MUSIQUALIDADE

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantora: WANDERLÉA

CD: “NOVA ESTAÇÃO”

Gravadora: LUA MUSIC

 

Não, não vem envolto em conceito algum. É, sim, uma reunião de canções de vários autores e de diversos estilos. Mesmo assim, acabou de ser escolhido como o melhor CD do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Trata-se do novo álbum da cantora Wanderléa que há muito tempo não lançava algo tão legal e com tanto frescor. Engana-se, pois, quem entender que frescor tem a ver com canções inéditas. Não, todas as dezesseis canções escolhidas (reunidas nas treze faixas apresentadas) são regravações, algumas mais conhecidas e outras pinçadas de alguns lados B de trabalhos de outros artistas.

Wanderléa é cantora experiente, que despontou para o sucesso quando, ao lado de Roberto e Erasmo Carlos, formou o trio central que liderava a Jovem Guarda. A então menina que assombrava o Brasil interiorano da época com ousadas minissaias terminou engatando vários sucessos (“Ternura”, “Pare o Casamento” e “Prova de Fogo”, entre outros). Quando o movimento musical citado se esgotou, Wanderléa tentou arriscar-se por um caminho difícil. Era a década de setenta e ela lançou alguns bons discos (“Maravilhoso”, em 1972, “Feito Gente”, em 1975, e “Vamos Que Eu Já Vou”, em 1977), mas todos eles com repertório complicado para o público consumidor médio. Seu nome começou a ser relegado a um segundo plano até que, nos anos oitenta, mergulhando em um cancioneiro de caráter popularesco, ela conseguiu retornar às paradas.

Depois disso, embora sua agenda de shows continuasse acesa, a verdade é que ela praticamente se afastou do mercado fonográfico. Talvez confusa quanto ao caminho que deveria seguir, preferiu dar um tempo. O jejum faz-se agora quebrado com o lançamento do CD sintomaticamente intitulado “Nova Estação”, o qual acaba de chegar às lojas através da gravadora Lua Music. Produzido pelo maridão, o músico Lalo Califórnia, e pelo promissor Thiago Marques Luiz, realmente o disco é bem bacana.

Embora ainda cantando bem, Wanderléa não possui mais o vigor vocal de anos pretéritos. Agora, ela opta por tons mais baixos e registros sussurrantes, uma contrição inimaginável há alguns anos, posto que uma de suas características sempre foi o arroubo interpretativo. Essa mudança, contudo, tem seu lado legal porque canções já revisitadas à exaustão (como “Dia Branco”, de Geraldo Azevedo, e a obra-prima “Mil Perdões”, de Chico Buarque) terminam ganhando novas cores sob sua ótica e consolidando-se como dois dos melhores momentos do disco.

Wandeca (como é chamada no meio artístico) soube escolher músicas que, como ela própria ressalta no texto do encarte, passeiam por todas as suas fases musicais. É assim que se pode ouvir delicado registro do clássico “My Funny Valentine” (de Richard Rodgers e Lorenz Hart) ao lado de um animado medley que reúne “Chiclete com Banana” (de Gordurinha e Almira Castilho), “Adeus América” (de Haroldo Barbosa e Geraldo Jacques), e “Eu Quero Um Samba” (do mesmo Haroldo, agora ao lado de Janet de Almeida) sem que nada soe deslocado. Aliás, é essa pluralidade musical que faz deste CD um dos melhores trabalhos da discografia da artista. Corajosa, Wanderléa resgatou do repertório de Elis Regina a faixa-título (parceria de Luiz Guedes e Thomas Roth) e “A Banca do Distinto” (de Billy Blanco). Já do cancioneiro dos eternos amigos Roberto e Erasmo entraram a conhecida “Todos Estão Surdos” e o obscuro “Samba da Preguiça” (um grande achado!). Outros momentos que merecem destaque são o belo chorinho “Choro Chorão” (de Martinho da Vila”), o ótimo reggae “Salve Linda Canção Sem Esperança” (de Luiz Melodia) e a pérola “Mais Que a Paixão” (de Egberto Gismonti e João Carlos Pádua).

Wanderléa retorna com vontade, buscando reencontrar o seu lugar entre as intérpretes femininas da nossa MPB. Ouça sem medo!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantores: VÁRIOS

CD: “SAMBA SOCIAL CLUBE”

Gravadora: EMI

 

Depois que o samba voltou a ser o assunto da moda, as gravadoras têm corrido atrás do atraso e vêm, constantemente, soltando verbas consideráveis para gravações do gênero. Uma fórmula infalível tem sido a realização de projetos dos quais vários artistas participam, o que geralmente termina por gerar CD’s e DVD’s ao vivo.

O mais recente produto com este direcionamento posto nas lojas resultou de show que aconteceu em julho do corrente ano na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. Intitulado “Samba Social Clube”, foi inspirado em um programa homônimo de rádio que é veiculado todos os sábados e domingos, a partir do meio-dia, através da emissora carioca MPB FM 90,3 ou via internet, pelo portal mpbbrasil.com.

