Musiqualidade

R E S E N H A     1

 

Cantores: ROBERTO CARLOS e CAETANO VELOSO

CD: “A MÚSICA DE TOM JOBIM”

Gravadora: SONY & BMG

 

Há cinqüenta anos surgia, no Rio de Janeiro, o movimento musical intitulado Bossa Nova que, em pouco tempo, fez o Brasil se tornar conhecido mundialmente como o celeiro de uma batida diferente que, entre o samba e o jazz, revolucionou o cenário musical. Para comemorar esse meio século de vida, a série Itaú Brasil reuniu, em agosto passado, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, dois dos maiores nomes do nosso cancioneiro: Roberto Carlos e Caetano Veloso.

O que ambos têm a ver com a tal da Bossa Nova? Aparentemente nada, vez que, quando a mesma estourou, eles estavam à volta com outros movimentos que também marcaram, cada um à sua forma, a nossa música popular.

Roberto fazia os jovens cantarem e dançarem ao som do iê-iê-iê, ao lado de Erasmo Carlos e de Wanderléa, nas eternas jovens tardes de domingo da Jovem Guarda. Caetano, sempre mais engajado, mostrava, ao lado de Gilberto Gil, idéias inquietantes à frente do Tropicalismo, com sua antropofagia musical e seus modelitos hippies.

Então, por que foram exatamente eles dois os escolhidos para essa comemoração histórica? A resposta reside certamente na fama que eles acumularam ao longo dos anos, tornando-se nomes de ponta da nossa MPB, mas é justo destacar que tanto o Rei quanto o filho de Dona Canô se mostraram, desde o primeiro momento, admiradores incondicionais de João Gilberto e de Tom Jobim, os dois primeiros nomes que surgem quando se pensa em Bossa Nova.

É o registro do show que os reuniu que acaba de sair, às vésperas do Natal, nos formatos CD e DVD pela gravadora Sony & BMG. Com esse lançamento, o esperado e prometido disco de inéditas de Roberto ficou (mais uma vez) adiado para o próximo ano, assim como o novo álbum de Caetano, já gravado, cuja gravadora (a Universal) resolveu por bem segurar um pouco para não misturar as coisas.

O repertório do projeto ora em tela concentrou-se somente em canções compostas por Tom, algumas criadas ao lado de famosos parceiros como Vinicius de Moraes, Aloysio de Oliveira e Newton Mendonça, não albergando músicas de outros bossa-novistas aclamados como, por exemplo, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Carlos Lyra.   

Ambos sessentões, mas com as vozes ainda em forma, Roberto e Caetano baixaram o tom para mergulhar nos registros intimistas que permeiam os temas escolhidos, os quais albergam poucas surpresas. Desta forma, fazem-se presentes “Garota de Ipanema”, “Wave”, “Chega de Saudade” e “Teresa da Praia”. São estas, inclusive, as quatro únicas canções em que os dois artistas dividem os vocais e o destaque fica por conta do bem-humorado diálogo travado na última delas (que teve o seu registro original feito por Dick Farney e Lúcio Alves em 1954).

Nos blocos em que se mostram sozinhos, Roberto e Caetano apóiam-se nos arranjadores que conhecem muito bem os seus trabalhos. Assim, enquanto o primeiro interpreta canções como “Por Causa de Você”, “Corcovado” e “Eu Sei Que Vou Te Amar” sob a batuta de Eduardo Lages, o segundo sente-se seguro nas mãos de Jaques Morelenbaum, pondo sua voz delicada a serviço de “Por Toda a Minha Vida”, “Meditação” e “O Que Tinha de Ser”. Roberto arrisca-se ainda ao cantar “Insensatez” em espanhol e tem momento especial quando divide “Lígia” com o próprio Tom (em áudio retirado de seu especial global de 1978).

O resultado, é fato, não vingou em um trabalho arrebatador, mas se sustenta por passar uma incontestável verdade no tributo dos dois à obra do Maestro Soberano e por reuni-los em um momento que, por si só, já se tornou antológico. 

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: ZECA BALEIRO

CD: “O CORAÇÃO DO HOMEM BOMBA – Volume 2”

Gravadora: MZA MUSIC

 

E não é que o maranhense Zeca Baleiro deixou para o Volume 2 de seu projeto “O Coração do Homem-Bomba” algumas das melhores canções de sua safra mais recente? Mas isso já era de se esperar porque o artista sempre mostrou inteligência e sagacidade acima da média. Não que o primeiro volume não seja bom. É, tanto que este analista lhe reconheceu os méritos quando de seu lançamento em agosto passado. Mas o fato é que a pluralidade criativa de Baleiro – talvez a sua marca mais importante – se mostra de forma mais intensa neste segundo disco (que acaba de chegar às lojas através da gravadora MZA Music).

Zeca é cantor correto, dono de voz grave e característica. Sabe imprimir aos versos que constrói uma personalidade própria, o que resulta em um intérprete com carisma incontestável. Mas certamente é na arte de compor que ele se mostra mais apurado. Eclético (e ecletismo – creiam! – é sempre um grande elogio), ele sabe percorrer vários ritmos, por vezes aproximando-se de alguns chavões, mas quase sempre sabendo se safar com destreza dos lugares comuns.

A alegria de vê-lo voltando a uma abertura maior no que tange à sua obra vem junto com a constatação que sua verve criativa continua em alta. Ao lado de novos parceiros como Wado, Kléber Albuquerque e Totonho, Baleiro abre o álbum em grande estilo. Se a contundente “Era” conquista de cara com uma melodia suave que bem acompanha os versos desesperançosos, o reggae “Tevê” ressalta a realidade das pessoas que deixam de viver suas próprias vidas para acompanhar as de outras.

