MUSIQUALIDADE, por Rubens Lisboa

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantora: SILVIA MACHETE

CD: “EU NÃO SOU NENHUMA SANTA”

Gravadora: EMI

 

Quer se queira ou não, o Rio de Janeiro continua sendo o grande celeiro no que tange à projeção de artistas, especialmente os ligados à área musical. Por isso, fico meio sem entender o porquê de alguns sergipanos (corajosos) tentarem a sorte no sudeste maravilha, optando por Sampa. Nada contra São Paulo, mas o fato é que ali qualquer de nós será sempre mais um na multidão, ao passo que, em terras cariocas, quem cai nas graças de uma fatia de público que tem o poder de formar opiniões, termina tendo a carreira rapidamente alavancada. É claro que, para que isso aconteça, doses de talento, sorte e perseverança também têm que se fazer presentes.

É o caso de Silvia Machete, cantora que, de modo independente, lançou em 2006 o seu primeiro CD intitulado “Bomb of Love – Música Safada Para Corações Românticos”. De imediato, a jovem e articulada artista chamou atenção com a forma alegre e despachada que escolheu para caracterizar o seu trabalho. Seus shows começaram a lotar e logo o seu nome começou a ser comentado aqui e acolá com uma frequência cada vez maior.

Silvia é carioca e morou por uns tempos em Nova Iorque, o que justifica algumas das canções serem cantadas em inglês. Performática, ela sabe prender o público em suas divertidas apresentações nas quais mistura música, encenação e até números circenses. Geralmente envolta por bambolês, pendurada em trapézios e com um figuro exótico e colorido, é do tipo que sabe o que quer. Pode não agradar a todos, é verdade, mas como já profetizou o famoso dramaturgo Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”. Alguns acham que seus malabarismos cênicos terminam prejudicando o bojo do que deveria dar mais atenção, qual seja, a parte musical.

Tolice absurda! Afinada e dona de um timbre bastante agradável, Silvia é um nome que vai dar muito o que falar, até porque se mostra bem diferente da maioria das cantantes que pululam diariamente em cada esquina deste imenso Brasil. Não tivesse tantos atributos, não despertaria interesse da multinacional EMI que acaba de pôr no mercado, nos formatos CD e DVD, o novo trabalho da cantora que leva o sugestivo título de “Eu Não Sou Nenhuma Santa”. O disco traz quatorze faixas nas quais Silvia deita e rola, mostrando uma versatilidade ímpar. Do ótimo compositor Edu Krieger ela ganhou a inédita “Simplesmente Mulher” (já incluída na trilha sonora da recém estreada telenovela global “Caras & Bocas”). Aliás, ele também se faz presente nos vocais da faixa “Curare”, de Bororó. Outras participações especiais ficam por conta de Rubinho Jacobina em “Meu Gato” (de sua autoria) e de Nina Becker em “Girls Just Wanna Have Fun” (de Robert Hazard). Esperta e antenada, Silvia soube pinçar boas canções esquecidas da dupla Roberto e Erasmo Carlos (“Gente Aberta”) e de Hervé Cordovil (“Esta Noite Serenô”). Não por acaso dois “malditos” da nossa MPB também ganham espaço no seu repertório: Sérgio Sampaio e Walter Franco (com “Foi Ela” e “Me Deixe Mudo”, respectivamente). De sua verve autoral, ela mostra, entre outras, “Pé”, “Toda Bêbada Canta” e “Eu Só Quero Saber” (esta uma parceria com Cavassa Nickens). Algumas dessas canções já faziam parte de seu CD de estreia, mas ganham agora nova roupagem em registro ao vivo. No DVD, como de praxe, além de números extras, há ainda as canções “Dr. Sabe Tudo” e “Alzira, Por Que Não Possui It, Please?”.

Silvia Machete é a cantora do momento, embora com toda certeza ela tenha chegado para ficar. Confira!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: CARLOS CAREQA

CD: “TUDO QUE RESPIRA QUER COMER”

Gravadora: INDEPENDENTE

 

Acaba de ser lançado, de maneira independente, “Tudo Que Respira Quer Comer”, sexto CD da carreira de Carlos Careqa. Ator, cantor, compositor e produtor, o artista nasceu em Lauro Muller (SC) e passou sua infância e juventude no Paraná, onde estudou música e teatro, até se radicar em São Paulo, cidade que adotou desde 1991.

Ainda desconhecido do grande público nacional, ele vem ganhando projeção no mercado indie, tanto que já possui canções de sua autoria gravadas por cantoras como Vânia Abreu, Cris Aflalo e Rita Ribeiro, além de assinar parcerias com Chico César, André Abujamra e Arrigo Barnabé. Criativo, como compositor ele alterna momentos basicamente experimentais com outros de respeitável inspiração. Essa dualidade vem se expondo em todos os seus trabalhos e também se faz por denotar no álbum recém-lançado, embora cada vez mais Careqa venha se amoldando ao formato mais tradicional da canção (o que é muito bom). Neste sentido, enquadra-se praticamente a primeira metade do repertório apresentado, o que torna o produto ora em tela afeto a uma aceitação maior que os anteriores.

Canções como a estupenda faixa-título comprovam que, quando não se deixa levar por excessos criativos, ele se mostra um ótimo autor. De melodia aparentemente simples, a canção é daquelas que soam atemporais, emoldurada por uma letra que permite interpretações diversas. Outro excelente momento fica por conta de “Isso Passará”, gerada a partir da ideia esboçada por Mário Quintana em seu conhecido “Poeminha do Contra” e que conta com a participação da cantora Tatiana Parra (aliás, anotem esse nome, pois, mesmo sem nenhum CD ainda disponível, ela promete ser, em pouco tempo, uma das grandes revelações femininas da nossa música). Também a canção “Que Que Cê Qué?” se mostra pronta para ganhar um reconhecimento maior. De construção agradável, ela gruda no inconsciente desde a primeira audição, não tivesse ainda o mérito de trazer a sempre bem-vinda Maria Alcina como convidada. Já Marcelo Pretto (e sua garganta tonitruante a abençoada) faz-se presente na inteligente e debochada “Brasileiro”.