Com direção musical e arranjos assinados pelo experiente Paulão 7 Cordas e coro afinadíssimo formado pelas belas vozes de Clarisse Grova, Elisa Addor e Patrícia da Hora, o disco é composto por quatorze faixas que têm por objetivo fazer um apanhado geral, ainda que (logicamente) superficial, de bons sambas que se encontram enraizados no inconsciente coletivo nacional. Apenas uma das faixas apresentadas é inédita, a canção que dá título ao projeto, inspirada criação composta especialmente por Arlindo Cruz e Marcelinho Moreira, a qual é interpretada por ambos. Já o DVD vem com seis faixas adicionais: a canção-título do projeto em versão instrumental, “Não Sou Mais Disso” (com Almir Guineto), “Mordomia” (com Dudu Nobre), “Da Melhor Qualidade” (com o pessoal do Sururu Na Roda), “O Show Tem Que Continuar” (com o grupo Casuarina) e “Velhas Companheiras” (com Nelson Sargento e Mauro Diniz).

Dentre o elenco estelar selecionado pela gravadora EMI (que encampou o projeto idealizado por Adriano De Martini e Ricardo Moreira) há nomes já bem conhecidos e que se notabilizaram na área do samba: é o caso de Zeca Pagodinho (sempre à vontade, desta feita com a espirituosa “É Preciso Muito Amor”), Leci Brandão (apenas correta em “Sorriso Aberto”), Beth Carvalho (ousada por revisitar a complexa “O Bêbado e a Equilibrista”, que já mereceu registro definitivo de Elis Regina), Jorge Aragão (mostrando uma alegria contagiante em “O Mar Serenou”), Dona Ivone Lara (- que delícia é ouvir essa grande dama do nosso cancioneiro! – em “Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço”), Alcione (mostrando ótima forma vocal na boa e pouco conhecida “Mormaço”) e o grupo Fundo de Quintal (redescobrindo a deliciosa “O Assassinato do Camarão”, grande sucesso da década de setenta dos Originais do Samba).

Nomes que vêm despontando nesse universo sambístico também foram fisgados, como a ótima Teresa Cristina (devidamente acompanhada do grupo Semente, em “Tristeza Pé no Chão”) e Diogo Nogueira (demonstrando incontestável evolução em “Bola Dividida”). E também Roberta Sá que, embora não seja exatamente uma sambista, sempre se mostra receptiva quando convidada para esse tipo de trabalho (convincente, em “Pressentimento”). Nomes não diretamente associados ao samba, contudo, também se fazem presentes, mostrando-se adequados ao projeto. Estão lá: Lenine (em “Esperanças Perdidas”), Luiz Melodia (em “Tristeza”) e Fernanda Abreu (em “Salve a Mocidade”, através da qual merecidamente homenageia a insuperável Elza Soares).

No todo, não se trata de um álbum descomunal. Tampouco há registros arrebatadores a se destacar. A quase totalidade do elenco se equipara nas interpretações, o que, ao final, tem o seu lado positivo, pois termina conferindo um resultado equilibrado ao conjunto da obra. Dá para ouvir, dançar e curtir!

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     Já nas lojas o novo CD do cantor e compositor Vicente Barreto. Intitulado “Vicente”, o trabalho traz doze faixas das quais se destacam uma nova versão de “A Cara do Brasil” (parceria com Celso Viáfora, anteriormente gravada por Ney Matogrosso) e “Roda de Capoeira” (parceria com Paulo César Pinheiro). O violonista Rafa Barreto, filho de Vicente, participa ativamente do álbum, ao lado do tecladista Paulo Calasans e do percussionista Marco Bosco.

 

·                     O excepcional grupo Arranco de Varsóvia acabou de gravar ao vivo CD e DVD centrados na obra de Martinho da Vila. Além de grandes sucessos do sambista (“Casa de Bamba”, “Devagar, Devagarinho” e “Sonho de um Sonho”, por exemplo), o repertório vai apresentar duas canções inéditas (“Nossos Contrastes”, parceria de Martinho com Nelson Sargento) e “Disritmou” (criada com Carlinhos Vergueiro).

 

·                     O próximo disco de inéditas de Caetano Veloso (que inicialmente receberia o título de “Transamba”) deverá agora se chamar “Zii e Zie”, uma expressão em italiano. Programado para chegar às lojas no primeiro semestre de 2009, o novo trabalho trará um repertório eminentemente autoral e de canções inéditas, a exemplo das faixas “Tarado ni Você”, “Lapa”, “Menina da Ria”, “Lobão Tem Razão” e “A Cor Amarela”. A única regravação ficará por conta de “Incompatibilidade de Gênios”, samba antológico de João Bosco e Aldir Blanc.

 

·                     Já se encontra em fase de seleção do repertório de seu segundo CD a cantora Mariana Aydar. A produção será dividida entre Duani e Kassin e o disco chegará às lojas através da gravadora Universal.

 

·                     Outra que se encontra em fase de pré-produção de seu segundo trabalho é a excessivamente cultuada Céu. A produção novamente ficará a cargo de Beto Villares e a cantora quer contar com a participação especial de Luiz Melodia.

 

·                     Esta Coluna deseja a todos os queridos e fiéis leitores um Feliz Ano Novo! Que possamos nos reencontrar a cada semana, sempre com muita saúde, alegria e espírito cristão!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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