Em momentos bastante inspirados, Baleiro apresenta as ótimas “Débora” (com idéias que remetem a “Não Enche”, de Caetano Veloso), “Pastiche” (permeada por onomatopéico jogo de palavras) e “Jesus no Cyber Café do Inferno” (esta, uma vinheta). Mas nada é superior aos três melhores momentos do disco: a toada “Boi do Dono” (em que o artista, mais uma vez, consegue um belo resultado ao mergulhar em ritmo característico de sua terra natal), a suave “Trova (Aonde Flores” (com refrão que pega de prima, canção pronta para virar hit, se incluída em trilha sonora de novela) e especialmente a pulsante “Tacape”, onde se destaca a fina ironia que costuma permear as letras de Baleiro. É nesta faixa também que se faz nítida a interação entre os componentes da banda que o vem acompanhando de uns tempos para cá (Fernando Mendes no baixo, Adriano Magoo nos teclados, Kuki Stolarski na bateria e Tuco Marcondes no violão).

Baleiro ainda resgata antiga parceria com André Bedurê (a mediana “Na Quitanda”), presta sua (já costumeira) homenagem a ídolos populares do passado (em “Como Diria Odair”) e põe melodia sobre poema inglês de Emily Dickinson (em “I’m Nobody”). Há ainda uma faixa escondida que surge alguns segundos após o término da descartável “Samba de um Janota Só”, a (suposta) derradeira faixa: trata-se de “Eu Odeio Coca Light”, um pseudo-repente composto com Chico César.

Zeca Baleiro segue sua trajetória, mostrando-se antenado com a universalidade e com o seu próprio universo musical.

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     Marcelo D2 continua à procura da batida perfeita e é assim que lança “A Arte do Barulho”, seu quinto disco, o qual vem marcar a estréia na gravadora EMI. Como de costume (desde quando integrava o Planet Hemp), versos críticos são envolvidos por uma pesada camada sonora e mostram um artista que mais declama do que canta (é muito mais rap do que samba, ao contrário do que alguns propagam por aí). Bem produzida por Mario Caldato Jr., a dúzia de novas canções é assinada pelo próprio D2, algumas delas ao lado de parceiros. A faixa “Desabafo” Já toca exaustivamente nas rádios e traz sampler de sucesso antigo da cantora Cláudya (tomara que esse sucesso faça com que a excelente intérprete possa ser redescoberta!). O CD conta, dentre outras, com as participações especiais de Seu Jorge, Mariana Aydar, Thalma de Freitas e Roberta Sá.

 

·                     Mudança de planos: para comemorar os trinta anos de carreira (cujo marco inicial foi o lançamento do disco “Ave de Prata”, em 1979), Elba Ramalho agora alardeia que irá lançar dois CD’s: enquanto um deles será totalmente voltado para os ritmos nordestinos (terá a produção do sanfoneiro Cezinha e deverá se intitular “Balaio do Amor”), o outro será inteiramente dedicado à obra do primo Zé Ramalho. A paraibana arretada planeja ainda gravar um DVD que registrará sua participação no circuito de festas juninas.

 

·                     Iara Rennó, integrante do grupo Dona Zica, acaba de lançar o seu primeiro CD solo. Filha do letrista Carlos Rennó com a compositora Alzira Espíndola (que vem a ser irmã da excepcional cantora Tetê Espíndola), a artista mostra-se segura em uma obra difícil de ser assimilada pelo público médio, mas que se apresenta ousada e criativa nas medidas certas. Com um timbre que lembra o das mulheres da família, Iara musicou versos do livro “Macunaíma, o Herói Sem Nenhum Caráter”, de Mário de Andrade, além de algumas passagens do texto em prosa, e construiu o bom álbum “Macunaíma Ópera Tupi” que conta com algumas participações especiais, como Tom Zé na faixa “Conversa” e Marcelo Pretto em “Quando Míngua a Luna”. Entre os melhores momentos estão “Mandu Sarará”, “Nina Macunaíma”, “Dói Dói Dói” e “Valei-me”.

 

·                     Em 1978, o filme “Os Doces Bárbaros”, que registrou os bastidores do polêmico show que reuniu os baianos Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Gilberto Gil, chegava aos cinemas. É este mesmo vídeo que agora ganha versão em DVD e chega às lojas através da gravadora Biscoito Fino. Vale como registro de um momento importante da história da nossa música popular.

 

·                     Já começa a ser executado nas rádios de apelo mais popular o single gravado por Ivete Sangalo com vistas ao Carnaval de 2009. Trata-se da canção “Cadê Dalila?”, parceria de Carlinhos Brown com Alain Tavares. A música vai estar também no CD de duetos “Pode Entrar” que a cantora tenciona lançar, através da gravadora Universal, ainda no primeiro semestre de 2009.

 

·                     A roqueira Pitty entrou em estúdio para registrar, especialmente para integrar o segundo volume da trilha sonora da telenovela global “Três Irmãs”, a sua versão para a canção “Nós Vamos Invadir Sua Praia”, sucesso oitentista da banda Ultraje a Rigor.

 

·                     E neste instante em que o mundo se confraterniza por conta do nascimento do Menino Jesus, aproveito para desejar a todos os leitores um Feliz e Santo Natal! Que possamos renovar, nos nossos corações, a esperança na construção de um mundo melhor e tenhamos a consciência de que aqui estamos para sermos felizes e para nos ajudar mutuamente. Que o espírito natalino nos envolva a todos!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

 

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