste junho. O roteiro das apresentações será flexível a aproveitará a onda do momento para se manter atual. Tanto é assim que, aproveitando o escândalo em que o jogador Ronaldo se envolveu recentemente, Caetano redescobriu uma canção sua intitulada “Três Travestis”, a qual foi gravada originalmente por Zezé Motta em um compacto simples lançado em 1977. Caê promete a participação de diversos convidados especiais e o repertório vai privilegiar grandes sucessos de sua carreira, embora já esteja prometida também a inclusão de algumas canções inéditas. O projeto se intitula “Obra em Progresso” e os produtos finais deverão chegar às lojas até o final do ano. E por falar no irmão de Bethânia, ele acabou de gravar participação no novo CD do grupo baiano Jammil e uma Noites, mais especificamente nos vocais da música “Tempo de Estio”, de sua autoria. Já o DVD correlato vai trazer as presenças de Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Adelmo Casé e da banda Biquíni Cavadão junto aos animados rapazes.

 

·               Djavan acaba de lançar por sua editora, Luanda, seu songbook oficial. Intitulado “A Música de Djavan”, traz em três volumes as partituras de 185 músicas compostas pelo artista alagoano. As canções estão dispostas em ordem cronológica, divididas por disco (são dezessete álbuns lançados) e ao fim de cada volume, há os temas cedidos para outros intérpretes e nunca gravadas pelo autor. De fato, um grande lançamento, especialmente para os diversos músicos aficcionados pela obra do compositor.

 

·               E para matar a saudade dos fãs de Clara Nunes, a gravadora EMI acaba de pôr nas lojas o primeiro DVD da cantora mineira. Trata-se de uma compilação que reúne vinte e um clipes gravados pela artista para o programa “Fantástico”, da Rede Globo. A seleção inclui vídeos de músicas como “Canto das Três Raças” (1976), “Na Linha do Mar” (1979), “Morena de Angola” (1980) e “Nação” (1982).

 

·               A sambista Leci Brandão acaba de fazer chegar ao mercado mais um CD que vem se integrar à sua já vasta discografia. Intitulado “Eu e o Samba”, é o primeiro trabalho que a artista lança pela LGK Music, gravadora dirigida por Líber Gadelha, o pai de Luiza Possi. Com produção musical a cargo de Julinho Teixeira, o novo álbum traz, no repertório composto por quinze faixas, canções de autoria de Arlindo Cruz, Jorge Aragão e Luiz Cláudio Picolé, entre outros, e a regravação de “Tributo a Martin Luther King”, pioneiro manifesto de orgulho da raça negra, gravado originalmente em 1967 por Wilson Simonal. Na nova versão, Leci canta em dueto com Wilson Simoninha, filho de Simonal. Outros convidados especiais são: Mart’nália e Mário Sérgio, integrante do grupo Fundo de Quintal.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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