Outras participações especiais ficam a cargo da sempre correta Mônica Salmaso (em “Vinte e Oito”) e do desaparecido Zé Rodrix (em “Vacamor”, que possui letra de Adriano Sátiro, o parceiro mais constante de Careqa). E não há como deixar de ressaltar também “Mal Desnecessário”, parceria póstuma com Itamar Assumpção que, inclusive, tem sua voz sampleada no final da faixa.

Como cantor, Careqa não segue rigorismos técnicos, tampouco sua voz possui uma extensão que o faça se destacar da média. Nada que venha a comprometer o resultado de suas próprias criações pois, esperto, ele sabe multifacetar-se, chegando, em alguns momentos, a causar boas surpresas. Frise-se que os arranjos precisos e inspirados de Mário Manga ajudam-no a isso, transformando-se em pontos altos do novo disco.

Além de saber se cercar de gente que entende do riscado, Carlos Careqa tem incontestável talento. É certo, assim, que ele ainda poderá contribuir – e muito – com o nosso cancioneiro. Então, se você ainda não conhece o trabalho dele, chegou a hora certa de fazê-lo!

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     Para quem curte música instrumental, a boa da hora é que o primeiro CD do terceto sergipano Café Pequeno já está no forno. Por ora sem título definitivo, o álbum deverá ser lançado ainda neste primeiro semestre. Composto por músicos excepcionais (Guga Montalvão ao violão, Júlio Rego na gaita e Pedrinho Mendonça na percussão), o trabalho contará com nove faixas, algumas delas compostas pelos próprios integrantes. Entre homenagens aos artistas Sivuca (“Tempo Sivuca”) e Jaco Pastorius (“Por Jaco”), haverá espaço para releituras de belos temas de autoria de Hermeto Pascoal (“Bebê”), de Manuel de Falla (“Canción Del Fuego Fátuo”) e do conterrâneo João Rodrigues (“Maneiroso”). Quem viver, ouvirá!

 

·                     Sexta-feira e sábado próximos, a partir das 21 horas, será a vez de a banda Maria Scombona se apresentar no espaço Viva Ará. Uma boa oportunidade para mergulhar no universo dos quatro rapazes que vêm, a cada dia, conquistando um espaço maior entre a galera que curte a boa música sergipana.

 

·                     O segundo CD de Mariana Aydar (“Peixes, Pássaros, Pessoas”) acaba de chegar às lojas e conta com a participação especial de Zeca Pagodinho. Produzido a quatro mãos por Kassin e Duani, o álbum traz treze faixas inéditas, dentre as quais “Nada Disso É pra Você” (de Rômulo Fróes e Clima), “Peixes” (de Nenung) e “Tá?” (de Carlos Rennó, Pedro Luís e Roberta Sá).

 

·                     Após cinco anos do lançamento de seu primeiro CD no qual visitou a obra do compositor Nelson Ângelo (“Baiana da Guanabara”), a cantora Rosa Emília acaba de lançar, através da gravadora Lua Music, o seu novo trabalho intitulado “Álbum de Retratos”, desta vez voltando-se para o cancioneiro do poeta Cacaso. São treze faixas nas quais os versos concisos e inteligentes do artista receberam o tratamento melódico de gente do porte de Joyce, Zé Renato e Sueli Costa, entre outros. Rosa canta legal e conhece bem as canções, uma vez que foi casada com o homenageado, precocemente falecido. Há várias participações afetivas que dão um colorido todo especial ao disco, todo ele arranjado somente com violões, guitarras e pianos. Estão lá, por exemplo, Olívia Byington, Filó Machado e Sérgio Santos. Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Perfume de Cebola”, “Clarão”, “Eu Te Amo”, “Dona Doninha” e “Cavalo Marinho”.

 

·                     Música da melhor qualidade é o que se pode encontrar no mais novo CD da cantora Dorina. Intitulado “Samba de Fé”, o trabalho independente foi registrado ao vivo em apresentação realizada na casa de shows Trapiche Gamboa, no Rio de Janeiro, e conta com as participações especiais de Beth Carvalho e Mauro Diniz. Os melhores compositores do gênero estão presentes no repertório que traz como destaques as faixas “Obaxirê”, “Apito no Samba”, “Fidelidade Partidária”, “Saudade Demais” e “Lindo Passado de Glória”, esta uma mais que merecida homenagem à Portela.

 

·                     Aqueles que acham que Carlinhos Brown só gosta de baticuns vão ficar surpresos com o novo trabalho do artista: um disco voltado para o rock. Em breve nas lojas, o álbum será composto por onze faixas e o baiano será acompanhado pela banda Mar Revolto.

 

·                     Integrante do aclamado grupo Los Hermanos, Rodrigo Amarante se juntou a Fabrizio Moretti (baterista do grupo norte-americano The Strokes) e à tecladista Binki Shapiro e formou o grupo Little Joy que acaba de pôr no mercado o primeiro álbum. O som (como não poderia deixar de ser) é pop e reúne onze canções em um repertório basicamente cantado em inglês (a exceção fica por conta da música “Evaporar”). Dentre os destaques estão as faixas No One”s Better Sake”, “The Next Time Around” e “With Strangers”.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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